quinta-feira, 4 de outubro de 2012

SEMINÁRIO "POR QUE TROTSKY?"





Por Iuri Tonelo e Simone Ishibashi

A propósito do seminário que realizaremos entre os meses de outubro e novembro em universidades de São Paulo 

 Chegamos ao quinto ano da crise econômica internacional. Desde o primeiro colapso do banco de investimentos Lehman Brothers em 2008, vivenciamos um período em que os Estados nacionais despejaram trilhões de dólares na economia mundial para salvar os bancos privados; e em seguida, já transcendendo todos os limites das dívidas públicas nacionais, começaram a coordenar governos (ora mais ‘liberais’ ou mais ‘socialdemocratas’) para aplicar violentos ataques ao conjunto dos trabalhadores (especialmente na Europa, sobretudo no caso grego) com planos de austeridade, reduções salariais e corte de direitos. Assim que, no século XXI, o marxismo e a busca por uma resposta proletária frente aos ataques capitalistas é impulsionado e retoma sua força pela imposição, cada vez mais emergencial, que a dinâmica da crise econômica coloca aos trabalhadores.

 Vai se fechando, nesse sentido, a etapa de “restauração burguesa”, com respostas ainda incipientes dos trabalhadores no plano internacional, e com (já mais desenvolvidas) mobilizações da juventude em diversos países do mundo, no Oriente Médio, Europa e inclusive na América Latina. Entretanto, ainda que venha retomando sua força, a “reivindicação” do marxismo (e as variantes reformistas e autonomistas que dizem dialogar) ainda carrega uma série de vícios e ideologias impregnadas dos 30 últimos anos sem revoluções, em que a burguesia atacou e utilizou todos os mecanismos para deformar (ou mesmo aniquilar) a estratégia revolucionária no conjunto das organizações de esquerda.

Desde esse ponto de vista, torna-se fundamental para as novas gerações de trabalhadores e da juventude se apropriarem da tradição revolucionária e do legado daqueles que lutaram contra toda a deformação e mantiveram as bases da teoria, estratégia e programa revolucionários.
Leon Trotsky - que desenvolveu a teoria da revolução permanente, foi dirigente da revolução de Outubro, fundador do exército vermelho e principal dirigente da construção da IV Internacional na luta contra o stalinismo – é o revolucionário do qual buscamos resgatar o legado capaz de armar os trabalhadores para enfrentar a forte crise econômica (e do sistema de conjunto) que vivemos e para a qual o capitalismo demonstra que não tem nenhuma saída, a não ser mais exploração e opressão dos operários e operárias.

Nosso intuito, portanto, é colocar as ideias de Trotsky como resposta revolucionária para a crise. Em primeiro lugar, como marxismo revolucionário, que combateu e está completamente desgarrado dos erros e degenerações stalinistas (intituladas pela burguesia de “socialismo real”); em segundo lugar, o legado do revolucionário russo nos dá a base para lutar contra um dos produtos mais nefastos da restauração burguesa (ofensiva da burguesia contra o proletariado em nível internacional advinda da derrota do ascenso operário aberto entre 1968 e 1981), que é o ceticismo e a perda de confiança na força da classe operária, que tem consequências sobretudo na sua conformação como sujeito revolucionário, que é capaz de forjar seus organismos de auto-organização a partir das experiências da luta de classes, para assim fazer frente à superestrutura degenerada do regime burguês, fundamentando as bases para o poder operário.
Indo além, e tendo em vista o peso que assume o “fator subjetivo” na época imperialista – na medida em que se impõem combates ao proletariado e em que ganha importância superior a influência de uma direção temperada e experimentada, podemos também colocar que a força do trotskismo reside justamente em não ceder a ideia da “falência do modelo” de partido revolucionário, típico discurso neoliberal (e pós-moderno) que moldou “organizações de esquerda” pacifistas, disciplinadas ao regime burguês, inclinadas a variantes estratégicas de conciliação de classe.

Mesmo entre as organizações de esquerda trotskista, frente aos principais processos da luta de classes, temos visto uma incapacidade de traduzir esse legado em uma política revolucionária, como nos exemplos da Primavera Árabe (onde as organizações não mantém uma posição independente do proletariado, cedendo às ditas “revoluções democráticas”). Essa herança se remete ao trotskismo de Yalta (centrismo da segunda metade do século XX), na medida em que essas correntes se defrontaram com as revoluções do pós Segunda Guerra Mundial – casos excepcionais, como Trotsky previu, quando direções pequeno-burguesas poderiam, pela pressão das massas e da situação internacional, ir para além de seus objetivos e expropriar a burguesia – e acabaram se adaptando a essas direções pequeno-burguesas, ao contrário de buscar oferecer um programa revolucionário que desse conta das contradições que marcaram este processo.

Nesse sentido que, sem tirar as lições das experiências passadas (sobretudo do ascenso operário da segunda metade do século XX), seguem aprofundando os seus fundamentos, como se demonstra no último período a conclamação de um “governo das esquerdas” frente a situação grega, negando todas as lições de Trotsky para a reflexão da frente única, a partir de uma experiência superestrutural e “midiática” ou deturpando a discussão que o revolucionário fazia de “governo operário” para a preparação imediata da tomada do poder na Alemanha em 1923. Nesse intuito que pretendemos resgatar o legado de Leon Trotsky a partir de um ciclo de debates em São Paulo e cidades do interior para a discussão necessária sobre o verdadeiro legado de Trotsky, a partir das principais experiências revolucionárias na primeira metade do século XX, e sua vigência para responder às tarefas postas em nosso tempo.

 Sobre o seminário “Por Que Trotsky?”

Buscando resgatar esse vasto legado revolucionário da teoria e política revolucionária de Leon Trotsky é que faremos um ciclo com quatro sessões, abordando temas que percorrem a vida de Trotsky em quatro momentos chaves em que o dirigente revolucionário teve que relacionar toda sua capacidade teórica e política com os desafios que a arte da estratégia impunha em situações novas e dinâmicas.

 Na primeira sessão, que será realizada na USP no dia 03 de Outubro, abordaremos a discussão da construção da teoria da revolução permanente, relacionando-a com elementos fundamentais de seu pensamento, partindo da análise de Trotsky sobre a Rússia, desde sua célebre teoria do desenvolvimento desigual e combinado, passando pela Revolução de 1905 e a criação dos sovietes (entrando inclusive nas bases do que poderíamos chamar de estratégia soviética para a revolução proletária) e, por fim, desenvolvendo as experiências da Rússia até a Revolução de 1917, partindo das conclusões fundamentais de fevereiro até a confluência de Trotsky e Lenin em Outubro, refletindo sobre a estratégia da tomada do poder e perspectiva da revolução internacional dos bolcheviques, especialmente traduzida na revolução permanente de Trotsky.

 Na segunda sessão, na Unicamp (Campinas) em 18 de Outubro, buscaremos partir das Li
ões de Outubro, de modo a buscar compreender como Trotsky generalizou as experiências da Revolução na discussão contra a Segunda Internacional a partir da reflexão sobre estratégia e tática na época imperialista. A partir daí, entraremos no caso concreto da Revolução Alemã, sobretudo em 1923, na medida em que se apresentou uma oportunidade concreta para a tomada do poder e a vacilação do Partido Comunista Alemão levou a uma derrota de proporções gigantescas na Internacional Comunista. Nesse caso, analisaremos ainda como Trotsky propunha táticas ousadas como o “governo operário” ligadas a perspectiva da insurreição e demonstrou uma superioridade estratégica para as tarefas da “Revolução no Ocidente”, maior do que consagrados nomes para esse tema, como o de Antonio Gramsci. É chave, nesse sentido, adentrar a discussão sobre a tática de “governo operário”, que estava ligada para Trotsky a um programa de armar o proletariado nas regiões da Saxônia e Turingia (Alemanha) na preparação para a tomada do poder, na medida em que a deturpação vigente hoje pela esquerda transforma essa tática em situações particulares e profundas de 1923 em um “mote” (desvinculado da situação concreta) para deturpações eleitorais e oportunistas de todo tipo.

 Na terceira sessão, que se realizará na Unesp de Marília em 23 de Outubro, vamos abordar o período da década de 1930, a partir da discussão estratégica de Trotsky para a Revolução Espanhola, que se estende de um período que vai de 1931 a 1939. Sob o mote de “a vitória era possível!”, refletiremos o combate de estratégias de Trotsky com o anarquismo, o autonomismo e o centrismo (sobretudo os debates com o Partido Operário de Unificação Marxista - POUM) que foram cruciais na derrota da revolução espanhola; além disso, também abordaremos o combate ao stalinismo, que na Espanha como nos outros países europeus, conjuntamente à Frente Popular, atuou para frear o anseio das massas a tomada do poder e, nesse sentido, colaborando para uma traição histórica aos trabalhadores nas vésperas da Segunda Guerra Mundial.

 Por fim, a última sessão, a ser realizada novamente na USP no dia 08 de Novembro, pretendemos adentrar no legado de Trotsky diretamente relacionado aos problemas do século XXI, especialmente no meio da forte crise econômica que estamos vivenciando. Para tanto, resgataremos seu célebre Programa de Transição, que é uma verdadeira arma para o conjunto dos trabalhadores se apropriarem de seu conteúdo e seu método para os desafios que a luta de classe atual colocará aos trabalhadores e que, a partir do resgate da IV Internacional e da luta pela sua reconstrução, temos certeza que estaremos mais preparados para esses desafios. Nessa sessão, também faremos o lançamento da Revista Estratégia Internacional – Brasil, com debates teóricos e políticos de estratégia atuais, como uma contribuição à reflexão trotskista em nosso país na perspectiva da construção de um partido revolucionário no Brasil.

Com esses debates fecharemos o seminário “Por Que Trotsky?”, e pretendemos, nesse sentido, partir da pergunta e contribuir com alguns elementos para a resposta do porquê as novas gerações de trabalhadores e da juventude devem se apropriar com todas as forças do legado de Trotsky para enfrentarmos as tarefas revolucionárias colocadas numa época em que se reatualiza com velocidade impressionante a perspectiva de “crises, guerras e revoluções”.


Calendário do Seminário

03/10 - USP: Russia e a Teoria da Revolução Permanente: 1905 e 1917
Claudionor Brandão e Edison Salles

18/10 - UNICAMP: Alemanha: estratégia e tática e a revolução no "Ocidente"
Iuri Tonelo e Pablito Santos

23/10 - UNESP Marilia: Espanha: A vitória era possível
Claudionor Brandão e Antonio Augusto

08/11 - USP: Lançamento: revista Estratégia Internacional Brasil nº6
Simone Ishibashi e Gilson Dantas

 








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