segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Sob ameaça imediata de demissões e eliminações na USP, começa a ressurgir o movimento estudantil no estado de São Paulo

Por Julia Borges, estudante de História da USP e Letícia Parks, estudante de Letras da USP

No campus da USP em São Carlos, o movimento estudantil começa a dar demonstrações de que está pronto para ressurgir. Os estudantes de São Carlos, no último dia 29 de agosto, organizaram uma manifestação com cerca de 400 pessoas em resposta à reunião do conselho gestor do campus, que visa implementar diversas medidas repressivas. As principais são: o fim da autonomia na utilização dos espaços estudantis e do CAASO (centro acadêmico único que engloba as secretarias acadêmicas de cada curso do campus), com a proibição de festas e venda de cervejas, que geram o autofinanciamento do movimento estudantil; a retirada de alguma autonomia conquistada pela luta dos estudantes na gestão do alojamento da universidade (na seleção dos moradores e as regras da moradia) e a assinatura do convênio USP – PM.

Os estudantes da EACH (USP-Leste) lutam hoje contra o mesmo projeto de universidade privatista, elitista, repressora e fechada à população pobre e à classe trabalhadora. Essa privatização se manifesta na terceirização do restaurante universitário, que demite funcionários no troca-troca de empresas terceirizadas que prestam o serviço à USP. Esse método já é conhecido, além de demitir trabalhadores também deixa tantos outros sem salários com as constantes “falências” farsescas das empresas terceirizadas - que no ano passado foi revertida com a importante greve d@s trabalhador@s terceirizados da UNIÃO, depois de 3 meses sem receber, quando também recebeu apoio do movimento estudantil, dando um importante exemplo de luta. Os estudantes da EACH saem em luta contra a terceirização, pela reincorporação de uma funcionária demitida, e pela contratação de mais funcionários e melhores condições de trabalho e de alimentação para os estudantes, em aliança com os trabalhadores. Tanto a assinatura do convênio com a PM quanto os escândalos da terceirização, demonstram o projeto de universidade que esta por trás das reitorias, onde a prioridade está longe de ser boas condições de trabalho, pois dá lugar ao seu oposto: por um lado o lucro de empresas ligadas aos burocratas da universidade e a divisão dos trabalhadores entre efetivos e terceirizados para paralisar suas lutas e por outro a repressão aos lutadores como se evidenciou na luta do ano passado contra a PM no campus.

Dando mais uma prova de que o projeto privatista e repressor de universidade não se restringe à USP, mas avança em nível estadual e nacional, também na UNESP, no campus de Franca, estudantes sofrem repressão por rechaçarem a presença do príncipe do Brasil, em uma palestra na Faculdade de Direito, que defende abertamente o latifúndio ao custo da repressão e dos assassinatos no campo, contra a reforma agrária, e combate leis por direitos elementares como a criminalização da homofobia e do trabalho escravo. Agora os estudantes são perseguidos pela direção. Nacionalmente os estudantes das universidades federais acabam de sair de 3 meses de uma enorme greve dos 3 setores contra as condições precárias das universidades federais do REUNI. Em São Paulo, os estudantes da UNIFESP, também em greve, foram presos durante uma manifestação contra a repressão e a precarização da educação, em aliança com a população do bairro dos Pimentas, em Guarulhos, e seguem sendo reprimidos, e assim como na USP com os processos e ameaças de expulsão.

Em todos esses casos vemos o movimento estudantil se levantar contra um mesmo projeto. O movimento estudantil volta a se mobilizar estadual e nacionalmente contra a precarização do ensino, do trabalho, contra a repressão e a privatização do ensino público. São expressões de que o semestre pode ser atravessado por novas fortes mobilizações nas estaduais paulistas, no marco do aumento dos choques entre os governos e patronais e os trabalhadores em todo o país, que golpeiem reitorias e governo. Mas para que isso aconteça é necessário que as direções do movimento estudantil tenham uma política diferenciada do que vem mostrando até agora. Tenham política para unir todas as lutas que vão no mesmo sentido, contra um mesmo projeto e a forte repressão. É tarefa das direções dos movimentos organizar a vanguarda e base dos estudantes, forjando uma mobilização estudantil a nível estadual e colocando todo o seu peso para fortalecer esses processos.

Barrar a repressão e avançar para uma forte mobilização estadual!

Os estudantes em São Carlos e na EACH, assim como os trabalhadores da prefeitura do campus Butantã que saíram em mobilização no dia 05 de setembro, demonstram que os ataques são urgentes, e que é preciso resgatar os métodos de luta – atos, piquetes – que podem nos levar a vitórias contra esse projeto privatista de universidade, através da organização em base aos históricos mecanismos de auto-organização, como as assembleias de base, comandos e comitês específicos de luta contra a repressão.

No último mês se organizou na USP o XI Congresso dos Estudantes da USP, no qual graças a uma forte luta política travada por um setor dos estudantes presentes no congresso, em que a LER-QI e a Juventude Às Ruas estiveram à frente, que colocamos a todo o momento a importância de que o congresso servisse para mobilizar os estudantes numa luta encarniçada contra os ataques da reitoria e por isso contra a repressão – cujo exemplo mais vivo se expressou na prisão dos 73 estudantes e trabalhadores na reintegração de posse da ocupação da reitoria por uma operação de guerra com mais de 400 militares, em novembro do ano passado. Deste modo defendemos a necessidade de organizar uma importante campanha contra a repressão aos lutadores, pelo fim de todos os processos - parte dos quais programado para se concluir nesse mês -, e pela reintegração dos 8 estudantes eliminados por lutar por moradia e de Brandão, diretor do SINTUSP demitido inconstitucionalmente, justamente por lutar ao lado do setor mais precário, os terceirizados. A votação dessa campanha no congresso e essa luta política impulsionaram na semana seguinte importantes reuniões do DCE, sendo as mais lotadas do ano. Essa importante campanha tem que ser impulsionada com toda a força ainda nesse mês, quando se encerram os processos e se caminha para a efetivação da expulsão e demissão de estudantes e trabalhadores como mostra da ofensiva repressiva da reitoria da Universidade de São Paulo.

As direções do movimento estudantil desde já não estão colocando suas forças nessa luta, opondo esta à campanha por democracia. A maior expressão disso está no processo eleitoral para diretor da FFLCH, em que as gestões do DCE e CAs colocam todo o seu peso, sem ligar em nenhum momento com a luta contra os processos, que são a expressão de uma estrutura de poder herdeira da ditadura militar, que mantem um regimento disciplinar instituído por decreto em 1972, em plena vigência do AI-5, e munidos dessas armas prendem os que lutam por melhores condições de ensino, trabalho e contra a repressão dentro e fora da Universidade, ou seja, contra o projeto de universidade a serviço dos lucros que vem se aprofundando há décadas e é implementado pelos governos nacional e estadual com políticas complementares. É necessário que as direções se atentem para a importância central que tem a construção de uma forte mobilização que seja capaz de impor uma derrota a Rodas, barrando essas expulsões e demissões, que caso passem representarão uma derrota para o movimento estudantil de conjunto. Só partindo daí, fazendo com que as deliberações do congresso dos estudantes da USP seja efetivo e não formal, como estão agindo, será possível oferecer uma via para que as primeiras lutas já em curso possam se ligar, avançando para uma forte mobilização estadual, que possa, através da auto-organização e da aliança com os trabalhadores, golpear fortemente reitorias e governo e avançar para conquistas importantes!

0 comentários:

Postar um comentário