quarta-feira, 9 de julho de 2014

AS DIREÇÕES PRÉ-JUNHO

Uma polêmica aberta com PSTU, PSOL e o Levante Popular da Juventude, que rompe com a greve, mas não rompe com a Dilma.







             A Universidade de São Paulo tem passado nas últimas semanas por uma das maiores greves de sua história. Com dezenas de unidades paralisadas por diversos campi espalhados pelo estado, com unidades que há mais de 20 anos não paravam, como o Hospital Universitário. Com um comando de greve fortalecido que vem dirigindo a mobilização desde as bases, os funcionários da USP vêm sendo ponta de lança desse movimento. Mesmo com o CRUESP se mantendo intransigente nas negociações, essa fortaleza construída pouco a pouco pela força independente dos trabalhadores continua erguida e promete ultrapassar o mês de julho com a mesma força de antes. Diante desse decisivo cenário, a entidade representativa dos estudantes, o DCE, vem boicotando espaços abertos e democráticos do movimento e implementando sucessivas tentativas de implosões desses espaços, se retirando de dois desses fóruns, um em um comando de greve e outro em uma Assembleia Geral, e desde então não participando de outras instâncias do movimento estudantil.
                    Nós da Juventude Às Ruas queremos problematizar com o conjunto do movimento estudantil da USP e das outras duas estaduais paulistas as atitudes da atual gestão do nosso DCE. Na verdade não se trata de nada novo. Nos últimos anos vimos as mesmas correntes que hoje compõem a atual gestão do DCE, sendo elas RUA, Juntos! e PSTU, se retirando de Assembleias quando encaminhava-se alguma questão política que eles discordavam. Em uma das primeiras reuniões do comando de greve, quando os espaços abertos do movimento ainda estavam cheios, com delegados que representavam mais de 1500 estudantes presentes em assembleias de curso, o DCE decidiu se retirar após uma votação que eles discordavam. O comando deu continuidade e votamos a mesa da Assembleia Geral da semana seguinte, e o DCE quase implodiu aquela Assembleia por discordar da composição da mesa. Dias depois, na faculdade de Direito do Largo São Francisco, novamente os coletivos Juntos! e PSTU que compõem a gestão do DCE deslegitimaram um fórum legítimo do movimento estudantil se retirando da plenária antes mesmo de ocorrerem falas. Após esses acontecimentos, Juntos!, RUA e PSTU não participaram dos espaços abertos do movimento, como comandos de mobilização ou chamar Assembleias Gerais. Não vimos até agora nenhuma nota pública esclarecendo os acontecimentos.
          O movimento estudantil da USP deve se organizar frente a tudo o que vem acontecendo! Estamos diante de uma crise orçamentária que impacta profundamente a conjuntura das universidades públicas e que fez deflagrar uma greve histórica na USP, Unesp e Unicamp! Há uma mobilização surpreendente por parte dos trabalhadores da Universidade!  Estamos em um momento político no qual trabalhadores e jovens do Brasil inteiro se levantam por seus direitos! Em contrapartida, vemos claramente um avanço na repressão por parte da polícia e dos governos (como a prisão de Fábio Hideki e as 42 demissões do Metrô) e a Copa do Mundo a cada dia que passa extrapola ainda mais as contradições sociais no país. Desde o começo da mobilização, no final de Maio deste ano, nós da Juventude Às Ruas viemos construindo os espaços abertos do movimento com o intuito de levar a frente as pautas estudantis em unidade com os trabalhadores. A única maneira de fazer frente aos ataques que a reitoria desferiu (cortando bolsas, demitindo terceirizados, congelando contratações, cortando pesquisas, etc.), seria através da mobilização organizada a partir das assembleias de base. Defendemos nessas assembleias a necessidade de se abrir o livro de contas da universidade e das fundações privadas; a construção de um novo estatuto universitário, que coloque em xeque a atual estrutura de poder arcaica e antidemocrática, que concentra suas forças no reitorado e no Conselho Universitário; a democratização radical do acesso, através da implementação imediata de cotas raciais proporcionais ao número de negros no Estado e do fim do vestibular e da estatização das universidades privadas, fazendo com que todas as vagas particulares hoje se transformem em vagas públicas; defendemos a permanência para toda a demanda estudantil e a devolução imediata dos blocos K e L; a construção de creches para mães estudantes e trabalhadoras, de acordo com a demanda.
        Mas infelizmente a atual gestão do DCE atuou contra a construção e massificação da mobilização estudantil desde o começo do ano. Alguns meses depois das mobilizações de junho, em ano de Copa, quando lutas em respostas aos cortes de Zago eram uma necessidade óbvia, a primeira assembleia do ano aconteceu no fim de maio e votou greve sem qualquer tipo de preparação. Na assembleia seguinte, o DCE votou contra a conformação de um comando de greve com delegados eleitos nas bases para organizar e ampliar a greve, proposta defendida por nós, outras correntes e centenas de estudantes independentes que felizmente foi vitoriosa. Hoje, barra qualquer possibilidade de organização mínima dos estudantes ao votar sucessivamente contra a realização de Assembleias de curso (como na Letras, mesmo quando havia cerca de 100 pessoas presentes na plenária da noite), boicotar as deliberações de Assembleia Geral (como os atos em defesa dos metroviários), e implodir os espaços que deveriam servir de ferramenta para organizar a luta.
                   Esse tipo de atitude é recorrente por parte do Juntos! e do PSTU (e o RUA acaba indo atrás) quando eles não conseguem controlar o movimento, quando a mobilização ultrapassa e supera suas direções. A resposta que dão é que 500 pessoas em uma Assembleia não vão derrotar o governo do Estado. Também achamos que não, por isso construímos a Assembleia da melhor maneira possível para que a próxima seja muito mais cheia. Por isso vamos aos atos por cotas, atos em defesa da EACH, atos pela readmissão dos metroviários. Por isso tentamos levar a frente às deliberações de Assembleias de base e construímos o comando de greve. O movimento estudantil caminha para um questionamento importante acerca do acesso e da permanência na Universidade, exigindo Cotas raciais e permanência para toda a demanda. A aliança com os trabalhadores da Universidade e outras categorias só aumenta. E a gestão do DCE vem sucessivamente desrespeitando as centenas de estudantes sinceros que veem na mobilização uma saída para os problemas estruturais da Universidade, e mesmo da sociedade.
              Na Copa está tendo luta, mas não das correntes que hoje compõem o DCE. Enquanto dezenas de ativistas estão sendo presos em atos de rua, metroviários e rodoviários estão sendo demitidos, estudantes da USP apanhando violentamente da polícia nos atos de rua, o DCE prepara-se para as campanhas eleitorais de fim de ano. Não é essa entidade que queremos!
                  Como não podia ser diferente, O Levante Popular da Juventude não só tem postura semelhante ao DCE frente a recente mobilização estudantil, como declara isso abertamente e tenta transformar a traição em virtude para, como sempre, se colar com os estudantes que são contra o movimento estudantil. Na carta eles dizem que os espaços como Assembleias Gerais e comando de greve estariam "distorcendo a real correlação de forças políticas” existente na base da universidade. Na prática isso significa boicotar esses espaços e construir o CCA (Conselho de Centros Acadêmicos, uma espécie de parlamento estudantil onde o poder de decisão é restrito aos centros acadêmicos). A questão é, porque a organização por cima seria mais eficaz do que a mobilização em Assembleias Gerais sendo que as primeiras Assembleias continham cerca de 1000 estudantes? Porque os CA's seriam mais aptos a mobilizar as bases dos cursos agora, no final do semestre e não antes? Porque as assembleias com 500 pessoas não eram mais suficientes para o LPJ e o DCE? Achamos importante costurarmos a mobilização com os Centros Acadêmicos, inclusive fazer um chamado amplo que aos CA's de cursos não mobilizados a fazerem assembleias de curso e construírem a greve desde a base. Uma coisa não pode ocorrer em detrimento da outra, mas infelizmente é o que vem ocorrendo. Essas correntes vivem no pré-junho, no período anterior à greve dos garis, têm uma dificuldade enorme de ver que a organização superestrutural, por cima, distante das bases, não encontra mais espaço. A consciência da juventude e dos trabalhadores mudou e todos querem ser sujeitos da transformação. Nós da Juventude Às Ruas sempre defendemos a organização desde as bases e é por meio destes espaços que os estudantes fazem sua política, pois neles está garantida a democracia direta em que se apoia o movimento estudantil. Mesmo quando estes espaços não representam toda a diversidade da base, eles permanecem sendo nossas ferramentas mais avançadas de organização, portanto, nossa luta se direciona para a ampliação destes espaços a todos os estudantes da USP, para que estes estudantes se sintam representados e tomem os fóruns do movimento para si, os legitimando, e não o contrário, que é romper com a auto-organização dos estudantes em plena greve dos três setores, numa tentativa de deslegitimar os fóruns do movimento estudantil.

O Levante Popular da Juventude não rompe com o governo Dilma.


    Enquanto o PSOL e PSTU atuam como entrave para a mobilização nas estaduais paulistas, o Levante Popular atua em apoio envergonhado ao governo federal. Eles rompem com a greve da USP, mas não rompem com a Dilma. Rompem com as instâncias do movimento estudantil para conter as mobilizações grevistas durante a Copa, pois sabem do perigo que representa uma greve forte na USP para o governo do PT, ainda mais se essa greve avança e dá novos exemplos de luta às outras categorias, como fizeram os Garis do RJ no carnaval, que abriram espaço para uma ascensão grevista em abril e maio. Rompe com as instâncias da greve, mas não rompe com o apoio sistemático ao projeto de educação precária do governo federal, como o REUNI (contra o qual as greves das instituições federais da educação já se levantaram diversas vezes) e nem rompe com o projeto privatista da educação, no apoio ao PROUNI, onde o governo paga milhões aos grandes monopólios da educação por uma vaga na universidade privada, reforçando o caráter de mercadoria da educação, ao invés da maior criação de vagas nas universidades públicas.

  Nós da Juventude Às Ruas, junto de outros coletivos e estudantes independentes, estamos construindo ativamente os fóruns do movimento estudantil porque acreditamos que é possível reverter o esvaziamento da greve estudantil frente ao período de “férias” e Copa e retomar uma mobilização forte neste começo do segundo semestre. Mas também porque sabemos da importância que faz o apoio do maior número possível de estudantes a heroica greve de trabalhadores da USP que se mantêm firme. Convidamos todos os estudantes a participarem das atividades dos trabalhadores, como os piquetes, as reuniões de unidade, os atos, as assembleias. Levemos a aliança operário-estudantil a frente porque para conseguirmos barrar os cortes orçamentários, abrir os livros de contas, democratizar o acesso à Universidade, lutar pela permanência, libertar Fábio Hideki, readmitir os 42 metroviários, nós precisamos de muito mais. À luta que continua em julho!

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