quarta-feira, 23 de abril de 2014

Levante Popular da Juventude: Fazendo, com cara “jovem”, o velho trabalho dos PTistas.


Por André Bof

Recentemente, o conhecido Levante Popular da Juventude realizaram um Encontro nacional, na cidade de Cotia, para organizar  setores de sua militância que o próprio movimento define como “do campo, da periferia, das universidades”.

Autointitulado um encontro de “milhares”, o encontro girou em torno de mil e poucos jovens de alguns estados que, após a reunião, organizaram um ato, na Avenida paulista, em SP, por uma demanda que, segundo o movimento toca “profundamente” as necessidades das periferias, universidades e do campo... : A Reforma Política! Aquela que Dilma anunciou (e tão logo esqueceu) como a salvação do País, quando ocorreram as manifestações de milhões de Junho de 2013.

É, no entanto, importante relembrar o que lhe rendeu a famigerada fama e quem é o “Levante Popular da Juventude”.
Formado há poucos anos, o Levante Popular da Juventude é uma espécie de braço juvenil de uma organização política, mais antiga, chamada Consulta Popular, surgida em 1997 e que se autodefine como impulsionada por movimentos sociais sobretudo o MST, dirigido pelo, também ligado a Consulta, João Pedro Stedile.

Além de uma série de afirmações abstratas como o “compromisso com a unidade popular”, seu projeto distingue-se pela repetição e reafirmação, seguida a risca pelo Levante Popular, da luta por um “Projeto Popular”, o qual, então, seria a concretização da dita “revolução brasileira”.
Chegam até a, surpreendentemente, afirmar que as tarefas estruturais do Brasil (que os marxistas definem como a Reforma Agrária, libertação da influência do imperialismo, industrialização, etc) só podem ser cumpridas pelo trabalhadores assalariados (proletariado) que, dirigindo todos os demais oprimidos, se coloca na Luta pelo poder.
Uma tese, sem dúvida, próxima a de muitos trotskystas e marxistas revolucionários que seguiram a estratégia que levou a vitória em 1917 na Rússia.  Postuladas as “conexões” do levante popular, voltaremos a isto a seguir.

Do ponto de vista das ações que os tornaram conhecidos, estão os já famosos “escrachos” grupo rastreava as casas e localização de ex-apoiadores e membros da ditadura Civil-Militar de 64 e então faziam pichações, atos, e coisas do tipo, perturbando e trazendo a tona tais milicos de casaca em ações que, não é problema nenhum afirmar, foram muitas vezes importantes para publicizar a questão da impunidade.

No entanto, é aqui então que, não por acaso, somos obrigados a voltar.

Além seu sumiço repentino durante as mobilizações que, em Junho, reacenderam  a luta em setores massivos de Juventude e de trabalhadores, inicialmente por transporte, mas avançando para o questionamento de conjunto dos direitos sociais (moradia, saúde, transporte, educação, etc), o Levante Popular da Juventude, seguiu com pouca atividade, seja durante os atos que se seguiram a Junho, seja nos meses de 2014 em que tem se organizado a luta Contra Copa do Mundo, definida como a “Copa dos Patrões” por milhares nas ruas.

Este sumiço, não é coincidência. O Levante, como setor ligado a Consulta Popular e MST, mantém, apesar de seu discurso “revolucionário” em cartilhas de formação, uma posição de apoio entusiasmado, com pequenas críticas, aos governos do PT encabeçados por Lula e Dilma. 


Se em junho, quando “massas” saíram às ruas, buscando resolver com as próprias mãos suas necessidades e justamente colocando em prática a luta por aquilo (saúde, transporte, moradia, emprego, etc) que a Consulta e o Levante juram defender pela via de “mudanças radicais na estrutura do País”,  estes não impulsionaram seus milhares de membros, a razão está em sua visão de tudo “de bom” que deve ser “reivindicado” dos Governos do PT..... apesar da ação independente e ofensiva de milhões de jovens nas Ruas que talvez não entendam o avanço deste governo.
O mesmo vale hoje, para a luta contra a Copa, que aonde estão, os membros do Levante e da Consulta tratam de desorganizar, criticar e boicotar.

Em suas cartilhas de formação (www.consultapopular.org.br/sites/default/files/cartilha%2021_0.pdf), a Consulta Popular trata de maneira muito mais clara e mais aberta do que qualquer um poderia descrever, seu apoio alegre as medidas do Governo Lula e Dilma.

Definem, partindo de suas muitas linhas em que demonstram sua estratégia revolucionária com protagonismo “operário e popular”, como, a partir de 2002, apesar de abandonar o projeto de luta pela tomada do poder (e nos perguntamos se este era o projeto de Lula antes de 2002!), a eleição de Lula e o PT representa um “limite ao avanço” neoliberal (época do capitalismo conhecida pelas privatizações e retirada de direitos trabalhistas) e cita uma série de medidas positivas do Governo.

Que o país tenha avançado como nunca das terceirizações que afetam sobretudo os negros, privatizações de rodovias, de portos, “concessões” privatizantes de aeroportos, manutenção das privatizações da Vale do rio doce, etc, nada disto importa.

Demonstram, no entanto, como o Brasil sai, com Lula, da servidão colonial para uma política que visa os interesses nacionais e é cada vez mais independente; como o Governo realiza os grandes projetos sociais conhecidos como o Bolsa Família, o Reuni, o Prouni; e finalizam com a afirmação de que, com a vitória de Dilma, seguem estas medidas e se dá a vitória sobre “os setores da Igrejas Católica conservadora e Pentecostais”.

Dentre estas medidas, criticáveis em si, como o Bolsa Família que não chega a distribuir nem 0,4% do PIB brasileiro, enquanto para os Bancos e Banqueiros o governo paga 47% do Orçamento do PIB como juros da dívida pública; ou o delírio de dizer que Dilma derrotou os Evangélicos e a Igreja Católica, enquanto não apenas o PT se elegeu com o APOIO destes setores, vendendo as pautas da luta pela legalização do aborto, pelo casamento homossexual, etc, como abriu espaço para que Bolsonaro e Feliciano fossem membros que tomassem parte e dirigissem comissões como de direitos humanos, fazendo afirmações machistas, racistas e homofóbicas sem punição; destaca-se, pelo Levante, a defesa de projetos como o ProUni e Reuni que tem sido já criticados há um bom tempo por estudantes em todo o país.

O primeiro, pelo fato de que o governo paga milhares por uma vaga a uma universidade privada, ao invés de criar outras públicas e gratuitas, alimentando a educação como mercadoria e fomentando monopólios como Anhanguera, Unip etc; o segundo, cujo “balanço e crítica” já foi feito pela greve de TODAS as universidades federais em 2012, pois significa uma expansão de vagas sem nenhuma estrutura (não existiam prédios, alojamentos, restaurantes universitários, transporte, professores, etc).

De toda esta definição, afirmam que, dentro de sua tática, devem apoiar as coisas benéficas a classe trabalhadora e criticar as ruins, pois, num governo em que definem, como de Conciliação de classes (quando partidos ditos “operários” governam em conjunto e muitas vezes a serviço dos empresários e capitalistas) é necessário “usar as contradições” para “criar a força social própria”.

Que nos principais momentos aonde esta “força social própria” tratou de dar seus primeiros passos, eles estivessem ao lado do governo e não do “sujeito social” da revolução, não julgam importante dizer.

E não é exagero dizê-lo.
O boicote ao não atuarem como organização, a Junho, talvez por medo de desgastar o tão “progressista governo do PT” e o boicote a Luta contra a copa são um exemplo.

O amordaçamento completo do MST (atestado seja por partidos de esquerda na oposição, seja por intelectuais), que em 12 anos de governo do PT praticamente só seguiu e aplaudiu as “conquistas”, se inscreveu nos planos de auxílio assistencialista e esperou o pão prometido, afastando-se de sua história de ocupações de terras de latifundiários matadores de camponeses, é outro exemplo.

E é aqui que se retorna ao cerne da questão.
Em junho, face a maior manifestação de luta popular, juvenil e de setores proletários da história recente do Brasil o governo do PT pela primeira vez se viu encurralado.

Com seus índices de aprovação caindo vertiginosamente, as manifestações atingindo a Copa das Confederações, cada vez mais repressão, mortes nos atos, atos cada vez maiores, tentativas de invasão de prédios do governo nos estados e em Brasília, Dilma precisou dar uma cartada para aliviar a pressão.

Em meio as manifestações, enquanto apoiava a estratégia de criminalizar o movimento e dividi-lo entre “pacíficos e vândalos”, para esvaziar os atos com o medo, o Governo cantou aos ventos a ideia de uma “Constituição Exclusiva” ou “reforma na constituição” ou “reforma política” que, assim, de pouco em pouco, foi desaparecendo até chegar a nada e mais do mesmo: repressão e falta de direitos.

Com esta reforma política, Dilma tentou desviar a atenção dos manifestantes, prometendo melhorar o sistema político, ampliar a representação, impedir a corrupção, impedir as empresas de (sic) influenciar na política, garantir vias de melhorar saúde, educação, moradia, enfim, de salvar o Brasil. Pois bem. A estratégia da repressão teve efetividade e Dilma e a base aliada esqueceram rapidamente esta história.

Mas eis que o Levante Popular da Juventude, cuja falta não sentimos tanto, trata de, após boicotar dezenas de atos em junho ou este ano, relembrar esta tão bela ilusão e colocar, como expressão de “luta” de seus milhares de membros, mil jovens na rua por uma Reforma política que, segundo eles possibilitará “
uma reformulação do sistema eleitoral e de representação democrática no país”....Tal como Dilma nos disse há um ano.
 Não explicam que reformulação, de que forma se consegue “acumular forças” proletárias, como  conseguir as demandas de saúde, educação, moradia e transporte, enfim, nada.

Tratam, assim, de apenas prestam um excelente serviço, com “cara jovem”, a uma velha política de ilusão, desvio e enganação digna dos mais velhacos burocratas do PT, que, caso reorganizem um "sistema eleitoral", infelizmente para os "revolucionários" da Consulta, que embelezam esta proposta como via de "limpeza e moralização" da política, não farão a não ser em seu interesse e no daqueles poucos magnatas, banqueiros e empresários que financiaram e financiam suas campanhas e privilégios "extraoficiais".

Felizmente, o chão ainda está quente. Milhares de jovens entendem o que foi Junho e entendem como o Governo, com todas suas forças, trataram de afogá-lo em mentiras e repressão. Muitos ainda tem de abrir os olhos. Mas o sangue segue quente. Senão dos que lutam para mostrar que a luta deve continuar, então o dos operários mortos nos estádios da Copa.

Ao afirmarem suas pretensas “convicções revolucionárias” o Levante ainda consegue enganar alguns. Certamente alguns honestos. No entanto, basta chamar as coisas pelo seu nome e suas ações para, como diziam alguns revolucionários irredutíveis do passado, as coisas se desmancharem no ar.

A luta pelas questões estruturais que afligem a juventude, classe trabalhadora e os oprimidos seguem sendo tarefa dos trabalhadores.
Estes, a cada dia entendem, como a Greve dos Garis do RJ nos demonstra, que efetivamente e não em palavras, só podem contar com suas próprias forças, organizando Greves, atos, cortes de ruas, ultrapassando os burocratas sindicais de CUT, CTB UGT, FORÇA, e arrancando a força, como diziam, “sem arrego”, aquilo que o governo lhes retira em nome dos interesses do capitalismo.

Um operário, um jovem, um favelado, que foi às ruas em Junho, repudia a Copa, atropela a Justiça e a Burocracia que impedem sua greve, mas, ainda assim, não vê, por mil motivos, a necessidade e as vias para a revolução, está mil vezes mais próximos desta e vale mil toneladas mais do que “revolucionários” que nos dias de festa falam de revolução e nos dias de luta correm aos compadres do Governo e do Patrão.

4 comentários:

Este comentário foi removido pelo autor.

Beijinho no ombro pro recalque passar longe!

Muito bom texto! Sugiro a leitura de outro que vai na mesma linha, um pouco menos confuso e melhor escrito.

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/tag/mst/

Obrigado pela recomendação. Vê-se que o nível de sujeira na política se repete na argumentação. Nada além de mais um pouco de "revolucionarismo" a Lá levante que consegue achar que alguém com um pouco mais de perspicácia que uma pedra iria comparar este blog à Veja. E diga-se, de passagem, é realmente condizente com um grupo "revoluconário e popular", de "periferia", tentar criticar um texto pela forma como está escrito. Haha.

Levante levante....

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