sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A greve da USP e algumas de suas lições


O reflexo de junho explode na USP em outubro

No dia 1 de outubro teve início na USP uma das maiores greves estudantis dos últimos anos nesta universidade. Quando centenas de estudantes atenderam o chamado feito pelo DCE para um ato por democracia na USP (sendo que o programa do DCE para esta demanda era apenas de “diretas para reitor”), ocuparam a reitoria da universidade e deram início à greve em uma assembleia com mais de mil estudantes, isto estava longe de ser uma surpresa imprevisível.

Ao longo do ano, diversas mobilizações estouraram na USP até mesmo antes das jornadas de junho: greve no direito pela mudança curricular; mobilizações na FAU contra as reformas da diretoria; mobilizações na FEA contra a instalação de catracas; greve dos três setores na EACH em protesto contra a contaminação do campus. Outros tantos descontentamentos estavam latentes, como a revolta pela falta de professores na Letras. 

O ato do dia 1 de outubro foi o estopim que unificou estas demandas e desencadeou a luta unificada dos estudantes.

Da Reitoria e do Governo do PSDB mais do mesmo: Repressão e autoritarismo

Coerente com seu projeto estratégico de destruir o movimento de trabalhadores e estudantil, determinado pelo Governo do PSDB, Rodas manteve sua característica forma truculenta e autoritária de lidar com a luta, desde o início. Inicialmente com uma estratégia de “fingir de morto”, postergaram o quanto puderam as negociações, buscando que o movimento se esvaziasse com o tempo e a ameaça de fim de semestre. Infelizmente, para eles, os estudantes seguiram em luta conseguiram, após a adesão de dezenas de cursos, impor negociações que, por política da reitoria, serviram para ser mais uma etapa em sua estratégia de desgaste, com promessas vazias, “tirando o corpo fora” e muito silencio sobre questões cruciais, como o fim dos processos aos trabalhadores e estudantes, a reintegração de Brandão, Cotas e toda uma série de demandas que o movimento levantava.

Conforme o movimento chegava a seu ápice a Reitoria, como não poderia deixar de se esperar, buscando dar um ponto final e vender uma “saída” para a greve e ocupação, acenava com um “acordo salvador” que, além de não garantir nenhuma conquista efetiva,  sendo apenas  uma declaração de intenções sem prazos ou compromissos claros firmados, garantia que seríamos punidos pela mobilização.

Como toda “boa” estratégia do PSDB, se não vale o engodo, vale a repressão e, quando da recusa dos estudantes quanto a este acordo, Rodas, o primeiro reitor a militarizar a USP após a ditadura, novamente convocou o choque, com seus cachorros e sanguinários, para resolver o problema.
O saldo foi de dois estudantes presos fora da reitoria e torturados dentro do camburão para assumirem que estavam envolvidos na “baderna”.
Mais uma vez, o PSDB deixaria sua marca de truculência como um aviso aos que virão de como lidar com as lutas dentro e fora da USP.

O programa do PSOL e PSTU questionado desde o início

Se por um lado enfrentamos nosso inimigo, com sua característica intransigência repressiva, tivemos de, ao longo da greve, superar também a tão característica política corporativista e cética das direções de PSOL e PSTU no movimento.

Já na assembleia que deflagrou a greve, no próprio dia 1, com presença expressiva de estudantes de diversos cursos e campi, como EACH e São Carlos, o programa de “diretas” ficou questionado pela vanguarda do movimento. Como sempre apontamos, este programa é absolutamente insuficiente para mudar o que é a universidade e sua estrutura de poder. 

Hoje a USP é dirigida pelo Conselho Universitário (C.O.), um punhado de professores titulares com ínfima participação estudantil e de trabalhadores, e  com “ilustres convidados” para representar a “sociedade civil”, tal como representantes da FIESP, FAESP (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo) e FECOMERCIO. Estes “ilustres senhores” são ligados, em sua maioria, às fundações privadas e às empresas terceirizadas que lucram com a privatização da universidade e a precarização do trabalho e cujos donos representam 1/3 do C.O. demonstrando a serviço do que está a USP.

Mantendo este conselho de pé, a estrutura podre da universidade mais elitista e racista do Brasil fica intacta. Além disso, quem pode se candidatar para reitor são apenas os professores titulares.
É por isto que nós dizemos que diretas para reitor não basta: não queremos escolher um tirano, queremos democracia de verdade na USP.

Na primeira assembleia da greve, as centenas de estudantes que estavam lá, mesmo que em sua maioria nunca tivessem tido um contato prévio com outro programa que não o do DCE, rapidamente compreenderam a insuficiência deste a partir da discussão que nós e outros setores colocaram, e aprovaram as consignas de dissolução do Conselho Universitário, por um governo tripartite (composto por estudantes, professores e funcionários) e por uma Estatuinte Livre e Soberana. Isto mostrou claramente que “não é só por diretas”, como dizia o DCE demagogicamente. Os estudantes que estiveram nas ruas em junho e se mostraram indignados com os governos da burguesia do PT, PSDB e PMDB queriam ir além de uma reforma cosmética na estrutura de poder da USP.



Uma política correta para disputar o programa a partir das bases

Contudo, a greve se espalhou por toda a universidade, e estava claro que, graças à política do DCE de levantar as diretas como o programa que “dialogava mais”, nem todos os estudantes puderam compreender

a insuficiência destas.
Por isto, nossa política não foi, como a de setores como o POR e o PCO, de querer “banir” nas assembleias gerais a pauta de diretas, o que significaria uma política de separar a vanguarda que se reunia nas assembleias gerais da base dos estudantes que se reunia nas assembleias de curso (nas quais poucas aprovaram o programa mais avançado em oposição ao do DCE).
Nossa política era de, em cada assembleia de curso, discutir a insuficiência das diretas e qual programa deveria ser levantado para democratizar de fato a USP.

Fizemos isto não apenas em relação às diretas, mas em outros aspectos fundamentais do programa, como a questão do acesso, em que o DCE levantou o programa de cotas da Frente Estadual Pró-Cotas– que limita as cotas raciais a menos da metade do que o movimento negro reivindica historicamente –, e que nós disputamos nas assembleias de curso o programa de cotas para negros proporcionais à população do estado (36%), ligada à luta pelo fim do vestibular e estatização das universidades privadas, como via de nos ligar a maioria da juventude fora da USP e demonstrar “que democracia” queremos.
Junto disto, buscando ligar a vanguarda do movimento estudantil ao conjunto dos estudantes, ainda sob a influência das “diretas” do DCE, lutamos por uma Estatuinte Livre, Democrática e Soberana, que fosse imposta pela luta e com a derrubada do C.O. e da Reitoria, para arrancar uma verdadeira democracia na USP, garantindo que os trabalhadores, estudantes e funcionários efetivos e terceirizados definissem os rumos de seu conhecimento, pesquisas, verbas, além das questões referentes ao acesso, permanência e estrutura de poder, demonstrando ao povo trabalhador que lutamos pela transformação da USP a seu serviço.

Nessa luta tivemos que nos enfrentar também com as direções da UNE (PT/PCdoB) que apoiavam a consigna por uma Estatuinte Livre, Democrática e Soberana, mas mantendo o Conselho Universitário intacto, os órgãos colegiados com sua composição majoritariamente docente e, inclusive, mantendo a figura do Reitor. Não à toa, foram entusiastas e militaram chamando os estudantes a participarem da consulta para Reitor, um engodo aprovado pelo questionado C.O. do dia 01/10, dizendo ser “um passo para a democracia que os estudantes deveríamos aproveitar”.

Esta política que levantamos se opunha também à política oportunista levantada pelo MNN/Território Livre, que ao invés de disputar o programa correto nas bases preferiu reproduzir capitular o programa incorreto do DCE (mesmo também considerando o programa de diretas como incorreto) com uma “cara de esquerda” e levantar o programa de “diretas universais” com voto por cabeça ao invés das diretas paritárias, tentando assim apenas se localizar ao invés de por de pé um programa que mostrasse que nossa luta era da maioria da população.



O combate por um comando de greve ligado às bases para dirigir a luta

Nesta greve, como em todas as outras, travamos uma luta contra a forma burocrática que PSOL e PSTU procuraram em todos os momentos dirigir o movimento a partir da gestão do DCE e por fora de discussões democráticas nas bases. Por isto, como sempre fizemos, propusemos um comando de greve com delegados eleitos em cada assembleia de curso para representar as posições destas, e que pudesse ser revogado e substituído a qualquer momento.
Historicamente, tanto PSOL como PSTU foram contrários a esta proposta, defendendo comandos de greve “abertos e por consenso”, que, com uma cara “mais democrática”, poderiam na verdade emperrar qualquer decisão bloqueando o consenso e, assim, continuar dirigindo o movimento pelas costas do comando a partir das entidades.

Defendemos a legitimidade das entidades estudantis e de sua representatividade, e inclusive lutamos por sua democratização defendendo gestões proporcionais nos CAs e DCE.
 Contudo, em momentos de luta como o que estávamos passando, é necessária uma direção mais dinâmica e mais sensível às bases, ligada às discussões cotidianas de cada curso e à evolução política dos estudantes no calor da mobilização.
Nesta greve, diferente de outras mobilizações, PSOL e PSTU rapidamente concordaram com nossa proposta de comando. Mas então eles reviram sua posição e resolveram ser mais democráticos com as bases? Não.
Na verdade, o que ocorreu foi que a gestão do DCE percebeu rapidamente, a partir dos resultados desfavoráveis da primeira assembleia geral, que ali naquele espaço estava se reunindo uma vanguarda muito mais radicalizada e com posições que se contrapunham às suas e, assim, havia um risco de que perdessem o controle do movimento com as decisões das assembleias gerais.
Contudo, na base dos cursos a posição do DCE ainda era hegemônica, e por isto eles poderiam eleger a maioria de delegados e sua posição política prevaleceria nas reuniões do comando. Por isto, foram favoráveis para poder manter o controle do movimento. Um cálculo político, digamos, oportuno.
Mas então por que a Juventude às Ruas não defendeu manter as assembleias gerais como único órgão de direção do movimento, se suas posições poderiam ser mais hegemônicas ali? Porque para nós não se trata de uma questão tática, do que é mais conveniente no momento. O comando de greve faz parte do que nós chamamos de “auto-organização”, que significa as bases do movimento poderem se organizar politicamente e ser sujeitos políticos de sua mobilização.
 Se, num primeiro momento, as posições do DCE eram de fato hegemônicas nas bases, defendemos que a auto-organização a partir do comando de greve é a melhor forma da maioria dos estudantes fazerem experiência com todas as posições, dirigirem a luta abarcando todas as posições dos cursos e poderem tirar balanços e avançar, vendo que as posições políticas do DCE são equivocadas para poder levar o movimento à vitória.
 Enquanto as assembleias gerais são espaços em que a democracia dificilmente pode se expressar, pois são milhares de estudantes e isto leva a que nem todos possam falar, que tenhamos bizarrices como o sorteio de falas, que os encaminhamentos sejam confusos e muitas vezes ganhe a política de quem souber “manobrar melhor” as votações, no comando devem se expressar a posição dos estudantes reunidos em um espaço muito mais democrático, que são as assembleias de curso, onde há um debate muito mais aprofundado.

As debilidades do comando de greve e a política do DCE para este

Contudo, para que o comando expresse de fato as posições das bases, algumas coisas são necessárias: as discussões feitas nas bases devem se refletir na eleição dos delegados, e estes devem levar as posições das assembleias proporcionalmente a partir das principais discussões.

Se, por exemplo, a principal polêmica se dá em torno do programa, que a eleição expresse isto. Por isto defendemos a eleição de delegados por chapas, para que o debate político se expresse.
 Isto não quer dizer “amarrar” os delegados a votarem apenas o que foi discutido nas assembleias de curso: para nós eles cumprem o papel político de direção do movimento, e por isto devem ter autonomia para votar em outras questões.
 Isto, no entanto, faz com que seja imprescindível que os estudantes nos cursos tenham controle sobre seus delegados, ou seja, que tenham momentos de balanço para debaterem o que cada delegado levou ao comando, como estão atuando politicamente. A partir disto se poderá revogar os delegados e substituí-los. Assim, o comando passa a ser um organismo democrático, sensível às bases e que permite que os estudantes façam experiência política com as distintas posições.
Demos uma luta política para que o comando funcionasse assim, em particular na Letras onde compusemos a chapa 1 de delegados junto a estudantes independentes, chamando reuniões abertas de balanço e dando uma luta para que os delegados fossem revotados a cada assembleia (mas esta posição prevaleceu apenas em uma assembleia).

Isto mostrou resultado, pois se na primeira votação dos delegados na Letras o DCE levou a grande maioria, na segunda, no período noturno, a chapa 1 teve mais votos a partir do balanço que apresentou sobre a atuação de cada delegado. Contudo, sabemos que o comando não funcionou de forma alguma como deveria: nos cursos onde o DCE dirige sozinho, como a Farmácia, tiveram uma posição extremamente burocrática de eleger os delegados na primeira assembleia e nunca mais revotá-los, chegando a manter mais de uma dezena de delegados em cursos que já tinham até saído da greve! Isto comprova como para eles o comando não é uma questão de democratizar o movimento e fomentar a auto-organização, mas apenas mais uma forma burocrática de dirigir o movimento para levar a sua política sem discutir com as bases.

Para levar o movimento à vitória, era necessário unificar as lutas

Desde o começo se expressaram três estratégias distintas para o conflito. 

A estratégia do DCE era de levantar uma luta corporativa, ou seja, que se restringisse aos muros da universidade com a política apenas de diretas para reitor, sem dialogar em nada com os que não estão na USP, mostrando nos jornais como era uma luta para os “estudantes poderem opinar”. Por outro lado, havia os que levantavam a radicalização nos métodos por fora de pensar em como se aliar a outros setores, tal como o MNN, que levantava o programa de diretas universais e métodos como a ocupação da nova reitoria por fora de pensar em como massificar a greve e ganhar aliados.
Mesmo setores que levantavam um programa mais correto para a estrutura de poder, como POR e PCO, tinham uma política vanguardista e sectária, sem pensar em como disputar este programa nas bases, das quais estavam descolados, travando nas assembléias gerais disputas sobre “propostas mais corretas” tentando impor uma cartilha imensa de pautas, sem pensar em qual o programa para ligar a base e a vanguarda. No caso do PCO, sem procurar nenhuma medida de aliança com setores de fora da USP ou de fortalecer a auto-organização a partir do comando.

Nossa estratégia se distinguia das demais por vermos no conflito a possibilidade de reacender a faísca de junho, que a importância política da USP no cenário nacional poderia espalhar por todo o país. No mesmo momento em que lutávamos na USP, duas importantes greves da educação aconteciam: a histórica greve dos professores do Rio, que há mais de vinte anos não protagonizavam uma luta como esta; e a greve dos estudantes da Unicamp, bem ao nosso lado, levantando a mesma pauta pela qual lutamos em 2011: contra a polícia.

Em nossa visão, a unificação destas lutas poderia mudar completamente o cenário das lutas. Não uma unificação “em palavras”, como o DCE fez em mais de uma oportunidade dizendo que “apoiava” a greve no Rio e na Unicamp. Propusemos e inclusive conseguimos aprovar nas assembleias medidas concretas de unificação: na USP e na Unicamp, onde também está presente a Juventude às Ruas, propusemos a criação de um comando de greve estadual, de uma plenária unificada estadual que também incorporasse Unesp e Unifesp, e um dia nacional de lutas em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade para todos, todas iniciativas em relação as quais o DCE não se contrapôs mas não deu peso algum.

A possibilidade de que pudéssemos dar um exemplo nacionalmente de uma forte luta em defesa de uma das principais demandas de junho – a educação – significava uma possibilidade concreta de que outros setores seguissem nosso exemplo e pudéssemos desencadear uma luta muito maior e mais forte contra as reitorias e os governos em todo o país. Também defendemos a unificação com os que são excluídos do acesso a universidade com medidas como o ato de quebra dos muros que separam a USP da São Remo, que o DCE insistiu em boicotar a todo o momento. Mais uma vez, o ceticismo e a estreiteza, combinados a ansiedade pelas eleições e a rotina estudantil das direções do PSOL e PSTU mostrou que não estão a altura das tarefas que temos pela frente.

Da não unificação aos “acordos vitoriosos” que enterraram as lutas

No dia em que foi realizada a reunião do comando estadual, aprovada nas duas universidades, tanto o DCE da USP como o da Unicamp (dirigido pela corrente 1 de maio, também do PSOL), como dissemos, boicotaram este importante espaço.
Compareceu apenas um delegado do PSTU da USP. O sindicato dos professores do Rio também era dirigido por PSTU e Insurgência/PSOL, duas correntes que estão no DCE da USP.

Também o PSTU dirige a ala majoritária da ANEL, uma entidade nacional na qual estudantes de diversas universidades do país atuam, e o PSOL dirige a Oposição de Esquerda da UNE, tendo também peso nacional, sendo que essas correntes poderiam ter tentado organizar um dia nacional de mobilizações, paralisações e ocupações de Reitorias, como propusemos em Assembleia da USP e como ala minoritária da ANEL buscamos construir nos locais onde atuamos. Mas não o fizeram. Isso sem falar da majoritária da UNE e do Campo Popular (dirigido pelo Levante Popular da Juventude), que se orgulham em dizer que dirigem a entidade que representa a maioria dos estudantes do Brasil, mas na hora de um conflito dessa magnitude mostram o aparato inútil que essa entidade nacional se tornou sob suas direções.

A unificação estava em suas mãos, mas a estratégia das “pequenas vitórias” em cada local prevaleceu: na Unicamp, diante do primeiro recuo que o movimento conseguiu impor à reitoria, o DCE defendeu a desocupação da reitoria, o que, na prática, significou o desmonte da greve.
Chegaram a dizer em assembleia que “a melhor forma de apoiar a luta da USP era sair da reitoria com uma vitória e mostrar que é possível vencer”. Mas o recuo da Unicamp mostrou bem as “vitórias” que o PSOL e PSTU constroem: no dia seguinte da desocupação, os estudantes da Unicamp passaram a ser chamados pela polícia para depor e o vice-reitor foi à imprensa para dizer que “a possibilidade da polícia no campus não está descartada”.

Assinaram um acordo que não garantia a não punição dos estudantes, e que inclusive responsabilizava o DCE por qualquer dano causado à reitoria! Chegaram mesmo a aprovar em assembleia uma campanha financeira do movimento para pagar os “danos” à reitoria, assinando embaixo da criminalização do movimento!

Por incrível que pareça, assim que isto aconteceu na Unicamp o DCE da USP saiu dizendo que tínhamos que “seguir o exemplo” da Unicamp, e até na mesa de negociações propuseram um acordo do “modelo Unicamp”, que criminalizava o DCE pela ocupação.

Saíram da negociação, ao contrário do que afirma o PSTU em seu balanço (“garantindo” permanência estudantil e parte das pautas atendidas), com seu “acordo vitorioso”, que, como todos puderam ver, era um apanhado de promessas requentadas que a reitoria já havia feito mil vezes, sem nenhuma garantia de nada.

Contudo, o mais grave não eram as falsas promessas que o DCE se esforçou em pintar de “vitórias” em seu comunicado aos estudantes em que descaradamente mentiam sobre o conteúdo do acordo.

O pior era que, além de ter medidas claramente antioperárias como a “ampliação do funcionamento dos Restaurantes” sem nenhuma garantia de novas contratações nem mudança no regime exploratório de trabalho que existe nos refeitórios, o acordo dizia expressamente que os estudantes seriam processados e “os procedimentos administrativos observarão os princípios constitucionais”, o que o DCE afirmava que era uma garantia de não punição!
Uma coisa é sair da greve de mãos abanando, e em determinados momentos a correlação de forças pode de fato impor isto ao movimento. Outra coisa, bem distinta, é assinar um acordo dizendo à reitoria que o movimento concorda que os estudantes sejam punidos... em respeito a constituição!!!! Para nós, isto é algo completamente absurdo, pois significa que nós estamos legalizando e naturalizando punições contra nossas mobilizações políticas.

Por isto defendemos que o acordo não fosse assinado, e em uma assembleia geral isto foi aprovado por 757 votos contra 562 (o que, de acordo com o balanço do PSTU da greve, é uma “vitória apertada”sic!).

Contudo, para o DCE e as correntes governistas não bastou votar pelo fim da greve e pela assinatura do “vitorioso acordo” que garantia punições: na semana da assembleia que votou contra o acordo, eles militaram como em nenhum outro momento da mobilização, passando em cursos onde não tinham dado as caras antes, como Poli e Veterinária, para chamar os estudantes para a assembleia e votar o fim da greve! Chegaram a trazer dois ônibus de São Carlos, coisa que só fizeram para o ato do 1 de outubro, para poderem ganhar a posição na assembleia! Na Assembleia da Faculdade de Educação foram capazes de defender contra que os estudantes voltassem à greve mesmo se houvesse reintegração de posse da Reitoria (que naquele mesmo dia tinha sido aprovado pelo juiz).

E mesmo assim, perderam pela “apertada” margem de 200 votos. Em diversos lugares, como no curso de Relações Internacionais, Educação Física e no campus de São Carlos, defenderam que os estudantes saíssem da greve após conquistarem suas pautas específicas, e disseram que este era o “exemplo a ser seguido” nos outros cursos. Ou seja, quando na assembleia geral a gestão do DCE disse que era necessário acabar com a greve porque “não havia correlação de forças”, o que eles esconderam é que lutaram em cada curso para criar esta correlação de forças desfavorável, desmobilizando a greve em cada lugar!

O PSTU, em seu balanço, desenvolve a peripécia mental de dizer que a “ultra” (na qual incluem a todos que lhes fazem oposição) dialogou apenas com a vanguarda “mais a esquerda” que se divorciou (por alguma obra mágica do destino) da base dos estudantes.
Esquecem, apenas que, se houve algum divórcio, foram eles, juntos do PSOL, o Juiz e o escrivão que fizeram de tudo para assinar a separação... da base com a vanguarda!

O “´diálogo” com a massa estudantil que tanto se gabam em possuir se baseou em separá-las do sentimento mais correto e progressista que dizia que, após junho a luta da USP deveria sair dos seus muros. Mais uma vez, com sua rotina e ceticismo cansados mostraram a incapacidade frente aos novos tempos...


No Rio, a atuação do PSTU e da Insurgência (que na USP apresenta o nome de Movimento Primavera) não foi diferente: depois de uma combativa greve que enfrentou a polícia e a intransigência do governo, a direção do sindicato defendeu sair da greve de mãos abanando, e teve que refazer a votação um punhado de vezes para passar esta posição (por 1.085 contra 889 – nesse caso sim uma votação apertada!). Ou seja, para PSOL e PSTU, a política em todas as mobilizações é esta: isolar as lutas e garantir “vitórias” mínimas em cada lugar (ou inventar alguma caso não exista nenhuma conquista de fato), e em seguida abandonar a luta esperando as próximas eleições.


Da desmobilização “vitoriosa” ao boicote ao movimento

Infelizmente, após a derrota de sua política no movimento, o DCE se recusou a se disciplinar pelas bases e fazer experiência com sua política. Passaram a boicotar o movimento, esvaziando a ocupação da reitoria, inviabilizando uma reunião do comando de greve com piquete humano a pretexto de se colocar contra a agressão de um militante do PCO a um militante do PSTU (agressão esta que, assim como o revide posterior por parte do PSTU, vale repetir, repudiamos em absoluto), se retirando da última assembleia que o movimento conseguiu realizar, etc.

O PSTU, em seu balanço público, chegou ao extremo: passou a cumprir o papel de criminalizar setores do próprio movimento, dizendo caluniosamente que: “a festa ‘Atentado Contra a Moral e os Bons Costumes’ (...) acabou na invasão do centro de vivência onde ficam as sedes do DCE e da APG em reforma atualmente. O infeliz ‘incidente’ resultou na destruição do espaço, com a quebra de aparelhos eletrônicos e o incêndio dos móveis.”, vinculando a suposta depredação da reitoria a todas as correntes políticas de oposição de esquerda ao DCE.
Da mesma forma, se deram declarações de membros do DCE, desta vez ligados ao Juntos/PSOL, ao jornal do campus e grandes meios delatando as ações de “minorias” nos ditos “depredações e vandalismo” ocorridos nesta festa.
Este método de “delator” para tentar salvaguardar sua política mesquinha é um escândalo, e o mínimo que o PSTU deveria fazer seria retirar este texto criminoso de seu site e, junto de PSOL, se retratar publicamente destas calúnias e acusações.

A luta de 2013 foi um prenúncio das mobilizações de 2014

As lições e balanços desta greve não devem servir para guardarmos em uma gaveta, mas para nos prepararmos para as lutas que virão no ano que vem.
Ficou claro em junho e está claríssimo agora que esta esquerda (PSOL e PSTU), reproduzindo a mesma lógica petista de militar daqueles que constroem a UNE, adaptada aos calendários eleitorais e buscando a todo custo entidades exclusivamente para sua autoconstrução, não podem cumprir o papel que exigem os novos tempos!
Tiveram duas oportunidades este ano; em ambas falharam lamentavelmente.

Temos visto a repressão crescendo brutalmente, como, por exemplo na recente prisão de um morador de rua como “bode expiatório” dos protestos; temos visto, também o aumento da precarização do trabalho, com quatro mortes nas obras da copa apenas nas últimas semanas (duas em São Paulo e duas em Manaus); a volta da indignação da juventude, contra o absurdo da copa bilionária, enquanto a saúde, o transporte, a educação seguem precários.

Diante disto, a juventude e o movimento estudantil precisam se preparar a altura para estar na linha de frente das lutas de 2014, ombro a ombro com a classe trabalhadora.
Nós da Juventude às Ruas lutamos para construir alas revolucionárias no movimento estudantil, que estejam preparadas para, em cada luta e mobilização, estar ao lado do povo trabalhador e da juventude precarizada contra os magnatas e grandes capitalistas. Foi com essa perspectiva que construímos as chapas “Douglas” nas Ciências Sociais e a chapa “Contra a Corrente” na Letras e a expressiva votação que tivemos nos dois cursos demonstra que muitos estudantes também começam a ver essa necessidade.

Acreditamos que isto se faz no dia a dia, nas entidades, nos cursos, buscando destroçar todo traço de elitismo e isolamento do movimento estudantil e ligá-lo as lutas históricas que faremos a partir de Junho! Superar nossas velhas direções, mobilizar nas bases e colocar a juventude nas ruas, organizada a partir de cada sala de aula! Depois de junho, o país mudou; o movimento estudantil também precisar mudar!

Seguir a luta por uma universidade a serviço do povo trabalhador; não parar nos 20 centavos, mas lutar pela estatização do transporte sob controle dos que usam e trabalham nele; barrar a copa dos bilionários; enfim: Desafiar a miséria do possível! É isto que queremos!
Este é o chamado que fazemos a cada estudante a começar pela construção do 1º Grande Ato contra a copa, no Masp, em SP, dia 25 de janeiro! Venha construir conosco esta alternativa! Faça parte da Juventude Às Ruas!

1 comentários:

Engodo é uma assembleia com 300 pessoas se julgar representativa pra determinar o rumo de mais de 4.000!

fonte: http://www.graduacao.fflch.usp.br/node/121

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