O grupo de estudos Cultura e Marxismo realizou no
dia 24/02 uma atividade de calourada sobre literatura e sociedade tendo como
viés a questão da mulher. Foi usado o livro Quarto
de Despejo, da autora Carolina Maria de Jesus. Usamos alguns dos dias do
diário de Carolina para apresentar o livro aos estudantes e problematizar as
questões políticas que ele abarca.
A primeira problemática a ser debatida se deve ao
fato de ser um livro de extrema importância por denunciar as contradições da
sociedade da época como também por expor aspectos fundamentais da cultura e
organização social brasileira que vêm sendo reproduzidas até os dias de hoje e
não estar presente na academia. Como é selecionado o cânone que lemos na
universidade e porque foram questões abordadas.
É evidente o caráter de classe ali exposto. A
autora relata seu cotidiano como moradora negra da favela do Canindé e dá
início a um debate de qualidade sobre aspectos cruciais da vida
em comunidade. O fato de ser mulher, mãe de dois filhos – sendo eles de
gêneros diferentes – abriu a oportunidade de pensarmos a vida de uma catadora
de lixo na sociedade capitalista e como a marginalização, já tão naturalizada,
tem consequências materiais e subjetivas. Seus relatos denunciam as opressões,
como o racismo, apontando seus desdobramentos e consequências desde a
escravidão.
Foi possível discutir a sociedade de classes, a
questão negra, o patriarcado e o machismo escancarado em algumas relações
marcadas pela violência doméstica. Traçar paralelos entre o passado e o
presente do Brasil dado a infeliz continuidade desta realidade que assola a
população. Concluímos não só as questões políticas e sociais passíveis de análise
pela incrível obra de Carolina Maria de Jesus como a necessidade de intervir
para modificar e erradicar questões como a fome, tão tratadas na obra, comuns a
milhares de famílias como a da autora.
Nossa
proposta com o grupo de estudos é discutir a sociedade em que vivemos e o que
faz com que alguns dos aspectos mais delicados e fundamentais para sua
constituição sejam negligenciados nas recorrentes discussões teóricas em sala
de aula e quais suas consequências na formação política dos alunos. Chamamos,
portanto, todos e todas para as discussões semanais. Política pode e deve ser
feita dentro e fora da sala de aula.
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