quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Entrevistamos Zonyko, ativista do Hip Hop e do movimento estudantil chileno que virá ao Brasil em setembro


Zonyko é também militante do PTR-CcC (grupo irmão da LER-QI no Chile e parte da Fração Trotskista), que impulsiona junto a independentes a Agrupação Combativa e Revolucionária (ACR) que recentemente reuniu cerca de 300 companheiros nacionalmente. Desde o início do processo de luta da juventude estamos na linha de frente dos combates.


JPO: A mobilização que está acontecendo no Chile neste momento é continuidade do ano passado?
Completamente. A juventude no Chile vem sendo uma grande protagonista das mobilizações da juventude em todo o mundo. Passamos de ser um dos países mais estáveis do mundo, para fazer parte deste que é o maior ascenso da juventude em todo o mundo desde 1968, com a luta pela educação gratuita. Mas a juventude terminou se chocando contra os pilares do Chile neoliberal, colocando em cheque a herança pinochetista e o regime herdado da ditadura, mantido pela direita e pela Concertación. Mas no ano passado a coisa explodiu com a luta da juventude. Só que as direções burocráticas, PC e variantes populistas, aceitaram a política do governo de desvio para o parlamento e isolaram os setores combativos. Por isso não vencemos. E fizeram isso mesmo depois de o governo e sua polícia terem levado a vida de Manuel Gutierrez no histórico 25 de agosto em que saíram as ruas quase um milhão de pessoas. Mas a juventude, principalmente a secundarista volta a sair à luta, seu “segundo round”.

JPO: Como está sendo a luta deste ano?
Voltaram com tudo as ocupações e marchas massivas. No dia 28 de agosto, os professores com participação dos secundaristas e universitários mobilizaram 200.000 pessoas pelo país. O presidente Piñera, com apenas 27% de aprovação, responde com repressão, querendo fazer valer uma nova lei, a Lei Hinzpeter, que permite prender manifestantes por até 3 anos. O problema que enfrentamos é que a vanguarda, principalmente secundaristas, está sozinha, ainda que ganhando adeptos. Aparecem grupos anti-ocupação de estudantes e pais reacionários organizados, junto à repressão policial para desocupar os colégios. A vanguarda responde reocupando. Estamos num equilíbrio instável e dinâmico, que mostra que a crise segue aberta, mas com uma correlação de forças muito mais empatada que no ano passado.

JPO: E como está a experiência com a burocracia estudantil neste momento? O que propomos para fazer avançar a organização dos estudantes para vencer?
A burocracia estudantil quer aceitar migalhas. A Confech (Confederação dos universitários) defende a regulamentação da educação privada e abandonaram a luta imediata pela gratuidade. Deixa os secundaristas, que têm sido vanguarda, serem reprimidos sozinhos (inclusive com abusos sexuais). Em secundaristas, o movimento terá que impor uma unificação em base a delegados revogáveis eleitos na base para superar a atual fragmentação entre a ACES (dirigida majoritariamente por populistas) e a CONES (dirigida majoritariamente por reformistas, PC, Concertación). Um organismo assim permitiria que fossemos até o final na luta pela educação gratuita, contra a Lei Hinzpeter e para liquidar a herança pinochetista, superando as direções.

JPO: Temos visto que vem avançando bastante a construção da Agrupação Combativa e Revolucionária, pode nos contar um pouco sobre esse processo?
Temos organizado mais de 300 companheir@s nas cidades de Santiago, Antofagasta, Valparaíso e Temuco. Foi um avanço muito grande como parte deste processo. O PTR teve o mérito de, distintamente da inércia das outras organizações, se meter com tudo no movimento e se ligar a parte dos setores mais combativos. Hoje somos reconhecidos em todo o país, tanto por estar na primeira fileira do combate contra a polícia e a repressão, por termos sido os mais consequentes na luta pela educação gratuita e contra a burocracia estudantil, mas também por termos sido parte importantíssima do processo mais avançado de questionamento à burocracia estudantil, na Universidade de Santiago do Chile, a USACH. E ainda estivemos a frente de uma das experiências mais avançadas do movimento secundarista, que foi a auto-gestão do colégio A90, que hoje é um exemplo que está sendo seguido por parte do movimento que ressurgiu.

JPO: Conte-nos sobre sua trajetória no movimento hip hop, sua ligação com o movimento e porque resolveu neste ano entrar para o PTR e para a ACR. Tem a ver com o processo de 2011?
Exato. Foi a luta de 2011 que me colocou em crise na realidade. Eu venho do populismo, uma tradição muito forte aqui no Chile, também dentro do hip hop e nos seus coletivos. Em 2011, muitos ativistas do hip hop vimos que estávamos por fora do processo. Por exemplo, minha companheira e eu impulsionávamos um coletivo e os jovens que vinham nas atividades estavam nas ocupações de colégios, marchavam, lutavam nas ruas, e o dia do hip hop era o momento de relaxar. Isso nos levou rapidamente a irmos para as ocupações, começamos a compor canções que empalmaram com aquele setor mais combativo, realizamos vários festivais e atividades em colégios. Assim tivemos um grande avanço subjetivo. Isso não aconteceu só com agente, e sim com um amplo setor do hip hop combativo. Mas, obviamente, não via até o final as questões estratégicas fundamentais. Foi justamente isso que consegui ver quando comecei a me aproximar do PTR.

JPO: Quais são essas questões estratégicas fundamentais que fizeram você se ligar ao trotskismo?
A importância da classe trabalhadora como a única que pode levar a luta contra o capital até o final, a necessidade da aliança operária-estudantil, a necessidade de um partido revolucionário de combate, além de outras. A experiência que tive nestes coletivos me mostrou que a partir deles não se pode superar as direções burocráticas e menos ainda a burguesia. Essas lições fomos tirando no processo de luta e ficaram “gravadas a fogo” na minha cabeça. O hip hop pode estar ligado à luta de classes, à perspectiva revolucionária.

JPO: Alguma mensagem a juventude brasileira?
É realmente uma honra viajar para o Brasil. Estou muito contente porque vou participar de um encontro da Juventude às Ruas no dia 29, para quando também estamos tentando organizar um festival, alguma coisa de protesto, com música e tal. Também por poder conhecer camaradas que lutam pelas mesmas ideias que nós aqui no Chile, os companheiros da LER-QI. Isso é parte do internacionalismo que temos na FT. Estou ansioso para compartilhar estes momentos com a juventude brasileira combativa e revolucionária.

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