sábado, 5 de janeiro de 2013

Por que militar na Juventude às Ruas e na Ler-QI?

Angelo H Peters Bueno, jovem operário estudante da Unicamp



O Brasil, país que possui a maior classe trabalhadora da América Latina, conta hoje com mais de 90 milhões de assalariados, um proletariado jovem precarizado, superexplorado, majoritariamente de negros, que ocupam os trabalhos mais precarizados e com os piores salários, um pais que possui um enorme campesinato com condições de trabalhos igualmente precárias, país que tem como pilar de sua burguesia escravocrata o latifúndio. Essa é a dura realidade de quem já enfrentou longas jornadas de trabalho sem EPIs (equipamentos de proteção individual) e EPCs (equipamentos de proteção coletivo), em que os patrões preferem pagar suborno para os fiscais do Ministério do Trabalho em vez de garantir melhores condições de trabalho, prática recorrente. Em Paulínia onde eu fui operário em 2009 - tinha 19 anos, trabalhava em uma empresa que não tinha as mínimas condições de segurança, tanto é que nessa empresa, que tinha por volta de 25 funcionários, a quantidade de acidentes de trabalho era enorme, era, ou melhor, ainda é, comum ao final do dia um colega com um corte, dor no braço, intoxicação, dor de cabeça, etc. Abrir CAT (Comunicado de Acidente no Trabalho) somente quando era acidente grave. Nessa empresa eu trabalhei por um ano e sofri vários acidentes: uma vez entrei num tanque, a quantidade de gás era grande, o que faz o oxigênio baixar, quase não consigo sair vivo de dentro. Intoxicação, falta de oxigênio, perigo de explodir, problema desses tipos de trabalho também são ergonômicos, os tanques foram projetados para transporte de combustíveis e produtos químicos; dentro desses tanques existem divisões quebra ondas com pequenas passagens; o teto é baixo, um espaço confinado que dificulta o trabalho. Outro grande e grave problema é a pressão dos patrões para fazer um trabalho de risco e rápido, tanto é que em 2002 um colega perdeu a vida nessa empresa (segue matéria abaixo).

Explosão de tanque mata funcionário

Soldador de oficina mecânica, em Paulínia, fazia reparos numa carreta de gás quando ocorreu o acidente


Gláucia Santinello e Agência Estado – Paulínia


A explosão de uma carreta de gás no interior da empresa Oficina Secreta Catatau, em Paulínia, provocou a morte do soldador Nelson Castilho, 28, na manhã de ontem. O acidente de trabalho aconteceu no momento em que o soldador realizava o serviço de adaptação na válvula do carregamento.


O ajudante geral José dos Santos, 59, que estava próximo à carreta também foi atingido, mas sofreu escoriações leves. Ele foi levado ao Pronto Socorro do Hospital Municipal de Paulínia e liberado em seguida. Com a explosão, o galpão ficou parcialmente destruído.

De acordo com o delegado Júlio Cesar Brugnoli, é a primeira vez que acontece esse tipo de acidente na Oficina Secreta Catatau, empresa que presta serviço de recuperação e restauração de carretas responsáveis por transporte de gás e combustível.


Segundo o delegado, a Perícia Técnica do IC (Instituto de Criminalística) de Campinas foi acionada para auxiliar no inquérito que foi instaurado. Há suspeita de suposta falha no equipamento de vaporização do veículo - que retira todo o gás ou combustível das carretas antes da execução dos reparos. O resultado do laudo, que vai apontar os motivos do acidente, deve ficar pronto entre 30 e 90 dias.


Segundo o delegado, se for comprovada negligência da empresa em relação às normas de segurança, o proprietário deve responder por homicídio culposo e por lesão corporal culposa.

O proprietário da empresa, Valdeci Vieira dos Santos e sua advogada, Renata Strazzacappa não foram localizados para comentar sobre o acidente.”

Esse não é um caso isolado, existem outros casos de morte também em Paulínia em outras empresas. Sindicato nunca vi, fiscal vinha somente para receber seu suborno enquanto a classe trabalhadora esta sendo massacrada no país da superexploração, em pequenas e grandes empresas e nas grandes obras do PAC e da Copa.
Os trabalhadores tem consciência de que são explorados, são solidários uns com os outros, existe um ódio contra pelegos e puxa- sacos, existe a consciência de que não existe um bom burguês e patrão amigo. Minha classe é a operária e minha luta é pelo fim da exploração capitalista, contra os burgueses parasitas que vive do sangue dos trabalhadores.
Entrei na universidade no curso de Ciência Sociais buscando entender o mundo que está a minha volta, para ter maior clareza de como funciona o capitalismo e também ter armas na luta pelo seu fim e consequentemente a libertação dos trabalhadores, das condições insalubres e precárias. Lutar pelo fim desse sistema é lutar pelo fim do racismo, utilizado pela burguesia para dividir a classe operária, e também pelo fim da homofobia, lesbofobia, pelo o fim do machismo em que o capitalismo se fundamenta.
Não encontrei no movimento estudantil nada disso, era tão distante dos meus anseios, encontrei pautas mínimas, já enojado de ver como a política se dá dentro dos partidos burgueses e sua burocracia, encontrei um movimento estudantil burocrático, não me senti confortável naquele espaço, pessoas sinceras, mas que com esta política não vão libertar a classe trabalhadora! Revolução não está no seu vocabulário.
No segundo semestre fui convidado a participar da chapa Prelúdio das Primaveras, com pautas que iam além do que eu tinha como essencial como, por exemplo, o fim do vestibular, percebi que era uma bandeira estratégica, as cotas não eram a solução, longe disso, comecei a sentir que dentro desse espaço elitista haviam pessoas dispostas a lutar pela classe operária! O material de campanha tinha a luta contra o trabalho terceirizado e precarizado, contra o genocídio da população pobre e negra e sua criminalização, isso era claro em todos os debates, ficava claro de que lado estávamos e não adaptando o discurso, estudantes que gritavam aliança da juventude com a classe operária, dos jovens universitários com os trabalhadores, aliança que faz a burguesia tremer, dentro do IFCH, um dos institutos com a maior renda social da Unicamp, um espaço em que estas ideias não ecoam até mesmo naqueles que vem da classe trabalhadora devido a falta de uma consciência de classe. Tem que se tomar um lado, não tem como ficar alheio, mesmo a apatia política já é um posicionamento. Não vou virar as costas e esquecer os que ficaram para fora da universidade! Luto pelos trabalhadores que todos os dias são massacrados no campo e nas fábricas, MORTOS COMO NO EXEMPLO ACIMA, luto pela reforma agrária e o fim da burguesia latifundiária, luto pelos terceirizados dentro e fora da universidade, luto pela juventude que não tem acesso a ensino superior, luto pelo fim da polícia racista e genocida que mata e oprime os trabalhadores, luto pelo fim do Estado capitalista que se sustenta na opressão e violência, na coerção e restrições, luto para construir uma sociedade que salte do “reino da necessidade para o reino da liberdade”, e para isso é necessário superar as relações capitalistas que impedem que a sociedade se organize sob outras bases. A luta junto a classe trabalhadora não avança sem estratégia e com qualquer estratégia, por isso estou na Juventude As Ruas, por isso hoje me ponho ao lado dos companheiros da LER-QI para construir um partido classista internacionalista com estratégia revolucionária trostskista, que luta pela classe trabalhadora dentro e fora da universidade.

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