quinta-feira, 18 de abril de 2013

Combater as opressões para que o conjunto do movimento avance na luta contra a repressão!

Combater as opressões para que o conjunto do movimento avance na luta contra a repressão!

Na última semana uma grande discussão se abriu em torno de uma denúncia de um caso de machismo no movimento estudantil, mas principalmente em torno da postura do DCE (Diretório Central dos Estudantes). Nós, da Juventude Às Ruas, gostaríamos de nos pronunciar em primeiro lugar divergindo por completo do método do DCE que fez uma denúncia a um militante do movimento estudantil e não permitiu a ele o direito de resposta. Somos contrários ao método de escrachos e expulsões diante de casos de machismo antes do direito de resposta, antes de uma discussão política dentro do movimento e antes de permitir que o movimento possa definir seus próprios métodos – como poderia ser com uma comissão independente para averiguar a denúncia.

É por isso que a atual gestão da entidade foi responsável pela explosão de uma assembleia que discutiria dentre outros pontos a luta contra a repressão e contra o PIMESP, que são temas fundamentais a serem levados adiante hoje. Esta atitude do DCE, de não permitir uma discussão dentro do movimento, contribui para uma visão de que os homens são inimigos e que frente a uma acusação, não têm direito de se posicionar e discutir no movimento, única forma de dar passos para avançar em suas concepções, caso tenham de fato cometido uma agressão ou uma ofensa contra uma mulher, e educar todo o movimento.

Na prática, o DCE, ao acusar e não dar direito de resposta, transforma o militante acusado imediatamente em culpado, o que somos contrários. Essa forma de fazer política, além de não colaborar para que o movimento avance na discussão e luta contra a opressão, serve apenas para isolar um setor de estudantes e desviar o foco das principais tarefas do movimento, que necessita hoje garantir uma ampla e massiva campanha contra a repressão. Por isso nos colocamos completamente contra a proposta de expulsão do militante do PCO, e do próprio PCO, do movimento estudantil da USP.

Nós, que somos uma Juventude que quer estar ao lado da classe trabalhadora, consideramos que nossos inimigos não são os homens, nossos inimigos são outros. É a burguesia que utiliza a opressão às mulheres como forma de lucrar mais na exploração do trabalho. A Reitoria que emprega de maneira precária mulheres terceirizadas para cumprir trabalhos que gerarão doenças ocupacionais e as farão viver na fome. Os governos como o de Dilma Rousseff que permanecem mantendo o aborto ilegal.

Ao mesmo tempo, deixamos claro nessa nota que somos ativamente contra qualquer forma de opressão dentro do movimento, mas entendemos que essas são uma pequena parte do que há de opressão em toda a sociedade, sendo os espaços do movimento os mais privilegiados e avançados para lutar contra a opressão, por isso reivindicamos que, para cada caso, busquemos ganhar os companheiros para essa luta em lugar de expulsá-los de nossas fileiras.

Com o fortalecimento de homens e mulheres que lutam contra o machismo, é possível que atinjamos, junto aos trabalhadores, a raiz dessa opressão, que ainda que seja anterior ao modo de produção capitalista, é profundamente apropriado por este sistema que propaga a violência doméstica, a prostituição, os estupros, para manter as mulheres reproduzindo o trabalho doméstico gratuitamente, eliminando gastos exorbitantes que o Estado poderia ter caso financiasse – conforme sua obrigação – a manutenção da vida dos trabalhadores e trabalhadoras pela via de manter em funcionamento restaurantes públicos, lavanderias, creches, hospitais, etc.

Para nós, o método equivocado do DCE leva a uma concepção equivocada como colocamos acima, e também termina em uma política extremamente equivocada. Agora o eixo da luta contra a opressão para o DCE é uma “campanha contra o machismo no movimento estudantil”. Dizem querer pintar toda a USP de roxo. Porque não propuseram pintar a USP de roxo quando estudantes foram estupradas no CRUSP? Porque não propuseram pintar a USP de roxo quando as estudantes de São Carlos sofreram com os escandalosos atos de machismo durante a calourada? Porque não propuseram pintar a USP de roxo quando uma estudante foi torturada por policiais na reintegração de posse da Reitoria ocupada? Porque não propuseram pintar a USP de roxo quando uma jovem mãe, já expulsa da USP, foi expulsa também de sua moradia? E perguntamos de novo, porque não propuseram pintar a USP de roxo quando centenas de mulheres terceirizadas, em sua maioria negras, reviraram a universidade em uma explosiva greve contra as humilhações e péssimas condições de trabalho?

No entanto, não apenas ao DCE cabe a crítica de uma política equivocada, uma vez que se é verdade que as pressões machistas, racistas e homofóbicas são introjetadas pela própria ideologia capitalista na formação de homens e mulheres, é responsabilidade das organizações de esquerda combaterem o machismo em suas fileiras. Nesse sentido uma política correta de luta contra a opressão só tem a fazer avançar a consciência dos companheiros homens. Aqui cabe nossa crítica ao PCO, que na USP tem tido uma política abstencionista e se isentado de intervir em questões importantes como as citadas acima, política esta que acarreta em uma intervenção despolitizada em relação à questão das opressões.

Nenhuma mulher deve aceitar declarações machistas dentro do movimento e devemos lutar contra isso. Mas isso de forma alguma pode se alçar como o maior problema na luta contra a opressão dentro da USP. Nós, da Juventude às Ruas!, continuaremos lutando contra a opressão às mulheres sem transformar os problemas existentes dentro do movimento estudantil no eixo de nosso combate. Ao mesmo tempo que repudiamos as acusações feitas pelo PCO em sua nota às mulheres do DCE e exigimos uma retratação, nos colocamos firmemente contrários a expulsão de seus militantes, e do próprio PCO, do movimento estudantil.

Temos inúmeras diferenças políticas tanto com o PCO, como com a atual gestão do DCE, mas não achamos que essas diferenças devam ser definidas dessa forma.
Exigimos que o DCE reorganize imediatamente uma assembléia massiva para tratar dos temas do movimento, como a urgente luta contra a repressão e contra o PIMESP, e que nesta assembleia seja dado direito de resposta ao militante do PCO acusado, para que o movimento possa definir os encaminhamentos, assim como criar uma comissão para apuração do caso!

E propomos uma grande campanha contra a opressão na USP: por vagas no CRUSP para todas as mães; por assistência estudantil para que mantenham seus filhos; por vagas nas creches para toda a demanda de estudantes e trabalhadoras efetivas e terceirizadas! Basta de violência às estudantes do CRUSP! Fim dos trotes machistas! Por currículos que demonstrem a história de luta das mulheres! Por salários iguais entre mulheres e homens, passando pelo fim da terceirização do trabalho, com efetivação dos terceirizados sem concurso, já que a maioria desses são mulheres negras, vítimas da precarização do trabalho!

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