A
politização nacional e o dia 11 vistos de dentro de uma fábrica
com a burocracia no sindicato
por
W., operário numa fábrica em São Paulo
As
enormes manifestações que tomaram as ruas do país durante o mês
passado também marcam uma profunda mudança na politização geral
do proletariado. Está visto e confirmado por todos, manifestações
de rua conseguem resultados. Ainda que o principal sujeito social que
se depreende desse processo seja uma massa de jovens, policlassista,
chamada de “manifestantes”, a classe operária industrial não só
acompanhou cada passo da luta numa crescente expectativa, fazendo
desse o tema predominante nas rodas de conversa durante duas ou três
semanas seguidas, como também participou pontualmente, a partir das
manifestações organizadas nas periferias; viu seus elementos mais
avançados tentarem se organizar para atender aos chamados de greve
geral feitos nas redes sociais, para os dias 26/06 e 01/07 e ainda
puderam, em alguns locais, participar das manifestações do dia 11,
bem controladas pela burocracia.
O
chamado para o dia 11 desde o início não esteve à altura do
espírito que tomava conta do proletariado. Primeiro por ser tardio,
pois ainda que as pautas fossem muitas, o aumento das passagens já
havia sido barrado e o movimento tinha passado seu ápice. A classe
operária gostaria de ter participado organizadamente dessa conquista
e certamente se veria mais forte se assim tivesse sido. Mais do que
isso, o dia 11, pelo que a burocracia sindical quis e fez dele,
cobrou caro aos elementos mais progressivos do processo. Os
trabalhadores que mais sintetizavam a politização nacional, os que
agitavam as rodas de conversa em defesa das lutas e que convocavam os
colegas a se somarem, foram os que mais se desmoralizaram com a não
aparição do sindicato, a não paralisação organizada da categoria
ou da fábrica e também com as notícias, vistas durante o almoço,
sobre como estava sendo fraco aquele dia de paralisação nacional.
Como
deve ser nas revoluções e processos avançados de luta de classes,
o pré dia 11 nos mostra novos dirigentes operários surgindo por
todos os lados, sedentos para dar um novo sentido às suas vidas,
perdidas numa rotina pobre, quando se passa ao menos 12 horas diárias
em função do trabalho. O processo de politização nacional que
antecede o dia 11 foi profundo o suficiente para esses novos
dirigentes levantarem suas cabeças e começarem a ensaiar seus
discursos. Não só havia subjetividade o suficiente para uma forte
paralisação naquele dia, como a mesma poderia ser coordenada a
partir do chão de fábrica. A incapacidade do salário para suprir
uma vida digna e a necessidade de elevar o mínimo para R$ 1, 5 mil
era o eixo que colocava um jovem que se despertava como dirigente
operário, que não participou de manifestação alguma, mas que
estava incendiado o suficiente para passar o dia 10 inteiro
contagiando e organizando o seu setor para a paralisação seguinte.
Os trabalhadores combinavam de chegarem juntos e assim ninguém
sofrer sozinho a possível pressão da patronal para que entrassem,
outros pediam aos que chegam primeiro que avisasse se estavam parados
mesmo, pois assim nem iriam. Naquele dia, passos e conversas ansiosas
afastavam o frio do final de madrugada enquanto caminhávamos até o
portão da fábrica. Vamos entrar em cena!
Experiência
amarga com a burocracia sindical, para a maioria, no escuro. Em um
período de fragilidade do governo Dilma/PT por diversas vias, CUT,
Força Sindical, CTB, CGTB, UGT e Nova Central), marcam posição com
uma pequena vazão localizada e controlada das forças do
proletariado nacional, permitindo a entrada em cena de alguns
milhares. Trotsky nos antecipou, “Os
burocratas fazem todo o possível, em palavras e nos fatos, para
demonstrar ao estado "democrático" até que ponto são
indispensáveis e dignos de confiança em tempos de paz e,
especialmente, em tempos de guerra.” (Os
sindicatos na época da decadência imperialista, 1940), portanto,
atuamos durante esse processo, por fora das fábricas, com o Boletim
Classista, a Juventude às Ruas e o Sintusp, que fazem parte das
forças da ala esquerda “dos manifestantes” que barraram o
aumento das tarifas. Nossa juventude e trabalhadores atravessavam
qualquer muro ou catraca com seus panfletos e ideias em rodas de
conversas sobre a situação nacional e os rumos do movimento.
Buscamos
nos ligar aos operários mais avançados das fábricas, pois queremos
ser parte do despertar revolucionário desse estratégico setor, que
deve retomar seus sindicatos sob controle dos trabalhadores, sem
burocracia, se preparando para os enfrentamentos mais duros contra a
burguesia, que a crise irá trazer inevitavelmente. Mais uma vez,
Trotsky ajuda, “É
por essas razões que as seções da IV Internacional devem
esforçar-se constantemente não só em renovar o aparelho dos
sindicatos, propondo audaciosa e resolutamente nos momentos críticos
novos líderes prontos à luta no lugar dos funcionários rotineiros
e carreiristas, mas inclusive criar, em todos os casos em que for
possível, organizações de combate autônomas que respondam melhor
às tarefas da luta de massas contra a sociedade burguesa, sem
vacilar mesmo, caso seja necessário, em romper abertamente com o
aparelho conservador dos sindicatos. Se é criminoso voltar as costas
às organizações de massa para se contentar com facções
sectárias, não é menos criminoso tolerar passivamente a
subordinação do movimento revolucionário das massas ao controle de
camarilhas burocráticas declaradamente reacionárias ou
conservadoras disfarçadas ("progressistas"). O sindicato
não é um fim em si, mas somente um dos meios da marcha para a
revolução proletária.”
(O Programa de Transição, 1938).