domingo, 13 de abril de 2014

Na ditadura de Gama e Silva; na democracia de Rodas e Zago: segue a estrutura “feudal” da USP.

Por André Bof, estudante de Ciências Sociais da USP, militante da Juventude às Ruas

O ano de 2014 começa com uma suposta “mudança de ares” na USP. 
Buscando se localizar “democraticamente”, tendo em vista as eleições de 2014 e o desgaste que poderia lhe causar a continuidade da “crise de democracia” na universidade, Alckmin, que a frente do Governo do Estado deu todo suporte a antiga gestão repressora de Rodas, escolheu Zago, ex-Pró Reitor de pesquisa da USP e o “mais votado” na consulta feita para legitimar as eleições antidemocráticas com ares de democracia, como novo REItor da USP.

De cara, teve de enfrentar os problemas deixados como legado maldito da gestão Rodas. Até para os calouros mais novos, deve ser conhecido o estrago feito por esta gestão. Rodas, ex-professor da Faculdade de Direito, possui um histórico tão sombrio quanto a missão que lhe foi confiada. 

Como diretor, foi o responsável pelo chamado da tropa de choque para reprimir movimentos sociais dentro do prédio das arcadas; no dia de sua posse, convocou a força tática para reprimir com bombas e tiros de borracha uma manifestação que repudiava sua pomposa posse ao som de orquestra, dentro da Sala São Paulo; durante a greve de trabalhadores em 2010, impôs um mês de corte de salário contra os trabalhadores e, em 2011, legitimou a presença da PM no campus e utilizando-se desta, militarizou a USP como somente a Ditadura militar o fez, colocando 400 PM’s de elite com cachorros, bombas, rapel para desalojar o prédio da Reitoria, ocupado politicamente, e prender 73 estudantes, dentre eles uma jovem que foi torturada, com uma mordaça dentro do prédio.

Posteriormente a isto, já habituado ao clima de governo absoluto, Rodas processou toda a diretoria do SINTUSP, buscando demitir diretores que se aliaram a centenas de trabalhadoras terceirizadas que paralisaram contra a miséria de suas funções; construiu um monumento a “Revolução de 64” em frente ao Crusp; processou dezenas de estudantes numa espécie de tribunal/comissão que acusava/julgava/punia e, em 2013, como cereja do Bolo, manteve toda a intransigência, acenando com promessas vagas e mais repressão... 

Isto tudo, afinal, estava a serviço de um plano, arquitetado há muito tempo e que os governos em geral, como o PSDB a frente, tentam implementar, desde 2007, quando ocorrem as importantes greves da USP, UNESP e Unicamp, as quais abrem um “reascender” no M.E. (movimento estudantil).

Desde que assume, Rodas define a USP como uma “terra de ninguém”, aonde a Lei não chega, os trabalhadores fazem greves (!!!), as pesquisas operacionais (mercadológicas) encontram questionamento em ideologias arcaicas e que, desde 2007, começa a elevar uma crescente oposição ao projeto de Universidade das elites. 
Para por um basta a isto, Rodas é empossado, sendo o segundo da lista tríplice, por Serra e começa a estratégia de desmonte do movimento de trabalhadores, em primeiro lugar, e de divisão dos estudantes e ataque ao movimento estudantil.

Os trabalhadores da USP haviam, em todos os momentos de luta da USP, desde 2002 e antes, estado ao lado dos estudantes e em greves que garantiram importantes conquistas. Em 2002 apoiaram uma greve de 3 meses na FFLCH por professores e pelo chamado “gatilho de contratação” que contratava automaticamente professores caso houvesse aposentadoria ou falecimento; em 2004 bancaram greve com enfrentamento na porta da prefeitura da USP; em 2007 levantaram-se contra os decretos do Serra, que buscava investir mais em áreas voltadas ao mercado; em 2009, construiram a mobilização conjunta contra a Univesp (universidade virtual de SP) e democracia; em 2010 pela isonomia salarial, etc.

Ao todo haviam feito mais de 388 dias de greve nos últimos 10 anos, algo inadmissível ao PSDB e, assim, se seguiram todos os ataques e golpes relatados no início do texto. 

O projeto de universidade que Rodas tenta resgatar, no entanto, não é de sua “brilhante” autoria. Suas origens remontam a ditadura militar e, talvez, até anteriormente, quando a Universidade é pensada como um espaço de formação para as elites. Obviamente, no entanto, por dentro do turbilhão de desfigurações que deixou a ditadura, a USP encontrou um papel no plano dos generais.

Tanto no que diz respeito ao conteúdo quanto aos métodos, a ditadura ensinou muito ao PSDB e os reitores a seu serviço. 
Gama e Silva, o ex-ministro da Justiça que assinou o AI-5, abrindo as portas para o período de maior perseguição tortura e assassinatos da ditadura, foi REItor da USP e redigiu seu regimento interno que, não só prevê absurdos como punição a quem atentar a “moral e aos bons costumes” e incitar greves, como segue sendo instrumento para ELIMINAR estudantes (tornar qualquer vínculo com a USP impossível por 10 anos) na mão da Reitoria hoje.

Quanto ao conteúdo, não é necessário dizer muito: a FIESP, fundação dos Industriais de SP (que apoiou o golpe de 64) segue tendo cadeira cativa no C.O. (conselho universitário) ao lado de professores saudosistas da ditadura, donos de empresas terceirizadas e de fundações privadas, a esmagadora maioria no minoritário orgão da autocracia USPiana. Todos estes senhores dão o tom do conteúdo social da USP, como sendo uma universidade elitista, com bilhões de orçamento e quase nada a contribuir para a maioria do povo pobre que a financia com seus impostos. Projetos de pesquisa sobre doenças primárias, que adoecem milhões no Brasil, como a diarréia; projetos de planos de obras públicas para dar emprego e casa; história do povo e das revoltas negras na formação brasileira; tudo isto perde para as pesquisas de Avon, Odebretch, DERSA, FIA, etc...

Zago, o suposto “salvador da pátria”, surge como figura neste cenário. Do ponto de vista histórico, observando a estrutura da USP e seu papel, Zago é apenas mais uma variável. E o sistema necessita de todas elas; Sejam Gama e Silva, sejam Rodas, sejam Zago.

Após a terra arrasada orçamentária deixada por Rodas, como fruto da tentativa de cooptar financeiramente os trabalhadores da USP e de sua extravagância de tapetes persas e banquetes de luxo, Zago se vê na ingrata tarefa de disciplinar a USP com a austeridade. 

Para isto, se utiliza da tática de “dobrar a vara para não perder o peixe”. A crise de democracia e, agora, a crise orçamentária, são questões das quais Zago não pode fugir. Para isto, já prepara uma Autoreforma que, de conjunto, pretende manter tudo como está. 

Em recente entrevista dada ao Jornal do Campus, além de assumir que já fez cortes na Graduação, bolsas de intercâmbio, de bolsas, trabalhos de campo e indicar que irá cortar benefícios dos trabalhadores, Zago aponta a necessidade de aperfeiçoar as instituições burocráticas da USP.
Menciona que agora não é mais um universo tão restrito do C.O. que vota nas eleições (cerca de 300), mas as congregações de unidades (2 mil) e que isto poderia, numa hipótese tão aberta quanto o mar, ser ampliado para os conselhos departamentais.

Ora, quão grande é a nossa surpresa ao perceber que estas “mudanças” só beneficiam... aos professores! Num universo de 100 mil estudantes, 16 mil funcionários, cerca de 5 mil terceirizados, o grande projeto de Zago é ampliar a democracia para... as congregações e os departamentos (!!!), que, se Zago fosse “radical” e rompesse as divisões de “status” entre os professores, abarcaria míseros 5 mil. 
Esta é uma continuidade da atual estrutura que distorce o peso da comunidade em benefício da minoria de professores, sobretudo os titulares, mais privilegiados.

Assim, além de se esquivar da questão da Each, dizendo que cabe a justiça dar uma resposta, não mencionar nada sobre as demissões de terceirizados que incentiva, nada dizer sobre as bolsas e a permanência estudantil, além de que devemos “apertar os cintos”, Zago faz seu papel de “dialoguista”.

No fundo, as estruturas da USP continuam baseadas numa lógica Semi-feudal, sendo a Reitoria o orgão de intervenção a serviço do Senhor; os professores titulares a casta de nobres; o conjunto de professores oscilando entre o “baixo clero” e, junto dos estudantes e trabalhadores, a “plebe”, restando aos Terceirizados o papel de “Sans Cullottes” e/ou “servos”.

Este ano o movimento deve refletir e, sobretudo, agir. Não apenas a abertura e publicação do Orçamento é uma bandeira urgente, como a luta por mais verbas é central. No entanto, esta luta pela cabeça dos Lordes só sairá vitoriosa se entendermos uma simples lição que a luta de classes e, mais recentemente, junho, nos deixou: a plebe unida é uma força irrefreável; sozinho os “senhores” não aguentam. 

Saindo da bolha da USP e lutando por uma universidade com cotas raciais, o Fim do vestibular e estatização do ensino, projetos a serviço das necessidades do povo, permanência, creches e moradia a todos que precisam, uniremos esta plebe e, então, a Bastilha Reitorável, há de cair, abrindo novos Junhos e novas conquistas. 
Mãos A Obra!

1 comentários:

Otarios, vão trabalhar pra ser gente na vida seus comunistasinhos idiotas.

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