quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Somos todos EACH!

A estrutura centralizada, antidemocrática e autoritária da Universidade de São Paulo nos proporciona mais uma vez um episódio lamentável. Desde a “suspeita de contaminação do solo” em setembro, seguida de uma greve geral, mobilizada organicamente pelos três setores e uma ocupação, a USP continua com sua postura intransigente ao não pautar com a seriedade necessária o problema ambiental que se desenrola na EACH.

O próprio Ministério Público entrou com uma ação contra a universidade cobrando a solução das irregularidades, impedindo a ampliação do Titanic e dando 30 dias para que todas as atividades de aula e administrativas sejam movidas para outro espaço.

No início a universidade cruzava os braços, dizendo que não havia sido informada sobre o recurso, como se o problema da contaminação já não tivesse sido pautado em uma greve geral que durou 50 dias.

Nas últimas semanas, porém, a reitoria finalmente se pronunciou, falando que iria recorrer da decisão do juiz, claramente fechando os olhos para os problemas que estão acontecendo naquela unidade. Enquanto isso o ambiente do campus se torna cada vez mais insalubre, com a contaminação da água, infestação de piolhos de pombo e até a ameaça de um surto de sarna.

E qual a atitude da direção?
Culpar em nota o movimento de greve e a ocupação por sua irresponsabilidade de não cumprir os requisitos mínimos para a manutenção do bem-estar da unidade.

Precisamos nos lembrar que desde o início desse processo a direção já foi trocada (o diretor Boueri foi afastado pelo movimento, e, na sequência, pela reitoria, e tomou posse, até o fim do ano, seu vice Leite), e até foi conquistada uma consulta à comunidade, que, no entanto, é subordinada à Congregação da EACH e ao Reitor. Desde então apontávamos a insuficiência desta consulta para conseguir democratizar a direção da EACH ou dar respostas aos problemas que sofremos na unidade.

Os crimes ambientais que aconteceram na EACH foram feitos antes da gestão Boueri, ou Rodas, por isso é necessário aprofundar o debate em torno do caráter antidemocrático do cargo de Reitor, do oligárquico Conselho Universitário que rege a universidade, e, no caso da EACH, de diretor que justamente por ter uma grande concentração de poder, bem como da Congregação que é também extremamente antidemocrática. Esta estrutura de poder facilita políticas criminosas como as que estão acontecendo na unidade.

Vale lembrar que, desde 2011, muito foi discutido sobre o fechamento de cursos na EACH. A reitoria, o Conselho Universitário e a direção da EACH chegaram a se posicionar favoráveis ao fechamento de um curso de imensa importância social, mas baixo apelo mercadológico, como obstetrícia, demonstrando bem o projeto de universidade que defendem. O fechamento só não ocorreu pela resistência do movimento estudantil.

É necessário também ligar estas demandas a uma luta pela democratização do ensino superior, aumentando as políticas de permanência estudantil e lutando por cotas raciais proporcionais ao número de negros no estado (36%) e pelo fim do vestibular. A EACH é a unidade da USP com maior número de alunos de escolas públicas, porém não tem ao menos um prédio de moradia estudantil, isso contribui muito para que os cursos da faculdade se mantenham no topo do número de evasões de alunos. Além disso, é evidente que o plano de Alckmin quando criou a EACH era o de deixar seus cursos mais precarizados para ser uma “prima pobre” da USP (nas palavras da Folha de S. Paulo), mostrando que a política do PSDB no estado é a mesma do PT no governo federal com o REUNI: uma expansão insuficiente e precária para os filhos da classe trabalhadora, enquanto mantém os pólos de “excelência” elitizados e racista.

Nesse momento é necessário pressionar a reitoria para tomar responsabilidade e lidar com a problemática ambiental, porém sabendo que esse problema é fruto do caráter extremamente antidemocrático e autoritário das estruturas de poder da Universidade.

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