segunda-feira, 4 de março de 2013

FOGO NA BIBLIOTECA DO IEL (Instituto de Estudos da Linguagem - UNICAMP)

O regime universitário será responsável por muitas "bibliotecas de Alexandria"

por Fernanda Montagner


Fogo atingiu o prédio da biblioteca de Letras da Unicamp
A biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem arde em chamas. Infelizmente essa não é mais uma analogia viva de um poeta, mas sim, a realidade crua da Unicamp. Essa biblioteca (uma das mais importantes da Unicamp com 1.725 metros quadrados, incluindo um acervo que conta com 105,6 mil livros, 1,5 mil títulos de periódicos e 3,2 mil teses e dissertações) sofre o calvário compartilhado por diversas outras, as próximas "Alexandrias". Os livros e documentos mais uma vez se perdem em meio às entranhas de uma universidade de elite para a elite, depois da inundação de dezembro de 2012 no IEL, que mergulhou um imenso arsenal de ideias documentadas no charco das goteiras, da infiltração e da fraude das empresas terceirizadas. É preciso questionar e por abaixo a estrutura de poder responsável por essas catástrofes. Um dos maiores monumentos da herança cultural da humanidade é refém da camarilha universitária que dirige o acervo. Mais: as vidas trabalhadoras estavam em risco se este incêndio acontecesse em horário expediente!

Livros ficaram destruídos após o incêndio no prédio da biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp
De costas para a população, dá milhões de reais  a construtoras terceirizadas, que demoram anos para terminar seus prédios, quando não entram em falência  ano após ano supostamente para pegar o dinheiro e entrar outra empresa fantasma, construindo seus elefantes brancos e cheios de problemas estruturais que colocam em risco  funcionários e estudantes que utilizam os prédios. Para além disso, há o fato de que essas construções são erguidas pelos braços de trabalhadores terceirizados, os mais explorados, que sofrem acidentes de trabalho e ganham uma miséria, sendo estes mesmos trabalhadores da construção civil que são ainda usados pelo governo para construir as obras da Copa e do PAC e que vem cada vez mais se levantando em Jirau, Belo Monte e outro locais (como os 16 operários ora presos no Amapá), contra as bárbaras condições de trabalho a que são submetidos. E a Unicamp, uma universidade pública de "excelência", é conivente com esse tipo de regime de trabalho.


  • Prédio atingido pelas chamas é o local onde é realizado atendimento ao público na biblioteca da Unicamp
Graças ao trabalho de alguns funcionários, o fogo não se alastrou para as salas onde ficam os acervos. Mesmo assim, as chamas destruíram as salas de trabalho e alguns livros que estavam nesses locais, tendo que novamente os funcionários e estudantes cuidarem dos acervos, como foi na inundação da biblioteca do IFCH em 2009, ou mesmo na recente inundação do IEL em 2012, enquanto os guardinhas da reitoria apenas tiravam fotos, as mesmas que são tiradas do movimento estudantil e dos trabalhadores para reprimi-los depois. Esse é o projeto privatista e elitista da reitoria, que o próximo reitor eleito (pelas ligações espúrias da Universidade com o governo do Estado e o interesses de grandes empresas), buscará manter como pilar estável deste regime universitário. Enquanto busca intensificar sua política repressiva, com as punições na USP e a ligação com o Ministério Público para acusar estudantes e trabalhadores de formação de quadrilha, volta a universidade de excelência para as grandes empresas monopolistas e bancos, como o Santander, colocando o conhecimento a serviço destas (e de suas chamas!), ao relegar os acervos a prédios sem manutenção e impedir que a população tenha acesso a estes na medida em que mantem o vestibular, como filtro para que a juventude pobre e da periferia não coloque os pés na universidade (restringindo com "a biometria" o  uso  público das bibliotecas aos estudantes, funcionários efetivos e professores da Unicamp).


É a estrutura de poder universitária, que junto aos governos do estado, é responsável por esse incêndio, pelos acidentes de trabalho, por impedir que a juventude e a população tenham acesso aos livros e ao conhecimento produzido na universidade. Para estes senhores, é melhor que os livros se percam, inundados e incendiados, a que sirvam às mãos daqueles que movimentam as engrenagens da universidade e do mundo. É fundamental que a intelectualidade e os estudantes repudiem este descaso do regime universitário contra as obras e o trabalho dos funcionários da universidade, cuja vida está em risco! Os centros acadêmicos e o STU denunciem a terceirização numa luta intransigente contra a estrutura universitária, para arrancarmos o conhecimento das mãos da elite restrita e voltarmos verdadeiramente a universidade para a população, para que os trabalhadores e a juventude tomem este espaço quanto seu por direito.

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