segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Uma matemática que só o filho do prefeito entende

por Nelson Fordelone Neto, estudante de Letras da USP



Frederico Haddad, filho do prefeito Fernando Haddad, escreveu, há poucos dias, um extenso texto de polêmica sobre o passe livre, defendendo o aumento da passagem para R$ 3,50.
A título de exemplo, falemos apenas da Viação Santa Brígida, que atende a região Noroeste e teve lucro líquido de R$ 7.346.690 (sete milhões, trezentos e quarenta e seis mil, seiscentos e noventa reais) em 2012. É um exemplo ainda modesto, se comparado ao lucro de R$ 39.680.300,00 da Viação Campo Belo no mesmo período.
Seus modelos urbanos mais recentes, como o Caio Millenium Vip, são de 2003, o que no varejo custa cerca de 50 mil reais. Para efeito de absurdo, estimemos cada um a 100 mil reais. Este valor, portanto, cobriria 73 novos ônibus apenas em 2012. Consideremos que o lucro caia pela metade, e ainda seriam 36 novos ônibus, renovação de cerca de 5% da frota. Quem pega ônibus lotado sabe a falta que fazem.
Seus motoristas e cobradores, que consomem nas palavras de Haddad, 50% do orçamento, têm média salarial de R$ 1.541,70, em valores atualizados com o reajuste de 2013. 4.764 trabalhadores com esta média salarial, portanto, poderiam ser custeados em seus salários novos apenas pelos lucros antigos. 2.382, se pensarmos nos encargos trabalhistas os quais o empresariado tanto lastima. Mais de 1300, se a taxa de lucro fossem os "desejados" 10% (o valor que o prefeito Haddad declara que busca que as empresas aceitem diminuindo do valor atual). A Santa Brígida possui aproximadamente 3.500 colaboradores, ao todo.
Para Haddad, é absolutamente natural que um punhado de acionistas detenham o equivalente a supostamente um quinto do que é gasto em salários. É desejável que a sexta parte do valor pago ao total dos trabalhadores corresponda ao orçamento de pouquíssimos proprietários que não utilizam o serviço, não organizam as linhas, não conhecem os percursos, nem o equipamento e não representam, enfim, nenhum interesse para além do lucro ao mediar - ainda sob a forma de monopólio - o direito à cidade.
Haddad acha razoável que a população não tenha acesso aos valores e detalhes das transações realizadas, as licitações, salários e contratos diversos. E sem nenhuma cerimônia, dá como verdade a correção da auditoria realizada por técnicos que sabem melhor do que nós o que é ou não aceitável na administração de nossos interesses, embora não nos ofereçam claramente nem seus critérios, nem seus resultados. À contrariedade, respondem com bombas, tiros e difamação pública.
Em matemática simples, se o aumento é de aproximados 16% e o lucro gira em torno de 18%, sem acrescer um único centavo nos gastos públicos, sem congelar salários, sem demitir ninguém, ainda sobrariam R$ 816.298,89 limpos na mão de meia dúzia de parasitas.

Estamos iniciando uma nova onda de lutas contra os ataques promovidos pelos empresários e seus governos. A única saída para garantir aos jovens e ao povo pobre o direito à cidade, aos hospitais, à arte, diversão e à vida, enfim, é nos lançarmos em aliança com os trabalhadores contra a corrupção e os lucros, tomando em nossas mãos o controle do transporte estatizado e em nossos dentes a primavera.

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