sexta-feira, 26 de julho de 2013

Trocar a burocracia sindical pelos novos dirigentes operários!

A politização nacional e o dia 11 vistos de dentro de uma fábrica com a burocracia no sindicato
por W., operário numa fábrica em São Paulo
As enormes manifestações que tomaram as ruas do país durante o mês passado também marcam uma profunda mudança na politização geral do proletariado. Está visto e confirmado por todos, manifestações de rua conseguem resultados. Ainda que o principal sujeito social que se depreende desse processo seja uma massa de jovens, policlassista, chamada de “manifestantes”, a classe operária industrial não só acompanhou cada passo da luta numa crescente expectativa, fazendo desse o tema predominante nas rodas de conversa durante duas ou três semanas seguidas, como também participou pontualmente, a partir das manifestações organizadas nas periferias; viu seus elementos mais avançados tentarem se organizar para atender aos chamados de greve geral feitos nas redes sociais, para os dias 26/06 e 01/07 e ainda puderam, em alguns locais, participar das manifestações do dia 11, bem controladas pela burocracia.
O chamado para o dia 11 desde o início não esteve à altura do espírito que tomava conta do proletariado. Primeiro por ser tardio, pois ainda que as pautas fossem muitas, o aumento das passagens já havia sido barrado e o movimento tinha passado seu ápice. A classe operária gostaria de ter participado organizadamente dessa conquista e certamente se veria mais forte se assim tivesse sido. Mais do que isso, o dia 11, pelo que a burocracia sindical quis e fez dele, cobrou caro aos elementos mais progressivos do processo. Os trabalhadores que mais sintetizavam a politização nacional, os que agitavam as rodas de conversa em defesa das lutas e que convocavam os colegas a se somarem, foram os que mais se desmoralizaram com a não aparição do sindicato, a não paralisação organizada da categoria ou da fábrica e também com as notícias, vistas durante o almoço, sobre como estava sendo fraco aquele dia de paralisação nacional.
Como deve ser nas revoluções e processos avançados de luta de classes, o pré dia 11 nos mostra novos dirigentes operários surgindo por todos os lados, sedentos para dar um novo sentido às suas vidas, perdidas numa rotina pobre, quando se passa ao menos 12 horas diárias em função do trabalho. O processo de politização nacional que antecede o dia 11 foi profundo o suficiente para esses novos dirigentes levantarem suas cabeças e começarem a ensaiar seus discursos. Não só havia subjetividade o suficiente para uma forte paralisação naquele dia, como a mesma poderia ser coordenada a partir do chão de fábrica. A incapacidade do salário para suprir uma vida digna e a necessidade de elevar o mínimo para R$ 1, 5 mil era o eixo que colocava um jovem que se despertava como dirigente operário, que não participou de manifestação alguma, mas que estava incendiado o suficiente para passar o dia 10 inteiro contagiando e organizando o seu setor para a paralisação seguinte. Os trabalhadores combinavam de chegarem juntos e assim ninguém sofrer sozinho a possível pressão da patronal para que entrassem, outros pediam aos que chegam primeiro que avisasse se estavam parados mesmo, pois assim nem iriam. Naquele dia, passos e conversas ansiosas afastavam o frio do final de madrugada enquanto caminhávamos até o portão da fábrica. Vamos entrar em cena!
Experiência amarga com a burocracia sindical, para a maioria, no escuro. Em um período de fragilidade do governo Dilma/PT por diversas vias, CUT, Força Sindical, CTB, CGTB, UGT e Nova Central), marcam posição com uma pequena vazão localizada e controlada das forças do proletariado nacional, permitindo a entrada em cena de alguns milhares. Trotsky nos antecipou, “Os burocratas fazem todo o possível, em palavras e nos fatos, para demonstrar ao estado "democrático" até que ponto são indispensáveis e dignos de confiança em tempos de paz e, especialmente, em tempos de guerra.” (Os sindicatos na época da decadência imperialista, 1940), portanto, atuamos durante esse processo, por fora das fábricas, com o Boletim Classista, a Juventude às Ruas e o Sintusp, que fazem parte das forças da ala esquerda “dos manifestantes” que barraram o aumento das tarifas. Nossa juventude e trabalhadores atravessavam qualquer muro ou catraca com seus panfletos e ideias em rodas de conversas sobre a situação nacional e os rumos do movimento.
Buscamos nos ligar aos operários mais avançados das fábricas, pois queremos ser parte do despertar revolucionário desse estratégico setor, que deve retomar seus sindicatos sob controle dos trabalhadores, sem burocracia, se preparando para os enfrentamentos mais duros contra a burguesia, que a crise irá trazer inevitavelmente. Mais uma vez, Trotsky ajuda, “É por essas razões que as seções da IV Internacional devem esforçar-se constantemente não só em renovar o aparelho dos sindicatos, propondo audaciosa e resolutamente nos momentos críticos novos líderes prontos à luta no lugar dos funcionários rotineiros e carreiristas, mas inclusive criar, em todos os casos em que for possível, organizações de combate autônomas que respondam melhor às tarefas da luta de massas contra a sociedade burguesa, sem vacilar mesmo, caso seja necessário, em romper abertamente com o aparelho conservador dos sindicatos. Se é criminoso voltar as costas às organizações de massa para se contentar com facções sectárias, não é menos criminoso tolerar passivamente a subordinação do movimento revolucionário das massas ao controle de camarilhas burocráticas declaradamente reacionárias ou conservadoras disfarçadas ("progressistas"). O sindicato não é um fim em si, mas somente um dos meios da marcha para a revolução proletária.” (O Programa de Transição, 1938).



0 comentários:

Postar um comentário