Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Quem são nossos inimigos? Quais são suas armas e como nos atacam?


Juventude Às Ruas USP

            Estamos em meio a uma grande crise que se expressa nos campos econômico, político, ideológico e que apresenta à juventude de todo o mundo uma perspectiva nada agradável para o futuro. As certezas que existiam na Europa, por exemplo, com as políticas de bem-estar social já desmoronaram de todo. As promessas dos governos populistas de toda a América Latina se provaram grandes ilusões e já não convencem setores massivos que se enfrentam fortemente com os aparatos repressores em todo o continente. No Brasil, a idealização do ‘país do futuro’ caiu por terra e todos os falsos avanços dos anos de governo PT se chocaram com os limites impostos pelos interesses do Capital. Em todo o mundo crescem assustadoramente os índices de violência, principalmente ligados à repressão a movimentos sociais e às opressões, em um claro avanço de ideologias conservadoras.

A crise de representatividade

            O Brasil viveu um momento singular de lutas em junho de 2013, com as ruas sendo tomadas por milhões em todo o país. As revoltas, cujo estopim foi a questão da tarifa do transporte público, se mostraram grandes desfiles heterogêneos de indignações de uma juventude que assiste aos seus poucos direitos serem retirados, sofre com a precariedade dos serviços públicos e sente no bolso os efeitos de uma crise econômica mundial, ao mesmo tempo em que vê grandes escândalos de corrupção ocorrerem sem que a casta privilegiada de políticos sofra qualquer tipo de represália. Com gritos dos mais diversos presos na garganta, milhões de jovens reencontraram na ação coletiva um espaço para que sua voz fosse ouvida.

            A partir das Jornadas de Junho e dos seus ecos no país a ideia de uma crise de representatividade se escancarou. Talvez a única linha que realmente tenha perpassado todas as vozes de junho seja a descrença naquilo que está posto, a compreensão de que a política, no sentido mais corriqueiro do termo, da forma como se faz hoje não dá conta de atender às necessidades da população e que quando falta de um lado, sobra de outro.

            O mote “não me representa” apareceu e aparece na maioria das campanhas por demandas dos mais diversos tipos, principalmente no que tange a questões tabu, defendidas a unhas e dentes pelos setores mais conservadores da sociedade – como é o caso de políticos extremamente reacionários com grande destaque na mídia, como Jair Bolsonaro e afins, defendendo políticas opressoras e violentas. Em consequência, aos poucos foram surgindo as respostas pela positiva, elevando determinadas pessoas a símbolos de lutas. É o caso de algumas figuras públicas de posicionamento mais à esquerda e também com certo destaque midiático, apesar de muitas vezes levantarem bandeiras que ficam aquém da necessidade real da população e que não têm condições de atingir, ou sequer discutem, as reais causas dos problemas, como ocorre com o Deputado Jean Willys, do PSOL. Indo um pouco mais além, percebe-se o aumento de campanhas que se articulam em volta da ideia do “somos todos...”, em um movimento de ocupar simbolicamente o espaço vazio deixado por esse regime cuja representatividade está sendo posta em xeque – campanhas que podem causar enormes polêmicas, como no caso do atentado ao Charlie Hebdo, já que se trata realmente de uma disputa sobre qual o caráter da mudança que deve ser feita em relação a esse regime que se critica.

            A grande questão, no entanto, é: que representatividade é essa que está sendo questionada, quem a questiona e quem ocupa o espaço dessa representação? Não à toa esse debate não está na mídia que alardeia a tal crise. Não interessa a ela dissecar o regime para que compreendamos de fato quem são os sujeitos políticos envolvidos no processo, muito menos assumir que a crise, mais do que de representatividade, é de regime. Mas essas relações não são abstratas e a indignação que levou milhões às ruas, ainda que por pautas diversificadas, não foi uma coincidência ou um surto coletivo de subjetividades.

A democracia dos ricos não nos representa

            A descrença total na casta dos políticos pela compreensão acertada de que estes são privilegiados em detrimento da esmagadora maioria da população e de que governam para os próprios interesses é uma constante em todo o mundo, mas os levantes que a tomam como premissa não têm dado conta de alcançar suas reivindicações. Isso se dá porque toda a crítica tem sido direcionada aos políticos profissionais, ignorando que estes governam seguindo determinadas regras.

Retomando Marx, “O poder do Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.”[1] Ou seja, este Estado que hoje está posto em todo o mundo é um grande balcão de negócios para a burguesia e responde aos interesses dessa classe, e não de outra, consciente e atentamente, sempre disposto a alterar as suas formas de maneira a garantir a sempre crescente exploração sobre a classe trabalhadora. A essas formas chamamos regimes – democracias, ditaduras, monarquias -, e todas as diferenças que existem entre eles respondem às necessidades momentâneas do capitalismo de flexibilizar as próprias dinâmicas para garantir a exploração. Em outras palavras, são diferentes aspectos da mesma ditadura do capital sobre os trabalhadores, que se utiliza de aparatos como as forças armadas e polícias, a justiça, a Igreja, a mídia e toda sorte de instituições para garantir a dominação burguesa.

O Brasil vive a sua fase mais duradora sob um regime “democrático”. Este chega ao Brasil e ao resto da América Latina como instrumento para uma ofensiva neoliberal sobre esses países. Ou seja, a implementação de uma dita “democracia” se dá por interesse da burguesia em um Estado que intervenha cada vez menos na economia, mas que garanta o direito à propriedade de modo a garantir o livre mercado, e que possa utilizar, ou melhor, utilize por via de regra os seus aparatos repressores para conter toda e qualquer tentativa de desvio da ordem.

Tomando como exemplo a postura do PT diante do ascenso operário das décadas de 70-80, que teve seu caráter bastante desviado pela separação das lutas econômicas e políticas que criaram o melhor cenário para o neoliberalismo se firmar na década de 90, vemos como a democracia burguesa se dá, necessariamente, na contramão dos interesses da classe trabalhadora. Para se firmar como alternativa eleitoral dentro do regime, o PT teve de incentivar fortemente e com êxito a conciliação de classes, enfraquecendo a organização pelas bases e tirando do horizonte a perspectiva revolucionária – o que ecoa ainda hoje. Os únicos beneficiados por esse movimento, obviamente, são os burgueses que conseguem avançar no seu projeto de superexploração.

Para além da dominação econômica, a dominação ideológica é fortíssima, e nisso a democracia burguesa é muito eficiente. Mascarado pela ideia de liberdade de expressão, igualdade legal, direitos civis, concessões dadas a partir de pressão de mobilizações pontuais e o próprio processo eleitoral, onde grande parte da população efetivamente vota a cada dois anos, esse regime em nada é democrático. Os representantes escolhidos “pelo povo” governam, não para quem os elegeu, mas para os donos do capital. Nessa “democracia”, a política econômica fica a cargo de funcionários de confiança de empresários e banqueiros, já que não há nenhum tipo de eleição para definir quem vai gerir instituições como o Banco Central ou a Receita Federal, por exemplo. O orçamento público não é debatido a fundo no parlamento e não está nas mãos do povo decidir se quase metade dele realmente deve ser utilizado para o pagamento de dívidas interna e externa. O parlamento brasileiro é caríssimo, redundante e não há nenhum esforço em se esconder a aviltante lista de privilégios dos parlamentares, desde salários absurdamente altos (que os próprios têm direito legal de aumentar) a benefícios de todo tipo, e isso pensando apenas naquilo que está dentro da lei – cuja maior parte é elaborada, não pelo legislativo, mas pelo executivo.

A formação do parlamento é outra farsa da democracia burguesa. Apesar de existir a possibilidade teórica de um partido organizado desde as bases conseguir eleger parlamentares que exercessem seus mandatos em defesa da classe trabalhadora e com a perspectiva de denunciar o jogo de interesses burgueses, a realidade torna essa situação praticamente impossível de acontecer. A disputa com os partidos da ordem dentro dos meandros do regime é impraticável para um partido realmente comprometido com os interesses dos trabalhadores e com independência financeira, já que este é um jogo que envolve milhões – fora a visível disparidade entre, por exemplo, o alcance e o tempo da propaganda eleitoral entre partidos “grandes”, ou melhor, altamente comprometidos com os interesses burgueses, e “pequenos”, dentre eles os partidos da esquerda tradicional, como o PSTU.

Esse regime “democrático” também se apoia nos aparatos judicial e policial, além do parlamento, para manter a dominação burguesa. O dito “país da impunidade” só permite que saiam impunes os privilegiados; ao setor mais pobre, e principalmente negro, da população a lei é aplicada duramente, superlotando os presídios (sendo que boa parte da população carcerária já cumpriu toda a sua pena ou sequer foi julgada), matando cotidianamente nas periferias em nome de uma pretensa “guerra às drogas” e, agora, desejando encarcerar adolescentes de 16 anos por meio da aprovação da redução da maioridade penal.

Todo esse quadro nos aponta claramente: a democracia em que vivemos é uma democracia dos ricos. Em nada nos beneficia, não porque ainda não é madura o suficiente, como tentam nos fazer pensar, mas porque nunca teve essa perspectiva. Ela surge e se articula unicamente para garantir uma maior exploração sobre a classe trabalhadora. A burguesia a defende não por ser uma classe “defensora da liberdade”, mas, pelo contrário, porque é a melhor maneira de seguir podando a liberdade da maioria esmagadora da humanidade e de seguir espoliando aqueles que tudo produzem no mundo e que nada possuem além de sua força de trabalho, cuja venda está diretamente relacionada à sua existência em meio à ditadura do capital. Ao menor sinal de que não há mais para onde expandir seus lucros dentro desse regime, os burgueses não terão pudor algum em destruir a dita “democracia” que construíram.

Por uma juventude revolucionária

            A juventude deve se colocar à disposição das fortes lutas que se apresentam e se apresentarão. E para essas lutas serem efetivamente vitoriosas é preciso ter clareza: não devemos ter nenhuma confiança nos governos, sejam eles assumidamente reacionários, sejam os travestidos de “populares”, que se utilizam hipocritamente de um discurso de “mal menor” quando implementam ataques dantescos à classe trabalhadora e à juventude. Dos partidos da ordem nada podemos esperar, e não virá de nenhum deles uma “nova política”. A pretensa polarização que hoje se apresenta no país é uma falácia: governam todos em prol da burguesia e seus interesses, e a disputa é apenas entre quais serão os agentes dos ataques – eles virão independentemente da sigla que os acompanhe. O rechaço à corrupção e aos corruptos não pode abrir espaço para que se deposite qualquer tipo de esperança em outros atores do mesmo teatro burguês.

             Por dentro da democracia burguesa a juventude e a classe trabalhadora não encontrarão nenhum espaço para melhoria efetiva de suas condições de vida. Qualquer aparente avanço que possa ser arrancado com muita luta gerará alguma perda em outro canto. Também não há nenhuma vitória efetiva que a juventude possa alcançar sozinha: sem se aliar à classe operária em nada avançaremos. O sistema que nos nega direitos básicos tem como premissa o lucro sempre crescente, e isso se dá por meio de uma exploração cada vez maior daqueles que tudo produzem. O sujeito da transformação radical desta sociedade é a classe trabalhadora, e a juventude que deseja essa transformação deve construir uma forte aliança com ela.

            As Jornadas de Junho nos dão uma lição: a juventude tem, sim, força e vontade para se levantar. Mas se levantar, apenas, não basta, é preciso ter um programa que oriente essa luta: um programa revolucionário. As soluções para os problemas que se apresentam e nos indignam não existem dentro do sistema capitalista; é preciso lutar pela derrubada violenta das condições sociais existentes. E pra isso é preciso que a juventude, aliada fortemente com a classe trabalhadora, tome para si a convicção e a ambição que Trotsky tão brilhantemente nos colocou: “A vida é bela. Que as futuras gerações a livrem de todo mal e opressão, e possam desfrutá-la em toda sua plenitude.”



[1] MARX e ENGELS. “Manifesto Comunista”, São Paulo: Boitempo, 2010. In: LANFREDI, Leandro. Apontamentos para avançar da crítica aos “políticos” à crítica da democracia dos ricos. Luta de Classes – Revista de política e cultura, no2, 2014.

Legalização das drogas já! Sob controle operário e popular!


Juventude Às Ruas USP

Constantemente vemos os governos dos ricos interferirem em nossos corpos e não permitirem que tenhamos autonomia sobre o que fazemos com aquilo que somos. A liberdade mínima e democrática de sermos livres para decidir o que fazer com nossos corpos, como a liberdade de alteração de consciência através do uso de substâncias psicoativas, é limitada tanto por padrões morais quanto por leis conservadoras que proíbem determinadas substâncias.

A farsa da proibição

            A proibição das drogas tem um processo histórico mundial de opressão e exploração. Desde o fim do século 19 a burguesia imperialista passou a fazer uma ampla política de controle social sobre os povos que eram explorados pela produção capitalista a partir do novo processo de industrialização e divisão internacional do trabalho. Aquela erva fumada pelos latinos e asiáticos, aquele pó que os africanos cheiravam, o ópio dos orientais, tudo isso era propagandeado como uma grande ameaça à sociedade branca e cristã, especialmente norte-americana imperialista. Porém, a proibição não passava de controle cultural, social e político sobre os povos oprimidos que eram explorados nas fábricas do império, sustentada pela propaganda ideológica sobre as massas dos “males das drogas”.

O grande discurso do “combate às drogas” não passa de uma retórica hipócrita por parte do imperialismo estadounidense para vigiar as semicolônias como o Brasil, e a partir desta “guerra ao narcotráfico” encontrar o seu plano ideológico para financiar a repressão e massacre nestes países. As burguesias nacionais, incapazes de qualquer distanciamento do império, são grandes interessadas em tal processo repressivo, e historicamente vêm usando o combate às drogas e aos seus traficantes como principal discurso para a militarização das periferias e favelas, que tenta legitimar o genocídio da juventude pobre e negra. A violência existe por conta da proibição política destas substâncias, e não por conta das substâncias em si.

O mercado lucrativo do narcotráfico

Através da lógica proibicionista colocada em prática há tantos anos, os poderosos encontraram uma fórmula para ao mesmo tempo em que reprimem os pobres com a desculpa do combate às drogas, também terem como de lucrar com todo o comércio ilegal do narcotráfico. Sabemos, por exemplo, que o comercio das grandes fabricantes de armas passa em grande parte pelas rotas do comércio ilegal de drogas, financiando as guerras e genocídios ao redor do mundo, especialmente nos países mais pobres. O mercado clandestino das drogas também é onde os grandes empresários lavam seu dinheiro sujo, com contas bilionárias nos países de paraíso fiscal.

Existe ainda uma divisão internacional da produção bem definida entre os capitalistas do mercado de drogas, em que na Europa é comum que se produzam as drogas com mais tecnologia agregada, enquanto que em países como Colômbia, Afeganistão e Brasil se localizam as plantações de drogas de baixo valor agregado. Os capitalistas, aliados aos seus políticos corruptos, desenvolvem todo um sistema de comércio ilegal de drogas em que na “ponta” estão parte de suas vítimas, afinal, o “aviãozinho” das favelas brasileiras, ou a juventude pobre e negra que passou por amplos processos de desemprego e encontrou no tráfico uma atração econômica, tem como resposta desta mesma sociedade que o criou, a morte ou prisão por parte das forças repressivas do Estado. No Brasil, o genocídio tem números dentre os maiores do mundo e a política reacionária avança com as recentes tramitações da redução da maioridade penal no congresso, que propõe o aumento da população carcerária que já figura entre as três maiores do mundo, propondo também um fim cada vez mais rápido à vida da juventude pobre e negra do país.

Devemos considerar ainda o controle técnico e científico que possuem os grandes capitalistas sobre a produção de drogas mundial, onde, por exemplo, a patente da heroína pertence a Bayern e a do LSD à Roche, duas das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, que se utilizam disso para obter o controle das pesquisas e técnicas de produção dessas substâncias. Tal controle estar longe das mãos dos trabalhadores resulta no que vem sendo a política de drogas nas ultimas muitas décadas: uma limitação irracional do desenvolvimento de possibilidades medicinais e recreativas dessas substâncias e o uso sem conhecimento dos efeitos e propriedades de cada droga por parte da classe trabalhadora. Este distanciamento do produto faz com que possam surgir drogas de controle populacional e extermínio, como o Crack. Caso o conhecimento, a produção, distribuição e consumo estivessem sob controle dos próprios trabalhadores, não faria sentido existir drogas de destruição, mas sim, poderíamos avançar em uma utilização saudável das substâncias psicoativas.

O desconhecimento das substâncias por parte dos trabalhadores e da juventude faz com que nos pareça normal a legalidade do álcool, cigarro, café, açúcar e diversas outras substâncias psicoativas, mas não a maconha, cocaína, LSD etc. Podendo racionalizar esta produção, veríamos também os efeitos destruidores que o álcool provoca na sociedade, com as brigas de bar, acidentes de transito, problemas graves de saúde e etc. Enquanto que por outro lado, sabemos de alguns efeitos bem menos nocivos nos casos da maconha ou do LSD, por exemplo. Porém, a medicina e suas pesquisas de hoje não querem saber de bem-estar, mas sim, buscam apenas o lucro e a mera sobrevivência do trabalhador, para que ele possa ter a saúde mínima para continuar produzindo. Portanto, drogas que são contraditórias ao ritmo de produção capitalista, ou que podem ser utilizadas para ajudar que alguns tratamentos sejam menos nocivos ao corpo, não interessam aos olhos de lucros dos grandes capitalistas, que regem a proibição junto de seus políticos e enriquecem com o tráfico mundial.

Legalizar, estatizar e controlar!

É por conta de todo este cenário absurdo do proibicionismo mundial, por conta do genocídio aos povos oprimidos ao redor do mundo, e para lutar contra o lucro de sangue destes capitalistas, que devemos lutar pela imediata legalização das drogas, não mais nas mãos da propriedade privada e dos grandes monopólios, mas controlada pelos trabalhadores e pela população, através de comitês de base que definam a produção, distribuição, preço e educação sobre as drogas. Precisamos construir uma forte aliança entre os estudantes das universidades para o desenvolvimento de pesquisas junto aos trabalhadores do setor farmacêutico, em busca das melhores soluções medicinais e recreativas dessas substâncias. Uma aliança também dos estudantes que possam prestar atendimento social, médico e psicológico para todos os dependentes dedrogas produzidas para dizimar o povo pobre, que viciam as pessoas por conta da própria miséria material e subjetiva que o capitalismo os impõe. É necessária uma ampla mobilização anti-imperialista que retire as bases norte-americanas da América latina e coloque em prática um processo de expropriação dos bens dos grandes traficantes e cartéis de drogas, revertendo o dinheiro para a pesquisa e desenvolvimento da produção estatal sob controle operário e popular, dando um basta aos governos aliados dos grandes cartéis do tráfico mundial, como no caso mexicano. Para conquistarmos este programa, devemos lutar pelo fim das polícias, impondo um fim ao genocídio da população pobre e negra em nosso país.

A ANEL, que é uma entidade nacional independente dos governos e da burguesia, tem a importante tarefa de lutar pela legalização das drogas sob controle operário e popular. Convidamos todos ao congresso da ANEL em Campinas, a partir de 4 de Junho, para também debatermos as questões das drogas e organizamos a luta pela legalização. Assim como convidamos para a Marcha da Maconha de São Paulo, a ser realizada no próximo dia 23 de Maio, no vão do MASP.

Posicionamento da Juventude Às Ruas sobre cotas



A mobilização que os estudantes negros e negras, juntamente com o conjunto do movimento negro vem tocando há anos e nesse momento ganha mais força, escancara o racismo estrutural presente na USP: uma universidade elitista e branca onde ofensas racistas são pichadas no banheiro da EACH, professores na sala de aula ainda transmitem, em pleno século XXI as teorias do racismo científico, dizendo que os negros têm uma capacidade cognitiva menor, onde os negros ocupam os postos mais precários de trabalho e somos nós os mais atingidos pelo desmonte que o reitor e o governador pretendem implementar. Uma universidade fundada pelos filhos da elite cafeeira do estado, uma classe dominante que faz homenagens aos bandeirantes que caçavam índios e escravos no meio da floresta e que não tem uma homenagem aos grandes heróis negros e negras. Logo, a primeira função que a reivindicação de cotas raciais cumpre é a de desmascarar o racismo.

É impossível compreender até o fim o racismo por fora de encará-lo como uma política que é imposta e propagada pela burguesia que, por um lado, impõe a dinâmica econômica que a favorece concomitantemente à ideologia que a sustenta no poder. Por outro, os trabalhadores que, carregados da ideologia burguesa, vende sua força de trabalho e luta pela sua sobrevida. No mundo capitalista, nada existe a não ser que gere exorbitantes lucros. O racismo institucional impede formação mais qualificada de negros e negras, delegando-os postos de trabalhos precários e mal remunerados e rebaixa os salários de conjunto dos trabalhadores, já que há um enorme mercado de homens e mulheres que podem trabalhar por um preço muito menor. Se não houvesse lucro sobre o racismo, este não se manteria.

A  mobilização por cotas raciais nas universidades públicas é um exemplo de como o racismo pode se deixar esconder por traz de um falso mito de democracia racial, transferindo o resultado de uma política de mais de 500 anos de genocídio e descaso social em mera incompetência do povo preto. A USP é de longe a universidade mais racista do país, se recusa implementar até mesmo a chamada Lei de Cotas, programa federal de cotas nas universidades públicas. Há pouquíssimos negros estudando na nossa universidade devido a anos de educação precária e a um filtro social altamente eficaz: o vestibular. Dos que entram, menos ainda seguem seus cursos, uma parcela ainda mais minoritária avança para a pós graduação e raros chegam a ser professores.

A maioria dos negros da USP só entram na sala de aula para limpar o nosso chão e servir estudantes e professores, como trabalhadores terceirizados, em sua maioria mulheres. O trabalho precário dentro da universidade aumenta conforme avança sua crise financeira, via sobrecarga dos trabalhadores efetivos que permanecem e via terceirização.

A atual conjuntura nacional de crise na educação se expressa também pra dentro dos muros da maior universidade do Brasil através de cortes nas bolsas de moradia e pesquisa, na dificuldade enorme de se conseguir vaga no CRUSP, demissão de 1500 trabalhadores, no fechamento de um bandeijão, nos cortes de serviços do HU, não abertura de vagas nas creches, salas de aulas super lotadas, na precarização no regime de contratação de professores... Os resultados podem ser sentidos por todos que estudam e trabalham na USP, seja na qualidade de seus estudos, nas condições pra se manter estudando, na sobrecarga, doenças e assédio moral sofrido pelos trabalhadores.

Mas o setor de estudantes que mais sofrem os efeitos do desmonte da universidade e sucateamento da educação são os negros e negras. São aqueles que, mesmo com as dificuldades impostas por uma sociedade machista, racista e lgbtfóbica conseguem furar o filtro social do vestibular, conquistam uma vaga e logo de cara vêm seu sonho de ter uma educação de qualidade ir por água abaixo, ao passar pelo segundo filtro social, a falta de permanência.

Neste cenário de boicote histórico as nossas demandas, nós estudantes negros e negras resistimos e damos voz aos milhões de negros, negras e indígenas que financiam a universidade na qual nunca adentrarão sem que lutemos. Neste sentido, cotas raciais representa o mínimo necessário e urgente para a reparação aos irmãos e irmãs que permanece insistentemente sem ser efetivada.

Desde o começo do ano a Ocupação Preta vem protagonizando a luta pelo direito dos negros à educação pública de qualidade impondo através de ocupações nos espaços acadêmicos a discussão de cotas.

Nós da Juventude às Ruas acreditamos que a luta por cotas raciais é uma demanda extremamente necessária e deve estar diretamente ligada à luta pela defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade a serviço da classe trabalhadora, pois essa corre risco de extinção. É uma luta que precisa ser levada com força por meio da unidade dos estudantes e os trabalhadores, que colocam esta universidade pra funcionar em sua maioria, negros que sofrem na pele todo dia o racismo velado, explícito e institucional. Devemos nos organizar em torno de pautas e interesses em comum para golpear a reitora e o governo do Estado num só punho. A ocupação do Conselho Universitário no dia 14/05 foi uma demonstração importante da força de nossa unidade.

Uma luta sem unidade só pode nos conduzir ao isolamento político dentro e fora da universidade e repressão aos lutadores por parte da reitoria, como pretende fazer agora o reitor Marco Antonio Zago, ao ameaçar punir estudantes e funcionários que estavam presentes no dia da Ocupação do Conselho Universitário, reivindicando que fosse feito a discussão sobre Cotas. É fundamental que o movimento dê uma resposta a esse ataque e não deixe que a reitoria continue implementando sua política de repressão aos lutadores.

Estamos ao lado do movimento negro no combate aos setores de direita que organizam campanhas contra as cotas e entendemos a importância do movimento negro organizado que elaborou o programa de cotas da Frente Pró Cotas. Apesar de acharmos, diante do atual cenário do país, ser extremamente necessário reivindicar cotas, entendemos isto como o princípio de uma reparação histórica aos negros que não se esgota na educação tampouco na universidade, pois cotas apenas não resolvem os problemas dos negros que sequer completam a educação básica. Ou seja, cotas deve estar atrelada às demandas de democracia universal, como educação para todos. Por isto levantamos um programa de cotas raciais que se choca diretamente com os interesses da burguesia e nos leva a questionar a lógica capitalista na educação que a tem como mais uma mercadoria, defendemos o fim do vestibular e estatização das universidades privadas sob controle dos funcionários e estudantes.

Nas universidades se faz necessário levantar um programa de cotas proporcionais ao número de negros/negras e indígenas de cada estado brasileiro não só para que contemple um maior número destas populações, sobretudo os mais marginalizados, mas, acima de tudo, para impor no espaço da universidade a contradição que se expressa em toda a sociedade. Contradição que, ao colocar a mesma proporção de negros e brancos, acirra a disputa do conhecimento produzido pela universidade. E a auto-declaração é um incentivo à afirmação do povo negro para procurar disputar o espaço acadêmico e combater o racismo estrutural que se expressa desde a composição social de trabalhadores e estudantes até o currículo que nega nossa história de luta e resistência e a pesquisa e extensão que não serve aos interesses dos trabalhadores e sim das empresas privadas.

O movimento estudantil precisa retomar seus métodos de luta baseados na democracia operária tomando pra si as demandas daqueles que não podem sequer pisar na universidade. Impulsionar a luta dos negros por reparação, colocada hoje mais explicitamente pela via das cotas, é cumprir este papel de tribuno do povo. Pois pela precarização do trabalho, o povo negro está furtado da possibilidade de organizar suas demandas através de um aparato político centralizador, passando por dentro da luta de classes. E esta situação pode nos fazer confiar e nos aliar a setores da sociedade que não estão ao nosso lado. Pode a burguesia entregar aos negros e negros, depois de séculos de expulsão do ensino básico para forjar mão de obra semiescrava para o trabalho precário, ensino laico, gratuito e de qualidade desde a infância até a vida adulta?

Entretanto, devemos ter plena consciência que fazer justiça aos pretos e pretas significa fazer uma transformação radical na sociedade, que vai desde a reforma agrária e urbana até o fim da violência policial e do sistema prisional. E a luta por melhores condições na educação para os pretos não pode estar desligada de todas as outras, porque a falta de moradia, o genocídio da população preta, principalmente de sua juventude, seu encarceramento, a necessidade de trabalhar desde cedo, a ocupação dos cargos mais precarizados, etc, fazem parte do conjunto de fatores sociais que tiram os jovens pretos e pretas das escolas desde a cedo e que não permitem que os mesmos entrem nas universidades, ou sequer vejam o ensino superior como algo possível. Temos que seguir o exemplo de Zumbi dos Palmares, Malcolm X, Panteras Negras, e tantos outros que se armaram contra a opressão ao povo preto. É preciso entender que nós, pretos e pretas, devemos lutar pelo necessário, não pelo possível na legalidade de um poder que nos aprisiona, e que nossa luta deve ter como norte a certeza de que só seremos livres com a libertação de toda a humanidade, com o fim da exploração da classe trabalhadora.