terça-feira, 1 de outubro de 2013

Polícia na Unicamp: quais são os motivos que estão por trás dessa política?




Juventude ÀS RUAS! Campinas
Após a trágica fatalidade que tirou a vida de um jovem estudante dentro da Universidade, a Reitoria da Unicamp vêm buscando se utilizar de maneira escandalosamente oportunista desse fato para impor um projeto que há muito almejava: firmar um convênio que permita a presença da polícia no campus.
O caso do assassinato desse estudante trouxe uma forte repercussão nacional, com a mídia se utilizando dos seus métodos sensacionalistas para explorar ao máximo uma tragédia pessoal em função dos seus índices de ibopes. Como não poderia ser diferente Geraldo Alckmin, governador do estado de São Paulo, dispôs de prontidão seu efetivo da polícia militar, umas das mais assassinas do mundo, para garantir a “segurança” do campus. O Reitor da Unicamp José Jorge Tadeu aceitou a polícia que tirou a vida de Amarildo e de centenas de milhares Brasil afora, com o suposto argumento de “melhorar a segurança do campus”.
No dia seguinte ao assassinato que ocorreu durante uma festa na universidade, a Reitoria já vêm trilhando um plano meticulosamente planejado para aproveitar da opinião pública para lavar as mãos diante de suas responsabilidades, lançando notas culpando os organizadores da festa pela tragédia, com o objetivo de criminalizar aqueles que legitimamente defendem a ocupação do espaço público. Longe de buscar garantir qualquer forma de segurança, o principal objetivo da Reitoria é liquidar com qualquer manifestação cultural e política dentro da universidade aprofundando seu projeto produtivista, com uma universidade cada vez mais hostil a sociedade que a circunda. Uma clara demonstração disso é que sistematicamente atribui a população o termo “pessoas estranhas à universidade”, o que demonstra mais uma vez seu racismo envolto de elitismo - nada mais consequente com o ultimo ataque da Universidade que tirou o vestibular do nordeste, impedindo que a população de cidades como Fortaleza possam fazer a prova da Unicamp.

Assim a Reitoria pretende criar o falso argumento de que o caso de violência só aconteceu pelo fato de estar ocorrendo uma festa. Escolhe percorrer esse caminho para que a conclusão lógica seja o fim das festas e a legitimação da entrada da polícia. O que prefere não dizer é que vivemos em um dos países mais violentos do mundo fruto de suas enormes desigualdades sociais onde a violência é um instrumento do próprio Estado para manutenção dessa sociedade onde nem mesmo direitos elementares são garantidos para todos. Se esquece de dizer que ela mesmo criou uma universidade completamente “estranha” a maioria da população, fechada pelo filtro social do vestibular, onde toda sua produção acadêmica está longe de ser destinada a resolver os problemas da sociedade.

Para manter esse projeto sem contestação, seja de movimento políticos ou culturais, necessita da força policial. Essa tentativa não é de hoje, e a Reitoria já encara essa como uma “oportunidade de ouro” para de fato sacramentar um convênio que autorize a polícia permanentemente na universidade. Essa é uma política consciente do conjunto das Reitorias (CRUESP –Conselho de Reitores do Estado de São Paulo), e se observado através dos últimos anos é claro um aprofundamento de sua implementação. Desde 2009, quando a PM entrou na USP para reprimir uma greve de trabalhadores daquela universidade. No ano de 2011, a Reitoria da USP se utilizou da mesma manobra agora perpetrada por Tadeu, quando um jovem foi assassinado no interior daquela universidade. Com os mesmos argumentos João Gradino Rodas –Reitor da USP – firmou um convênio com a PM, ferindo gravemente a autonomia universitária e que teve como consequência nada menos do que um efetivo de 500 policiais invadindo a Universidade para prender 73 estudantes e trabalhadores que lutavam contra sua presença na universidade, cenas essas que poderiam ser associadas diretamente com os anos de Ditadura Militar.

Na Unicamp não é diferente, e no passar dos anos na medida que a ação policial no interior da Universidade foi se intensificando seus efeitos foram sendo mais sentidos pela comunidade acadêmica. Não esqueceremos que no ano de 2004 Elgim Borges, jovem negro, estudante de Tecnologia em Saneamento Ambiental, foi brutalmente assassinado pela polícia no campus de Limeira com um tiro nas costas. A polícia se justifica afirmando o ter confundido com um “suposto assaltante”! É ultrajante que essa polícia que já tirou a vida de uma estudante - e que tira cotidianamente de centenas de pessoas - seja conclamada novamente a pisar com suas botas na universidade! Sabemos que onde a polícia está presente a violência só aumenta, basta olharmos a implementação das UPP’s nas periferias do Rio, onde casos como o do Amarildo são recorrentes.

Não nos esquecemos das consecutivas vezes que PM entrou para tentar fechar a Rádio Muda, ou quando a serviço do ministério público e da reitoria impediu que acontecesse o tradicional festival cultural IFCHStock, nem mesmo quando entrou na Moradia Estudantil para reprimir a legítima demanda por mais vagas na moradia.
Sabemos que os desfechos, caso se efetive esse convênio, serão de extrema gravidade. Na Unifesp, nas portas dessa universidade, um trabalhador dela após questionar uma abordagem policial, foi colocado dentro da viatura da polícia e depois apareceu sem vida, abrindo um imenso processo de questionamento da violência policial daquela universidade. Em meio a um processo de repercussão nacional e internacional, onde todos se perguntam “Onde está Amarildo?” com amplo questionamento da corporação policial, não podemos aceitar que o Reitor da Unicamp que a PM se institucionalize dentro da Universidade. Sabemos que a repressão ao movimento estudantil e de trabalhadores, às festas e manifestações culturais, ou mesmo a presença no campus daqueles que a Reitoria julga serem setores “estranhos a universidade”, estará colocada sob o fuzil das fardas policiais.

Tadeu que fez sua campanha para Reitor com o suposto epíteto do diálogo e da democracia mostra sua verdadeira face. Não poderia ser diferente na Universidade que tem seu Estatuto herdeiro da ditadura, como uma estrutura de poder profundamente anti-democrática. Com plenos poderes, Tadeu ainda afirma que pretenderá sindicar os organizadores da festa. Não permitiremos nenhuma punição aos que lutam por universidade rica culturalmente e aberta a toda população, é fundamental defender todos as tentativas de repressão da Reitoria.

É necessário que unifiquemos força com uma ampla campanha e gritar em auto e bom som “Fora PM das Universidades, Bairros, Morros e Favela! Nenhuma punição para quem ocupa o espaço público”, onde o DCE e os CAs, como o CACH, devem cumprir um papel fundamental, organizando agrupações e coletivos estudantis, organizações de direitos humanos, para expulsarmos a polícia da universidade e luta que para esta seja de fato pública, democrática e a serviço de toda a população.

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