quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Não bastam pequenas reformas, lutemos por outro projeto de universidade!

Declaração da Juventude às Ruas  frente às eleições para direção na Unesp Marília.

Nos dias 10, 11 e 12 de setembro acontece processo eleitoral antidemocrático para eleger os novos diretor e vice-diretor da Faculdade de Filosofia e Ciência. Assim como em diversos órgãos e eleições da UNESP, inclusive nas próximas eleições para reitor que acontecem em outubro, o voto dos professores tem peso de 70%, enquanto que os de trabalhadores não docentes e estudantes têm apenas 15% cada, mesmo esses últimos sendo muitas vezes mais numerosos do que os primeiros. Este ano, apenas uma chapa participa das eleições. Ela é formada pelo professor da Pedagogia José Carlos, candidato a diretor, e pelo professor da Fisioterapia Marcelo Navega, candidato a vice.
              
José Carlos sempre foi conhecido no campus como um professor “progressista”. Esteve à frente da presidência da ADUNESP (Associação de Docentes da UNESP) e já concorreu por duas outras vezes à direção da FFC como candidato de oposição as últimas gestões, Tullo e Fujita, conhecidas por se alinharem com as posições da reitoria, e consequentemente com os tucanos do Governo de São Paulo. Em seu plano de gestão, Zé Carlos faz críticas a precarização do trabalho, ao produtivismo que pressiona a produção de conhecimento e chega até a defender a paridade (mesmo peso de 1/3 para os três segmentos) nas eleições e se coloca contra a terceirização do trabalho na universidade. Sua principal proposta é a implementação da gestão participativa, que criaria canais de participação da comunidade universitária nas decisões da unidade.
                
Esperançosos com um suposto “avanço democrático”, parte dos professores, trabalhadores e estudantes descontentes com o atual projeto de universidade depositam hoje ilusões na candidatura de Zé Carlos. Mas será mesmo que a eleição de um diretor considerado “progressista” mudará os rumos da universidade? Será que votar no candidato “menos pior” contribui para transformar a universidade? Nós, estudantes que construímos a Juventude às Ruas em Marília, acreditamos que não (!) e chamamos todos aqueles comprometidos com a transformação radical da universidade a votar nulo nessas eleições!

Em primeiro lugar, acreditamos que a crítica que a chapa faz ao atual modelo de universidade pública é totalmente insuficiente e parcial. É criminoso falar em universidade pública no Brasil sem denunciar seu caráter elitista, racista e opressor e a decepção dos milhões de jovens que todos os anos são impedidos de entrar na universidade por conta do filtro do vestibular. A expansão feita por Lula e o PT nos últimos anos abriu poucas vagas através da precarização do ensino público e de concessões aos grandes monopólios privados da educação, porém milhões de jovens ainda não tem acesso ao ensino superior de qualidade. Defender a universidade pública de qualidade sem tocar neste aspecto não questiona, mas sim legitima o atual modelo.

No que se trata da democratização da estrutura de poder, apesar de considerarmos a proposta de paridade um avanço frente ao 70-15-15 atual, defendemos como forma de representação o voto universal, onde todos tem o mesmo poder de decisão independente do setor que pertence. No entanto, mesmo a paridade defendida pelo professor não passa de discurso vazio se a maneira para alcança-la é simplesmente levar a proposta para o Conselho Universitário e pedir para a burocracia acadêmica que o controla, na proporção dos mesmos 70-15-15, que se desfaça da principal ferramenta que utiliza para manter seus interesses. Acreditamos que qualquer mudança da estrutura de poder só pode vir pela mobilização e luta por uma Assembleia Universitária que vote um novo estatuto para a UNESP! Por que, sendo a favor da paridade, a chapa não propôs que fosse feita uma consulta paritária e o resultado indicado para a comissão eleitoral como já acontece em dezenas de universidades no Brasil?
                
Como falar em gestão democrática e nem sequer fazer uma única referência em solidariedade aos estudantes e trabalhadores que estão sendo ameaçados de expulsão na USP por lutar contra a polícia ou as ameaças de repressão que estão ocorrendo neste momento contra os estudantes que corajosamente expulsaram da UNESP de Franca um dos representantes do que há de mais reacionário no país?
                
Também não nos convence o discurso contra a terceirização. Quando questionado num dos debates sobre como faria para reverter a terceirização do serviço de limpeza da FFC, Zé Carlos respondeu que caso fosse eleito nenhum serviço seria terceirizado a partir daquele momento, mas, em relação a limpeza, “no que está ganhando não se mexe”. Quem está ganhado? E desde qual ponto de vista? Só conseguimos entender que quem ganha com a terceirização hoje é o dono da empresa terceirizada com os altos lucros que consegue através da superexploração do trabalho. Para ser consequente com a denúncia contra a terceirização, e não utiliza-la apenas para fins eleitorais, desafiamos o professor a seguir o exemplo dos estudantes da FFC que mais de uma vez já votaram em suas assembleias a proposta de fim da terceirização com a incorporação das trabalhadoras terceirizadas sem concurso público!
                
Nossa polêmica com as posições apresentadas pela chapa não se resumem a propostas que faltaram ou que estão no plano de gestão e não serão efetivadas. A divergência é sobre qual projeto de universidade queremos construir e como concretizaremos essa mudança. Não acreditamos que o projeto de universidade historicamente defendido pelo movimento estudantil combativo de Marília, ou seja, uma universidade pública a serviço da maioria da população e acessível a ela, possa ser alcançado por pequenas e graduais mudanças respeitando as “regras do jogo” ou os “limites da legalidade” de um regime universitário antidemocrático e autoritário herdeiro da ditadura militar.
                
Hoje os cofres das estaduais paulistas ainda estão cheios por conta do recorde de arrecadação do imposto sobre o consumo (ICMS) que financia as universidades paulistas e a reitoria consegue atender algumas das reivindicações do ME e dar aumentos salariais aos trabalhadores. No entanto, a crise econômica mundial continua se aprofundando e os seus efeitos no Brasil cada vez aparecem com mais força. Os governos e os empresários já começam a se preparar para descarregar os prejuízos da crise nas costas dos trabalhadores e da juventude. Esse cenário indica que teremos enfrentamentos mais profundos contra a burocracia acadêmica, as reitorias e o governo nos próximos anos. Devemos nos preparar.

A transformação radical da universidade só será alcançada através da luta conjunta entre estudantes, trabalhadores e professores da universidade aliados à classe trabalhadora e a juventude pobre que está fora dos muros universitários! 

0 comentários:

Postar um comentário