Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Viva a luta dos trabalhadores da Comlurb!


Juventude às Ruas – Rio de Janeiro
Nesta terça-feira, mais de mil Garis tomaram as ruas do centro do Rio de Janeiro, reivindicando reajuste salarial de 18%, aumento do valor do vale-refeição, triênios e outros benefícios. Em sua longa caminhada atraíram o apoio da população que passava a pé, nos carros, e muitos aderiram a esta “onda laranja” que tomou a Presidente Vargas e o Sambódromo. Os trabalhadores da estatal municipal de economia mista, a Comlurb sofrem com um trabalho desgastante, arriscado, e ainda ganham humilhantes R$800 como salário inicial. Tudo isto em uma prefeitura onde Paes não poupa dinheiro à Fifa e às empreiteiras.
Os garis se mobilizaram contra a direção de seu sindicato. O sindicato dos trabalhadores do asseio, ligado à pelega UGT, não só era contra esta mobilização, como, panfletou nas unidades, com o explícito apoio das gerências contra os trabalhadores entrarem em greve e irem à manifestação. Os garis mostraram na rua, seu ódio a esta direção, à exploração que sofrem e ao prefeito Paes.
Os garis estão se organizando para derrotar esta direção e impor sua greve que pode se iniciar no sábado de Carnaval. Sua próxima ação é garantir a votação da greve em assembleia na sexta-feira, 28/02.
Este passo adiante de uma das camadas mais exploradas dos trabalhadores do país mostra a profundidade do que as “jornadas de junho” abriram para a luta dos trabalhadores. Os garis estão conscientes que se entrarem em greve em sua data-base, 1º de Março, colocarão em jogo a realização de um dos maiores e mais lucrativos eventos da cidade. Não tem Carnaval sem gari!

Entoando palavras de ordem como “êêêê, no carnaval o prefeito vai varrê”, os trabalhadores da Comlurb denunciavam a contradição entre suas condições de trabalho e a importância da categoria para o funcionamento da cidade, sobretudo em períodos de grandes eventos, como o Carnaval ou mesmo a Copa do Mundo. Os trabalhadores sabem que sua ação pode colocar em questão estes grandes eventos.
A luta da classe trabalhadora, como mostram os garis, é o que realmente pode colocar em xeque os planos elitistas da Copa do Mundo e outros megaeventos.
A luta dos garis por seus direitos e contra seu sindicato vendido é uma luta de todos cariocas contra a exploração e contra esta cidade dos megaeventos, imposta contra todos os trabalhadores, começando pelos trabalhadores da limpeza urbana. Chamamos toda a esquerda antigovernista, sindicatos que se reivindicam classistas e antiburocráticos, centros acadêmicos, o Fórum de Lutas e a FIP a organizarem uma imediata campanha de solidariedade e apoio aos garis.

Todo apoio à sua luta! Se houver greve de garis no Carnaval, o bloco de carnaval de todo carioca ligado aos trabalhadores e o povo é o bloco dos garis!
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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Todo apoio à Profa. Maria Beatriz Costa Abramides! Contra a perseguição política na PUC!

     A Profa. Maria Beatriz Costa Abramides acaba de ser condenada em processo disciplinar e punida com uma advertência pela Reitoria da PUC. O processo foi aberto devido a sua participação em uma manifestação de caráter político, durante reunião do Conselho Universitário,    contra  a posse da reitora Ana Cintra, eleita de forma antidemocrática.
     A companheira Beatriz Abramides tem uma reconhecida trajetória na defesa da universidade, da educação e dos direitos sociais e essa punição é uma clara medida de perseguição política. Sua participação na manifestação foi deliberada em assembleia da Associação dos Professores da PUC-SP (APROPUC-SP), da qual a professora é vice-presidente, sendo esse, portanto, um ataque também à entidade, e à organização sindical e política na universidade como um todo.
     Colocamos todo nosso apoio à companheira Beatriz Abramides que, justamente na luta pela democratização da universidade, enfrenta a repressão e a perseguição política que se fazem cada vez mais comum em nosso país neste momento.

     Pela revogação imediata da aplicação de advertência formal à Profa. Maria Beatriz Costa Abramides!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

À Juventude às Ruas no Pará!

É com muita felicidade que nós, da Juventude às ruas das frentes de São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Belo Horizonte e Marília, saudamos nossos mais novos companheiros do Pará!
Sabemos que apesar da distância que nos separa, existe algo que nos une e nos aproxima cada dia mais: a imensa vontade de transformar a realidade em que vivemos, com uma corajosa esperança no futuro! Apesar de todos os ataques que nós trabalhadoras e trabalhadores, mulheres, LGBTTIs, negras, negros, indígenas, sem-terra sofremos, não deixaremos de acreditar e de lutar por uma realidade completamente liberta das misérias que o capitalismo nos impõe.
Construir uma Juventude revolucionária e aliada à classe trabalhadora torna-se um desafio e uma necessidade maior a cada dia que passa, bem como nossa atuação dentro e fora das universidades, das salas de aulas, locais de trabalho e nas ruas.
Nossa militância no Movimento Estudantil não se resume a disputas por aparatos, centros acadêmicos e diretórios, como várias correntes fazem, mas muito pelo contrário, nossa militância busca transformar radicalmente as universidades, colocando-as a serviço dos trabalhadores e da população pobre, sempre se ligando aos setores explorados - como viemos fazendo por exemplo nas greves de trabalhadoras e trabalhadores terceirizados, apoiando e construindo a seu lado sua luta.
É por isso, também, que muitas de nossas militantes constroem o Pão e Rosas, agrupação de mulheres independente dos governos, dos patrões e das burocracias, e enxergam em sua auto-organização o germe da luta emancipatória das mulheres, que só se realizará completamente com a derrubada deste sistema que nos oprime, explora e mata cotidianamente, o que não alcançaremos senão aliados àqueles que tudo produzem em nossa sociedade. Também esperamos avançar nessas discussões com as companheiras daí.
Gostaríamos de saudar a audaz iniciativa dos companheiros de escolherem se organizar como Juventude às Ruas e, desde já, estamos pensando em políticas que nos aproximem ainda mais, teórica e pessoalmente, neste ano em que se desenham no cenário nacional muitas lutas, que já estão sendo duramente reprimidas, contra a copa, o aumento dos transportes, a carestia de vida e o endividamento das famílias e de nossa juventude, por conquista e manutenção de direitos aos setores oprimidos.
Também é de extrema importância que os companheiros possam aportar com discussões referentes às lutas que vêm encabeçando desde aí, como aquelas contra as usinas de Belo Monte, e à todos os estragos que esse projeto de país vem causando a trabalhadores, às populações locais e ao meio ambiente.
E para terminar, uma parte do discurso de um dos maiores revolucionários que passaram por esse mundo, e que nos serve de inspiração sempre:

A vida é bela! Que as gerações futuras livrem-na de todo mal, de toda opressão e violência e possam gozá-la plenamente!
Leon Trotski, Testamento

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A luta estudantil nas universidades particulares

Por Sérgio Nascimento, Estudante de História da UNAMA e militante da Juventude as Ruas/ANEL (Belém -PA)




Uma concepção um tanto limitada do movimento estudantil acha que a luta pela qualidade no ensino superior se resume às instituições públicas, devido à falta de estrutura adequada e os baixos investimentos dos governos estaduais e federal. É importante consideramos que, por causa da concorrência, há uma extrema desigualdade social no preenchimento das vagas nas universidades públicas. A juventude da periferia, não tem acesso ao conhecimento necessário para se igualar, na concorrência dos vestibulares, com os jovens de classe burguesa que tem condições de pagar os melhores cursinhos, o que acaba por dificultar ainda mais a o acesso do jovem pobre ao ensino superior, apesar das cotas que ainda não são suficientes.

Neste um ano que faço ensino superior, passei por duas instituições particulares, onde conheci verdadeiros trabalhadores, e pude perceber que eles não tinham tempo a perder, suas realidades demandavam urgentemente um diploma para melhorar de vida, e não dava pra esperar mais um, dois ou três anos se preparando para o vestibular das públicas, e enriquecendo os bolsos dos empresários donos de cursinhos. Por isso, estudar em uma instituição particular acaba sendo a única opção.

Embora tenha suas especificidades, muito tem em comum a luta estudantil nas públicas e particulares. O ensino privado deixa muito a desejar em aspectos estruturais, como a insuficiência e desatualização no acervo das bibliotecas, laboratórios de informática com poucos computadores — e ainda não são todos que funcionam —, além do aumento das mensalidades e taxas que não é proporcional ao aumento da qualidade do ensino e das bolsas de pesquisa, extensão e monitoria; e a falta de democracia nos conselhos superiores.

Considerando que a maioria dos estudantes do ensino superior está nas particulares, é fundamental que entidades como a ANEL organizem sua atuação de luta contra esses aumentos absurdos que só fazem enriquecer mais os empresários dessa área, construindo assim um movimento estudantil mais forte em favor da estatização do ensino.

Recentemente o descredenciamento da Universidade Gama Filho e UniverCidade, administradas pelo Grupo Galileu, no Rio de Janeiro, são exemplos claros da crise que está instalada há muito tempo no ensino superior privado, que agora começa a tomar forma. Mesmo com muita mobilização e luta dos estudantes, o Palácio do Planalto, com o apoio dos reitores da UFRJ, UFF e UniRio, o governo Dilma resiste em não ceder a federalização dessas universidades, mostrando seu descaso com os professores, servidores e estudantes que estão no olho da rua.

Na Universidade da Amazônia (UNAMA), onde estudo, o Diretório Central de Estudantes protagoniza uma luta histórica contra o descaso dos mantenedores, conquistando algumas vitórias como os equipamentos de projeção áudio visual nas salas, o fim da taxa da prova de recuperação e outros.



Ontem (30/01), o DCE junto com a participação de alguns CAs da Unama, também com a participação do DCE-IESAM e coletivo estudantis, caminharam pelos corredores do Campus Alcindo Cacela, cantando palavras de ordem e chamando os estudantes para se somar ao ato. E assim seguiu uma grande caminhada com mais ou menos 200 pessoas em direção à reitoria, onde protocolamos uma pauta de reivindicações e solicitando esclarecimentos sobre a venda da universidade que segue por debaixo dos panos.

A luta dos estudantes na Unama é exemplo que é possível mobilizar os estudantes das particulares, que também estão cansados dos aumentos abusivos nas mensalidades e taxas. 

LUTAR POR EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE, TAMBÉM É LUTAR NAS PARTICULARES! Se hoje atuamos no movimento estudantil, certamente é para construir uma sociedade diferente, mais justa. Por isso devemos seguir mobilizando, conscientizando e lutando pela qualidade do ensino, seja ele público ou privado, lutando contra a farra dos mantenedores de universidades particulares, contra os aumentos, e construir um movimento combativo e de lutas.

‪#‎ONovoPedePassagem‬!!! ‪#‎PelaEstatizaçãoDoEnsino‬‪#‎PeloFimDoVestibular‬

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

BARRAR O AUMENTO IMPOSTO PELO PREFEITO PAES E OS EMPRESÁRIOS DO TRANSPORTE PELA ESTATIZAÇÃO DOS TRANSPORTES SOB GESTÃO DOS TRABALHADORES E CONTROLE DOS USUÁRIOS!

TODO APOIO À GREVE DOS RODOVIÁRIOS DE PORTO ALEGRE
TODOS AO ATO DE QUINTA-FEIRA

 Por: Juventude Às Ruas - RIO

A população do Rio viverá no próximo sábado 08 de fevereiro um novo ataque aos seus bolsos. Após ter retrocedido e esperado a poeira baixar com as mobilizações de junho que barraram o aumento sem ainda  resolver o problema do transporte, o prefeito Eduardo Paes     novamente anunciou na quarta feira  que  aumentará a passagem de ônibus: de R$2,75 para R$3,00, (9,09%). Patrocinado pelo cartel Fetranspor, o governo não tem vergonha de assumir o lado do patrão contra os interesses da população, enquanto propagandeia que o aumento é pelos custos operacionais, no entanto o TCM abre o jogo de que não tem acesso às contas: a contabilidade é um segredo empresarial. Mesmo assim, segundo cálculo "aproximado" do TCM, a passagem deveria abaixar para 2,50 segundo contrato de concessão que limita o lucro dos empresários a "apenas" 8,5% do valor da passagem, enquanto estes já lucram mais de 10% "aproximadamente". Que gastos operacionais são esses, se a empresa de transporte público é uma concessão, e depende de verbas estatais para serem preservados e renovados?
Quando o prefeito disse ter escutado as vozes das ruas, não deve ter ouvido com atenção os trabalhadores que viajam todos os dias, alguns pegando duas conduções, em latas de sardinha, ou andando sobre os trilhos da Supervia  constantemente quando os trens enguiçam. Não falamos de casos excepcionais, mas da lógica que estrutura todo o sistema de transporte. Essa é a situação na cidade do Rio de Janeiro, mas não é a única no Brasil.

O prefeito Paes é serviçal dos empresários do transporte que lucram bilhões e oferecem péssimos serviços para a população e condições de trabalho para os motoristas e cobradores. Os políticos e os empresários ganham milhões, roubam bilhões. Aí está o dinheiro para garantir transporte de qualidade. Nenhum aumento nas passagens! Que os patrões paguem com seus altos lucros! Se não aceitarem, que as concessões sejam canceladas e as empresas confiscadas pela prefeitura estatizando-as sob gestão dos trabalhadores e controle dos usuários.

A estatização dos transportes sob controle dos trabalhadores é a única saída para resolver os problemas do transporte público, tanto no funcionamento quanto na qualidade, como no bolso da população e dos trabalhadores, contra a corrupção e o superfaturamento por uma minoria parasita que vivem do sucateamento dos transportes públicos.  A Tarifa Zero e o passe livre são respostas cosméticas que acabam por esconder os verdadeiros problemas que o sistema de transporte impõe à população. Não será sob o controle dos empresários que as condições dos trabalhadores e usuários irá melhorar. A Tarifa Zero e o passe livre são respostas cosméticas que acabam por esconder os verdadeiros problemas que o sistema de transporte impõe à população.

São insolúveis os problemas que paralisam as cidades brasileiras e muito menos falta recursos para investir em infraestrutura, já que no caso do Rio são investidos bilhões de reais na intervenção urbana do “Porto Maravilha” e gastos com a COPA para garantir os lucros dos empresários, enquanto "no outro extremo" qualquer mínima dificuldade acaba paralisando partes ou a totalidade do sistema de transporte para os trabalhadores e moradores das periferias. Assim também, estes recursos bem poderiam garantir que estas regiões estejam preparadas contra problemas crônicos como as enchentes, etc.


Todo apoio a luta dos rodoviários de POA – Porto Alegre

A greve dos rodoviários já tem mais de uma semana, lutam por reajuste de 14%, redução da jornada de trabalho para seis horas, aumento de R$ 4,00 no vale-alimentação e manutenção do plano de saúde. A luta dos rodoviários de Porto Alegre se enfrenta não só com os patrões, os governos e à burocracia, mas contra a repressão jurídica do estado burguês: o TRT considerou a greve ilegal, prevendo multa para o sindicato e garantindo aos patrões a contratação de temporários para substituir os grevistas nos seus postos de trabalho. A burocracia (Força Sindical) como sempre, tenta frear a greve, sendo vaiada nas assembleias do sindicato. E os trabalhadores decidem contrariando a justiça e os acordos feitos com a diretoria do sindicato que A GREVE CONTINUA!

A burocracia sindical se mostrou ineficaz em frear a vontade de lutar dos rodoviários de Porto Alegre, por isso a justiça burguesa decretou a greve ilegal enquanto a mídia e o governo, patrocinados pelos empresários, seguem em campanha contra a greve. As centrais sindicais e entidades estudantis independentes do governo e dos patrões devem impulsionar uma campanha de apoio aos rodoviários de Porto Alegre pelo imediato atendimento de suas reivindicações. Cabe à CONLUTAS e à INTERSINDICAL organizar, também, a luta pela estatização dos transportes sob gestão dos trabalhadores e controle dos usuários como resposta contra a exploração, contra os governos e empresários que lucram diretamente com a precarização destes serviços recebendo dinheiro público para tal.
Cabe à ANEL e às entidades estudantis, como C.A´s, D.A´s e DCE´s impulsionar esta luta em aliança com os trabalhadores contra os capitalistas. Nós da Juventude às Ruas Rio nos colocamos ativamente nesta luta porque entendemos que somente em aliança com os trabalhadores podemos barrar os abusos dos capitalistas que mantém seus lucros com este sistema de opressão e exploração.
Por isso, nós da Juventude ÀS RUAS, chamamos todxs para o ato do dia 6 de fevereiro às 17:00 e juntxs compor um bloco classista e antigovernista que levante um programa para, de fato, resolver os problemas do transportes dando uma resposta consequente à indignação que provocou as manifestações de junho.

TODO APOIO À GREVE OS RODOVIÁRIOS DE PORTO ALEGRE!
PELO IMEDIATO ATENDIMENTO DE SUAS REIVINDICAÇÕES! (14% de reajuste, R$ 4,00 no vale refeição, jornada de 6 horas)!
ABAIXO O TRT GAÚCHO QUE ATUA CONTRA OS GREVISTAS EM FAVOR DOS PATRÕES E GOVERNOS. GREVE É UM DIREITO LEGAL E LEGÍTIMO.
FIM DA DUPLA-FUNÇÃO E DIMINUIÇÃO DA CARGA DE TRABALHO PARA 6 HORAS DIÁRIAS SEM REDUÇÃO DOS SALÁRIOS PARA OS MOTORISTAS E COBRADORES DO RIO DE JANEIRO.
CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS!
ABERTURA DOS LIVROS DE CONTABILIDADE DA FETRANSPOR E SUPERVIA!
PELA ESTATIZAÇÃO DOS TRANSPORTES SOB GESTÃO DOS TRABALHADORES E CONTROLE DOS USUÁRIOS.


Chamamos a todos que concordem com esse programa a compor o BLOCO DA JUVENTUDE ÁS RUAS, NO ATO DO DIA 06 de fevereiro – Contra o aumento das passagens – Candelária  17hrs.

Um debate sobre o beijo gay e a estratégia da visibilidade

Um debate sobre o beijo gay e a estratégia da visibilidade
                
Virginia Guitzel e Eduardo Goes

Beijo de Félix e Nico, personagens de Amor à Vida.
      Na última sexta-feira, reprisado no sábado, pela primeira vez a emissora Rede Globo exibiu, e em horário nobre, um beijo homoafetivo entre dois homens. A esquerda, os movimentos de direitos humanos e LGBTTIs e muitos LGBTTIs comemoram-no como uma vitória. Para entrarmos nesse debate é fundamental expressar que Félix e Nico, personagens da telenovela Amor à Vida, representados, respectivamente, por Mateus Solano e Thiago Fragoso, são a expressão de um romance que conserva os valores burgueses: o casamento, a constituição de uma família monogâmica e a propriedade. A televisão, como uma das ferramentas de massas fundamentais para a dominação da burguesia, só pode transmitir seus valores e, nesse sentido, garantir a perpetuação da ideologia das classes dominantes. Assim, tal beijo é uma declaração aberta de que na democracia dos ricos, sob o capitalismo, a burguesia nacional pode conviver com parte, grifo proposital, dos LGBTTIs, incluindo o nicho de mercado que trazem consigo (o que chamamos de Pink Money).
Manifestantes em ato exigindo justiça por Kaique Augusto.
      Muitos homossexuais assistiram ao último capítulo da novela emocionados, o que não poderia ser diferente diante de tamanha homofobia existente em nosso país. O Brasil é reconhecido como o país mais homofóbico do mundo (superando países que têm legislação específica para criminalização da homossexualidade, alguns com pena de morte aos homossexuais), e aqui, aos 18 dias de 2014, já somavam-se mais de 23 LGBTTIs assassinados. A morte de Kaique Augusto, no dia 11 de janeiro, segue impune e silenciada pelo malabarismo organizado pelas polícias e seus comparsas, que forjaram um suicídio, o qual segue sem explicações elementares. Os pactos do governo do PT com a bancada evangélica e a histórica relação amorosa desse partido com o Vaticano foram os responsáveis pela tentativa de retomar a “cura gay”, extinta a mais de 23 anos, desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade (antes com o sufixo -ismo) da classificação internacional de doenças. Nesse contexto, como poderiam os homossexuais, estando acostumados a sua inexistência política ou a não serem representados nos programas de massa e nos debates abertos nos mais diversos âmbitos da sociedade, não se emocionarem?
      No entanto, ao compreendermos que os LGBTTIs sintam-se representados ao verem um beijo gay – afinal, sempre foi cena proibida e isso é parte de reconhecermos a homofobia vigente –, precisamos abrir um debate profundo não sobre o beijo em si e todas as polêmicas que vêm se desenvolvendo, que acabam caindo em ataques, calúnias e questões mínimas que nada contribuem para os revolucionários e os setores oprimidos avançarem na conquista de suas demandas. É preciso debater os limites da visibilidade (LGBTTI, que impulsiona a ordem dessa sigla inclusive) como estratégia do movimento LGBTTI em particular, mas dos movimentos de setores oprimidos em geral.

O papel da luta por visibilidade e os limites dessa estratégia

      A influência do pensamento pós-moderno como orientador da organização LGBTTI, hoje, é marco fundamental do retrocesso da reflexão estratégica na luta pela livre expressão das sexualidades e construção de gênero. O momento em que foi elaborada – em meio à restauração capitalista nos países do leste Europeu e ex-URSS, com a profunda vitória subjetiva disseminada por muitos ideólogos burgueses como “fim da história” e “vitória do capitalismo”, bases que solidificaram as democracias burguesas dos países imperialistas que conquistavam o “bem estar social” como as máximas do desenvolvimento humano – diz muito sobre essa linha do pensamento. Linha muito refletida em Focault e atualmente centrada em Judith Butler (uma das principais referências das transfeministas e do conjunto do movimento Queer), teóricos que, ainda que ofereçam avanços no pensamento subjetivo sobre a sexualidade, demonstrando-as a partir de desconstrui-las em formas da construção social – desnaturalizando a heterossexualidade como algo divino ou biológico – contrapondo-se ao determinismo biológico (que determina o gênero e a sexualidade a partir do nascimento) e concluindo pela total desconstrução de perfis eternos de sexualidade e de identidade de gênero (sempre um, em contraposição ao outro, isso é, constrói-se a partir da exclusão do outro), esbarram no limite – não tão menor, ou desconsiderável – de como criar condições para que todas essas potencialidades corretamente apontadas possam ser realmente exercidas pelos indivíduos.
      Ao abandonarem as contribuições de Marx e Engels, e de todo o legado marxista também produzido por Lenin, Trotski e Rosa Luxemburgo, tais autores que abertamente retomam Hegel e outros idealistas avançam na concepção de que o “discurso tem poder por si”, de que a “fala constrói” e, a partir disso, se propõem a constituir uma contracultura paralela e pacífica com os marcos do sistema capitalista. Ignorando que, acima do discurso utilizado, existem bases sólidas e materiais que determinam a realidade de nossa sociedade dividida em classes.
      Muitos dizem que “antes de lutar por nossos direitos, é preciso existir”. Em última instância, estamos de acordo que os mortos não podem lutar, nem mesmo por suas vida – porque já não as possuem. Mas é a visibilidade que nos faz “existir”? Enquanto o tal beijo era televisionado – com todos os limites claros de conservadorismo naquela cena –, enquanto o casal homoafetivo dava uns selinhos frouxos, Edith – outra personagem da novela – saía pela rua seminua com seu namorado/amante sem camisa, beijando-se e dançando sensualmente, insinuando cenas sexuais.
      É importante ver que essa estratégia da visibilidade, organizada pelos movimentos LGBTTIs e adotada por certa esquerda centrista muito influenciável que executa claramente a separação entre “movimento de oprimidos” e “movimento revolucionário”, reivindica o beijo gay como uma vitória ou conquista ensimesmada, colocando como ponto de partida a necessidade de sermos assimilados pelo sistema capitalista e a ideia de que os LGBTTIs seguem sem direitos e oprimidos por uma “ignorância” (quase que inocente) das população em entender esses valores. Tal estratégia acaba por ignorar variadas formas de dominação burguesa, e que a própria homofobia se aplica à divisão das fileiras operárias para facilmente superexplorá-las, e também que, aqueles que agora nos permitem sermos vistos, impõe-nos o papel ideológico de que não se pode decidir sobre nosso próprio corpo, nossos gostos, nossa sexualidade e nosso futuro.
Selinho do jogador Emerson Sheik, do Corinthians, em amigo.
      Parece-nos muito mais importante, nessa perspectiva, do que os selinhos emitidos pela Globo o papel do jogador Emerson quando abriu grande discussão, a partir de um dos lugares mais homofóbicos de nosso país, o futebol brasileiro, ao postar foto sua dando selinho em um amigo. Logo depois, teve de retroceder, é verdade. Mas o papel político sincero que aparecia naquele momento foi, sem dúvidas, muito mais de enfrentamento com a real opressão do que qualquer tentativa de cooptação como a que então propõe a rede Globo – o de sermos os gays aceitos pelo capitalismo.
      Não nos basta aparecer! Não queremos apenas sermos vistos, e pelos limites das lentes da reacionária classe dominante brasileira. Existimos e temos disposição à luta. As barreiras impostas aos LGBTTIs são muito mais altas e sólidas que as dos dramas familiares representados! Que faremos agora? É necessário de uma vez por todas, e, sim, aproveitando o espaço aberto pelo debate em torno do aclamado beijo, desde nossos locais de trabalho, entidades estudantis e sindicatos, superando o freio das burocracias, avançarmos na luta por direitos que esbarram nos muros do próprio capitalismo. A homofobia, o machismo e o racismo, e mesmo a luta de determinados setores em um suposto combate a essa formas de opressão, dividem-nos e nos enfraquecem. 
      Organizar os sindicatos e as entidades que a esquerda conquistou nos últimos anos para fazer um sério debate, no seio do movimento operário, sobre a necessidade de se colocar ombro a ombro nessa luta com os setores oprimidos está no horizonte dessa esquerda? Organizar comissões de investigação, independentes do Estado e de seu aparato jurídico comprometido com os interesses da burguesia nacional, no caso de agressões e assassinatos, fortalecendo junto a entidades estudantis, organizações de direitos humanos e sindicatos a única aliança revolucionária, entre oprimidos e trabalhadores, capaz de colocar em cheque todas as expressões da miséria imposta pelo capitalismo está no horizonte dos movimentos LGBTTIs? Podemos tomar a tarefa de utilizar o espaço aberto pelo "beijo gay" para discussões em todos os locais, demonstrando que somente os LGBTTIs ricos podem adotar, ter uma casa na praia, serem felizes e respeitados, segundo a Globo e os que ela representa? E quanto aos outros setores LGBTTIs? Nossa auto-organização, a superação da homofobia, de todas as opressões e do presente regime de exploração, podem ser conquistadas porque "agora fomos vistos"?
  
Por um Estado verdadeiramente laico! Pela separação efetiva da Igreja do Estado! Fim do acordo Brasil-Vaticano!

Pelo direito a nossos corpos, à livre construção e manifestação de nossas sexualidades e gênero!

Criminalização da homofobia já! Comissões independentes do Estado, compostas por familiares das vítimas de homolesbotransfobia e organizações de direitos humanos, entidades estudantis e operárias para investigação e debate sobre a punição dos agressores!


Que todas as entidades estudantis e sindicatos tomem para si a luta dos setores oprimidos! Pela união de nossas fileiras e real conquista de direitos!!! 


domingo, 2 de fevereiro de 2014

O 'Beijo-gay', a normatividade patriarcal da Rede Globo e o oportunismo miserável da esquerda

Por Adriano Favarin, estudante de Pedagogia da USP

Não é possível afirmar taxativamente que a expectativa (e a concretização) do beijo entre dois homens na novela mais assistida da televisão brasileira representa, por si só, um papel progressista ou reacionário. Para não desenvolver opiniões meramente superficiais, sentimentais ou sectárias é necessário partirmos de analisar a conjuntura nacional e internacional na qual se insere esse beijo e as mudanças pelas quais passou o próprio movimento LGBTT e, também, como chega a subjetividade das massas com relação a esse tema no momento atual. Também é necessário nos debruçarmos sobre a política e o programa que a esquerda tem levado a frente há anos com relação ao tema da sexualidade e seus impactos. Tudo isso à luz do próprio desfecho de conjunto da trama da novela, na qual o beijo é apenas uma cena de toda uma conclusão ideológica conscientemente refletida pela Rede Globo de Televisão.

A polarização social com relação às demandas de gênero e da sexualidade como marca da conjuntura
            Na última campanha eleitoral presidencial brasileira de 2010 vimos a expressão dessa polarização relacionada principalmente ao tema do aborto. Dilma, do PT, para ser eleita, assegurou à bancada evangélica do Parlamento e à Igreja Católica que não avançaria nos direitos democráticos da mulher e dxs homossexuais. Esse giro à direita do PTismo para assegurar votos e a governabilidade parte do silenciamento com relação às milhares de mulheres mortas por abortos clandestinos, caminha pela via do impedimento da propaganda contra a homofobia nas escolas e da conscientização sobre os riscos da AIDS e conclui com o pacto entre o PT e o PSC na garantia da presidência da Comissão de Direitos Humanos (CDH) para o pastor evangélico reacionário, Marco Feliciano.
            Mesmo antes de junho de 2013, a reação do movimento LGTTBI com relação às ações, projetos e declarações racistas e homofóbicas de Feliciano mostrava um potencial de indignação, insatisfação e rearticulação dxs homossexuais enquanto movimento questionador e político. Devido à vitória do PT na cooptação dos movimentos sociais – entre eles o LGTTBI – e ao programa sempre defensivo que os setores de esquerda dentro do movimento têm levado à frente durante anos, deseducando xs homossexuais, ficando sempre a reboque dos ataques e rebaixando o programa sempre à miséria da resistência possível (que não incomode demais o opressor), mesmo após junho, e após ter conseguido barrar a proposta de patologização da homossexualidade e silenciar por seis meses a CDH presidida por Feliciano, xs homossexuais não conseguiram derrubá-lo da presidência da CDH. Enquanto isso, para manter a estabilidade do regime abalado pelo desprestígio do Legislativo – uma das suas principais instituições –, o Poder Judiciário aprovava limitados direitos de união estável para os casais homoafetivos.
            A nacionalização midiática desses processos de polarização relacionados à temática da (homo)sexualidade desprovido de uma educação sexual e discussão mais profunda na sociedade sobre gênero e sexualidade, ligado há anos de Restauração Burguesa e ao papel do PTismo como, ao mesmo tempo, direção desses movimentos contestadores e governo conservador, direcionaram a polarização de classe contra o regime para uma equivocada polarização entre evangélicos (cristãos) e homossexuais, que serviu para encobrir os giros cada vez mais à direita do próprio regime contra a sexualidade (como a tentativa barrada por junho da patologização da homossexualidade) e a um aumento do número de assassinatos de homossexuais por grupos de extrema-direita (fascistas).
            Internacionalmente as questões democráticas ligadas ao gênero e a sexualidade têm polarizado os países. Na França a aprovação do casamento igualitário colocou centenas de milhares nas ruas a favor e contra esse direito. Na Rússia o governo e os grupos fascistas organizados têm avançado na humilhação e assassinato legalizado de homossexuais. Na Espanha, o governo acaba de aprovar uma lei que restringe a liberdade da mulher sobre seu próprio corpo, barrando o direito ao aborto legal, seguro e gratuito conquistado há mais de duas décadas. Não considerar esses elementos da conjuntura na hora de refletir sobre o que significa uma das maiores redes de comunicação mundial apresentar um beijo entre dois homens no horário em que a maioria das famílias brasileiras estão assistindo à novela pode levar a uma posição festiva oportunista ou superficial e sectária em relação à repercussão e significado desse fato nacional. A única coisa por hora concreta que podemos dizer sobre essa cena é que ela serviu para recolocar a temática da sexualidade (homossexualidade masculina, especificamente) no cotidiano da população.

O inicio da organização do movimento LGBTTI na década de 60 e 70
No bojo do último ascenso da revolução social do século passado, nas décadas de 60 e 70, a questão da sexualidade assumiu uma localização importante nos processos da luta de classes. Xs jovens, cansadas da moral conservadora e repressora da sociedade capitalista se colocaram em movimento por uma sociedade livre das opressões. O pano de fundo dessa busca se deu em um mundo polarizado entre o capitalismo imperialista norte-americano e seu “american way of life” heteropatriarcal e o socialismo soviético stalinizado (com suas cópias deformadas), tão degenerado por dentro, a ponto de retroceder nas mais avançadas conquistas democráticas pós-Revolução de 1917, como a liberdade sexual, o direito ao corpo e ao aborto, a separação da Igreja do Estado, etc. Nessa luta pela livre expressão da sexualidade, xs jovens se chocaram contra a idêntica normatização sexual imposta pelos dois pólos sociais existentes, contra a repressora família nuclear burguesa e sua burocrática cópia stalinista e compreenderam que a sexualidade só poderia ser plena se fosse sem as amarras tanto da ditadura do capital quanto da ditadura da burocracia da URSS.
A compreensão que a juventude da década de 60 e 70 faz de que a luta pela liberdade sexual só pode ser alcançada conjuntamente com uma estratégia de luta pela revolução socialista nos países capitalistas e pela revolução política nos países burocratizados deixaram experiências das quais não basta apenas relembrarmos hoje como memórias do passado, mas que merecem ser entendidas, estudadas e reapropriadas para o presente como a luta das travestis de StoneWall contra a polícia e a justiça; ou a militância da Frente Homossexual de Ação Revolucionária na França que buscava se unificar com os partidos comunistas; ou xs homossexuais que se organizaram na Argentina para combater a ditadura militar; e finalmente, com setores do Grupo SOMOS, no Brasil, que marcharam para a assembleia dos metalúrgicos do ABC para declarar seu apoio e serem ovacionados pelxs trabalhadorxs. É o exemplo, o programa e a estratégia que esses setores levavam a frente para garantir o fim da miséria sexual da humanidade e o combate a moral heteronormativa vigente que tanto assustava a burguesia e a burocracia stalinista, maoísta e castrista.


A fagocitose do subversivo: a normatização e esteriotipação da sexualidade marginal
A derrota da revolução política polonesa em 1982 encerrou esse período de ascenso social. A derrota da greve dos mineiros britânicos pelo governo de Margareth Thatcher em 1984-85 iniciou o período de ofensiva restauracionista da burguesia. A reação econômica com o neoliberalismo é simultânea a reação em todas as demais esferas da estrutura e superestrutura social. Tomar as consignas e as reivindicações da geração derrotada e torná-las inofensivas tem sido historicamente o método com o qual as classes dominantes tratam a contracultura. No caso LGTTBI, a aceitação da sexualidade homoafetiva (objetivamente impossível de combater, já que o próprio desenvolvimento do capitalismo favorece o desenvolvimento de relações sexuais homoafetivas[1]) se dá na medida em que o capitalismo possa transformar seus elementos subversivos em dóceis reprodutores da dominação do capital. O enquadramento e padronização da sexualidade entre dois polos opostos (homossexuais e heterossexuais), com rótulos, estereótipos, cultura, gosto musical, jeito de andar, de se vestir, se portar, de falar, etc... foi o principal responsável para o fortalecimento da concepção ideológica de determinismo biológico para a sexualidade.
Conjuntamente com essa ferramenta ideológica castradora que normatiza a sexualidade homo em padrões familiares heteropatriarcais se dá a propagação da AIDS e do HIV como consequência da ‘promiscuidade’ homossexual, fortalecendo ainda mais a ideia da necessidade da monogamia patriarcal e das relações homoafetivas submetidas aos moldes do casamento burguês heteronormativo para ser aceito em uma sociedade sexualmente miserável. O cu perdeu a sua subversão. O prazer sexual não-penetrativo e não-reprodutivo foram perdendo sentido. O sujeito homossexual foi se afirmando enquanto tal e na mesma medida, reafirmava o sujeito heterossexual, os dois como seres determinados biologicamente e buscando seu espaço e aceitação na sociedade. O heterossexual, aceito e reivindicado; o homossexual, invisível e marginalizado. A sexualidade não-heteronormativa perdia assim o seu caráter questionador da sociedade de classes para se contentar aprisionada em caixinhas esteriotipadas, padronizadas e limitadas. A luta pela liberdade sexual da humanidade (e logo, contra o capital) cedeu espaço para a luta pela visibilidade, aceitação e conquistas de direitos de cidadão dentro do capitalismo para um setor social enquadrado (e também sexualmente limitado) como homossexual.

A esquerda reformista e a esquerda centrista diante as questões democráticas durante o neoliberalismo
A esquerda reformista, na sua luta para gerir o Estado capitalista e demonstrar para a burguesia como pode fazê-lo mais aceitável e a exploração de classe que ele engendra mais humanizada, se contenta na luta por reformas cosméticas nas leis e demais papéis da burocracia do Estado que afirmem direitos iguais para sujeitos homossexuais e heterossexuais. Para além de serem papéis molhados dentro de um sistema que não pode existir sem limitar a liberdade sexual da humanidade, tal política abre precedente (quando não aponta diretamente) na determinação biológica da sexualidade e não na possibilidade da sua construção e desconstrução social. O centrismo, ainda que coloque a perspectiva estratégica de superação do capitalismo por via da revolução e da ligação com a classe trabalhadora e demonstre a diferença entre a situação dos homossexuais burgueses dos homossexuais das classes oprimidas, conclui sua política com programas rebaixados e que não levam a ligação real entre xs homossexuais e a classe trabalhadora. Não disputam dentro da classe, nos sindicatos que dirige e nas relações operárias que constroem, a luta contra a homofobia, mas permanecem no terreno puramente sindical e econômico. Terminam, assim, programaticamente, em demandas rebaixadas e miseráveis, como chega a ser a exigência de que haja um beijo-gay na novela[2] ou a luta, sem nenhuma diferenciação de classe, pela criminalização da homofobia, o que não ajuda a desenvolver a organização dos oprimidos, nem a unidade das demandas das mulheres, dxs negros e homossexuais, e acaba depositando confiança nos inimigos da revolução social – a polícia, a justiça, a lei do Estado burguês – como possíveis aliados, impedindo uma luta séria pela liberdade sexual ao não organizar xs oprimidos para extrapolarem os limites do capitalismo.

O “beijo-gay” aceitável, a polarização reacionária e a esquerda miserável
            No último capítulo da novela “Amor à Vida”, para além do nascimento de filhos varões e dos casamentos e uniões familiares, constituições e reconstituições da família nos modelos burgueses como núcleo da felicidade e mantenedoras da educação moral e cristã, assistimos a cena final de Félix e Nico vivendo em família, como um tradicional casal burguês, falando dos negócios do casal, cuidando dxs filhxs (ou melhor, deixando xs filhxs aos cuidados da babá) e, enquanto um permanece no lar, o outro parte para o trabalho, e se despedem com um selinho relativamente prolongado. Em nenhum momento, porém, pronunciam que ‘se amam’. A próxima cena da novela, a cena final de fato, termina com Félix ao lado de seu pai, César, olhando o pôr do sol, e, para seu pai, Félix diz “eu te amo” e recebe a inesperada resposta do machista e homofóbico pai que este também o amava. Não é possível negar que, para a maioria dxs homossexuais que sentem na pele o que é ser rejeitadx pela família por não querer se limitar a miséria sexual pré-escolhida para você pela sociedade antes mesmo do seu nascimento, essa cena foi muito mais emocionante e marcante do que o tal beijo em si.
Não foi casual que a Rede Globo encerrou a novela dando mais peso para a reconciliação familiar e a declaração de amor entre pai e filho do que ao final feliz com o beijo do casal gay protagonista. O beijo entre os dois homens, em si, não modificou a subjetividade da população. Não vai fazer aqueles que são contra as relações homoafetivas ficarem a favor, todos já esperavam esse beijo e comentavam sobre ele independente dele vir ou não ao ar. No dia seguinte, em uma banca de jornal, era possível ouvir daqueles que são contra as relações homoafetivas os comentários de repúdio ao pegarem 'O Agora’ ou ‘O Diário’ e verem a foto do beijo estampada em um quadradinho pequeno na capa e a naturalidade de sempre daquelxs que sempre enxergaram de forma natural o beijo entre pessoas na vida real. Ao mesmo tempo em que a Rede Globo traz uma cena de beijo entre dois homens, envolve esta por inúmeros elementos que buscam demonstrar qual o ‘tipo’ de homossexual aceitável. Ideologicamente significa reforçar a moral familiar e, até mesmo, cristã (basta ver o ultimo pronunciamento do Papa com relação aos homossexuais e a Igreja[3]), fortalecer a concepção reacionária da família nuclear burguesa e condicionar o potencial subversivo e explosivo latente na luta pela liberdade sexual encabeçada pelxs homossexuais aos limites da democracia burguesa e da luta pela visibilidade, aceitação e cidadania.
            Ao não se preocupar com o fato de que, com a educação moral conservadora que temos nas escolas, igrejas e famílias, a reprodução em si de uma cena de beijo entre dois homens que não desconstrua esse preconceito e ódio ensinado durante anos de vida termine por reforçar os preconceitos e ódio nos setores reacionários da sociedade, ao mesmo tempo em que se comemora acriticamente a trama de conjunto, a esquerda desarma a luta dxs homossexuais, pois retira a cena do seu contexto e não extrai as conclusões ideológicas conservadoras fundamentais que a burguesia passa, pela via da Rede Globo, na subjetividade da população e que é necessário combater. Essa esquerda miserável não é capaz de educar e politizar em cima da situação nacional aberta, mas segue debatendo mortalmente se a Globo foi progressista ou não; se o beijo foi responsabilidade da luta dxs homossexuais ou fruto das Jornadas de Junho, ou dos dois, ou se da benevolência de Walcyr Carrasco; e não consegue de fato, a partir dos sindicatos, movimentos sociais e entidades estudantis que dirige, politizar e debater a sexualidade com a classe trabalhadora e a juventude utilizando da repercussão dessa cena e fazendo o combate a todas as contradições reacionárias que a trama de conjunto engendra no subjetivo da população.

Por uma resposta classista para a sexualidade
            O movimento LGTTBI organizado e dirigido pelas ONG’s surgidas na década de 90 e dirigidas pelo PT mostrou sua falência histórica no decorrer do ano passado. Mesmo após junho, esse movimento cooptado, ligado ao petismo e aos partidos governistas e que tem como estratégia a eleição de parlamentares gays para defender os direitos igualitários de cidadão dxs homossexuais por dentro do capitalismo, não foi capaz – exatamente por tudo isso – de derrubar Marco Feliciano da CDH. A esquerda reformista busca se localizar nas contradições do governo e ocupa o espaço a esquerda do PT, com a mesma estratégia de eleger seus parlamentares – como Jean Wyllys, do PSOL, o mesmo que defende a legalização da cafetinagem e, consequentemente, a institucionalização da miséria sexual da humanidade. A esquerda centrista, pela sua lógica de departamentalização das demandas dos setores oprimidos e pela pressão pequeno-burguesa que possui em fazer da luta contra as opressões sociais uma luta contra os sujeitos socialmente privilegiados pela sociedade e não uma luta contra essa sociedade que engendra esses privilégios, não consegue se colocar como alternativa para xs homossexuais na luta pela liberdade sexual, pois termina fazendo dxs homossexuais quadros das suas causas particulares e não dirigentes revolucionários na construção de uma organização que derrube esse sistema de conjunto. A academia, por sua vez, ligada a Teoria Queer, a Judith Butler e Foucault, com uma discussão sobre a sexualidade menos adaptada à democracia burguesa da época de restauração e mais livre, peca por não trazer a luta para a realidade de classes e permanece divagando no universo particular do abstrato quais seriam as formas de relações mais completas e menos opressoras em uma sociedade desejável. Sem buscar construir o caminho para chegar até essas relações e essa sociedade, que passariam necessariamente por se colocar nas trincheiras da classe trabalhadora contra a burguesia, acabam se adaptando ao reformismo e a eleição de parlamentares homossexuais.
            É necessário que a esquerda paute esse debate nas categorias operárias que atua seja como oposição ou direção sindical. A Oposição Alternativa de professores do Estado de São Paulo, por exemplo, não pode entrar em greve sem questionar profundamente o currículo e a escola, pautando a necessidade da educação sexual laica e não moralista e organizada pelxs professorxs, assim como o desvinculo da Igreja com o Estado e a educação. A esquerda não pode mais, ano após ano, somente observar a “burguesia Pink” lucrar como poucas vezes no ano sobre um evento que deveria servir para impulsionar a luta contra os pilares desse sistema social que inibe e reprime a nossa sexualidade, que seriam as Paradas Gays.
            É nesse sentido que faço um chamado público para toda a esquerda, começando com a organização na qual eu milito, a Juventude às Ruas, e a entidade nacional que construo, a ANEL, a organizarmos um forte bloco classista na Parada Gay do dia 04/05 em São Paulo (e nos dias das demais cidades), que esteja unificado sob a bandeira da educação sexual laica nas escolas; pelo aborto legal, livre, seguro e gratuito; por hotéis públicos para a juventude poder se relacionar sem os perigos do sexo insalubre e anti-higiênico e livre da opressão familiar; pelo direito a identidade trans; por anticoncepcionais e cirurgias de redesignação sexual gratuitxs e com acompanhamento de qualidade em um SUS controlado pelos trabalhadores da saúde; pela garantia por parte do Estado de trabalho para todas as travestis em situação de prostituição; pela prisão de todo aliciador e cafetão, como a punição de todxs xs agressorxs de homossexuais, a começar pelos parlamentares, ‘humoristas’ e meios de comunicação que reproduzem e legitimam a violência homofóbica.
            Nós, da Juventude às Ruas, estaremos em bloco, com toda a certeza junto do Grupo de Mulheres Pão e Rosas, como parte do Movimento Mulheres em Luta, levantando bem alto que essas demandas só podem ser conquistadas na luta dxs homossexuais de maneira organizada para se defenderem dos homofóbicos e da polícia; na confiança estratégica que a classe trabalhadora, com todos os atrasos e preconceitos que muitos setores reproduzem da ideologia burguesa, é a única que pode derrubar esse sistema, e que somente enquanto parte da classe trabalhadora é possível a luta séria pela liberdade sexual.




[1] Ver D’Emilio – Capitalismo e Identidad Gay
[2] Ver nota “Quem tem medo do beijo gay?” escrita por Lucas Brito da Secretaria Nacional LGBT do PSTU.
[3] Ver http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,papa-abre-igreja-aos-gays-aos-divorciados-e-as-mulheres-que-abortam,1076594,0.htm

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sobre a polêmica do "beijo gay"

Por Felipe Chagas, militante da Juventude às Ruas - USP



Mudanças de paradigmas. Hoje, nós LGBT*, em tese, deveríamos estar festejando. Deveríamos estar festejando porque, em tese, toda a nossa comunidade foi “oficialmente” reconhecida pelas famílias ‘quatrocentonas’ cariocas depois do “primeiro beijo gay da TVGlobo”. Hoje, sábado, 01 de fevereiro de 2014, sem dúvida nenhuma, muitos comentaristas de plantão estarão enviando seus amores às corporações Globo pela grande iniciativa.

No entanto, eu como gay, viado, fagg, bicha, e todos os epítetos já utilizados para tentar me ofender (não só nas ruas, mas também por esse mesmo meio de comunicação, a TV), não estou nada contente. Aliás, acredito que dada às comemorações alheias, este talvez seja o melhor momento para uma boa reflexão e nada mais feliz que fazê-lo inaugurando um novo blog que se dedicará exclusivamente às LGBT* em luta.

A realidade é que nós existimos e isso incomoda muita gente. Incomoda muita gente a ideia de pessoas poderem viver em harmonia longe do núcleo fundamental da burguesia: uma família heterossexual nucleada por um macho alpha com prole também heterossexual que gerará mais famílias heterossexuais nucleadas. Eu me lembro, da minha infância (que não se vai muito longe, diga-se), de muitas pessoas se surpreenderem com alguns papéis femininos, também em novelas globais, sendo trabalhadoras, mães solteiras e tudo o mais que faz parte da realidade da população brasileira há muitos anos.

Há muitos anos, há muuuuitos anos, há milhares de anos, os homo sapiens sapiens (a.k.a. nós) desenvolveram a habilidade de fazer sexo para recreação (!) (assim como os golfinhos!) e óbvio, não eram só órgãos sexuais femininos penetrados. Eu poderia me debruçar sobre meu notebook reavivando muitos conceitos históricos a respeito dos inúmeros tipos de relações entre seres humanos que se diferem do “papai e mamãe” e que hoje conhecemos como a comunidade de LGBT*, mas isso desviaria o foco desse texto.

O que de fato importa é que, aproximadamente, nos últimos dois milênios foram criados padrões de tantos tipos para justificarem tantas opressões (homofobia, machismo, xenofobia, racismo, são todas opressões pelas quais o atual sistema social vigente se mantem) que as LGBT* se esconderam cada vez mais dentro de si. Nas últimas décadas esse grupo de pessoas não organizado sentiu (é importante que se diga que no movimento LGBT, assim como no movimento de mulheres ou no movimento negro, existem muitas frações e diferenças), talvez como o espírito do tempo, que estava na hora de mudar essa realidade do submundo e tomar para si o papel de cidadão como o de todas as outras pessoas.

Nesse momento nós avançamos. Com a novela da Globo ontem, não.

A realidade, gente, é que nós estamos aqui, e o que vimos ontem nas telinhas (sic) foi apenas uma realidade retratada de forma mais que atrasada a partir do ponto de vista da burguesia (com seu núcleo familiar patriarcal, heterossexual e com prole) sobre a nossa existência. É tão vergonhoso as LGBTs se arrastarem por várias novelas para conseguirem um único beijo gay no principal canal de televisão no “horário nobre”, que me sinto revoltado. Sinto-me revoltado porque é humilhante saber que depois de tantos anos, com uma audiência exorbitante causado pelo principal personagem dessa obra ficcional (que é um ex-vilão gay que virou mocinho), que o tão esperado beijo foi um selinho que durou 4 segundos (ou menos que isso), na penúltima cena da novela depois das 23h duma sexta-feira. Patético, apenas.

Na noite de ontem nós não fomos reconhecidos, gente. Na noite de ontem nós arrancamos da burguesia brasileira (e sim, galerinha, não adianta vir com Reinaldo Azevedismo que não cola) uma coisa que ela estava guardando às sete chaves: o nosso direito de ser o que quisermos. Ao mesmo tempo em que muitos devem estar mandando flores ao diretor de núcleo da Globo, muitos devem estar, assim como eu, escrevendo textos e mais textos atacando o “perigo que ronda a família brasileira”, como diria infelicianos por aí.

Por fim, é preciso que nós, LGBT*, aprendamos com nossa própria história: nada nos é dado, tudo por nós é conquistado e com muita luta. Dessa vez não foi diferente, afinal hoje o Brasil reconhece a legalidade da união civil entre qualquer pessoa e, apesar de ofuscado pelos movimentos de junho, a luta da união civil igualitária foi uma das que mais mexeu com os alicerces sociais e colocou gente nas ruas em 2013 (antes de junho) e nos trouxe a um novo paradigma. Muitas lutas ainda existem e precisamos vencê-las o mais depressa possível pois, assim como o beijo de Félix e Nico, são para ontem!

E já que citei junho, faço um apelo e um alerta aos companheiros de várias organizações políticas, inclusive aos meus: junho veio e se foi, gente. Nós devemos saber aproveitar os acertos desse fenômeno, mas também precisamos aprender, e muito, com os erros que cometemos. Junho, assim como julho, agosto, setembro e todos os subsequentes, se foram. Sua herança, de fato, é atemporal, mas hoje devemos travar outras lutas para alcançarmos nossas vitórias. Às vezes a realidade nos é dura e não queremos aceitar que algo tão magnifico possa ter se esvaído de nossas mãos tão rapidamente, mas a realidade é uma tirana e se impõe. Que nos próximos meses em luta que virão, as LGBT* retomem seu protagonismo e, com o resto dos trabalhadores, possamos voltar às ruas e lutar por um mundo sem opressões.