sexta-feira, 20 de abril de 2012

RACISMO na UNESP: Não passará!!!


Articular o movimento estudantil da UNESP no CEEUF para combater o racismo em todas suas implicações sociais

Mais uma vez um câmpus da UNESP é protagonista em uma ofensiva opressora, dessa vez o câmpus é o de Araraquara e a opressão é de racismo. Desde o início de abril, os estudantes que circulam pelos corredores dos Centros Acadêmicos podem ler a seguinte pixação em frente ao CA de Letras: “sem cotas para os animais da África.” Há dois anos atrás, nesse mesmo câmpus, durante o Interunesp*, mais de 70 estudantes protagonizaram o auto-intitulado “Rodeio das Gordas”, onde homens apostavam quem conseguia subir em cima de uma mulher gorda e ficar o máximo de tempo possível. Em diversos câmpus, todo o ano, se realiza a famosa “Festa do Miss Bixo”, onde alguns estudantes veteranos embriagam e coagem alguns calouros a se travestirem e esteriotiparem, por meio de expressões e ações machistas e homofóbicas, a travestilidade.
O estudante Sumbunhe N'Fanda mostra  a pichação "Sem cota para os animais da África", na Unesp
















Todas essas ações opressoras se tornaram ainda mais correntes a partir da campanha eleitoral entre Dilma e Serra em 2010 e das contradições que o governo petista da Dilma vem tendo para manter a governabilidade com o amplo arco de alianças que fez com os setores mais reacionários da burguesia brasileira, que se expressa nos limites e na incapacidade de avançar nos elementares direitos democráticos (educação sexual laica; direito ao aborto legal, seguro e gratuito; casamento e adoção para casais homoafetivos; direito à terra; direito à punição dos torturadores da ditadura; etc), utilizando de um discurso para responder a um suposto "Brasil de todos" e aos movimentos sociais que se contradiz com a prática de acordo e submissão aos setores organizados dos militares, da bancada evangélica, dos ruralistas e dos industriais. Esse ato de racismo, porém, representa não só o avanço dos setores reacionários legitimados pela política do governo, mas as contradições mais profundas de um desenvolvimento do capitalismo que se formou com uma origem colonial e a partir de um regime escravagista, tendo em dois pólos opostos, de um lado, os negros constituindo as camadas mais exploradas e oprimidas do proletariado urbano e rural, e do outro, uma burguesia incipiente surgida do campo e dos oligarcas brancos.

Esse ato de racismo dentro da Universidade pública representa os interesses dos setores mais reacionários da burguesia brasileira, especialmente a latifundiária que no interior de São Paulo cumpre um papel chave na monocultura da cana-de-açúcar, nas usinas e no agronegócio. Hoje, dentro das universidades públicas, com mais ênfase nas estaduais paulistas, os negros representam menos de 5% do número de estudantes, número esse que diminui drasticamente se observarmos os cursos de Direito, Medicina, Arquitetura e Engenharias. Por outro lado, mais de 50% dos trabalhadores são negros, dado que salta bruscamente devido essencialmente axs trabalhadorxs terceirizadxs, os setores mais precarizados, mais explorados e com menos direitos dentro da Universidade.

Servente aos interesses da burguesia paulistana, a burocracia da UNESP não está interessada em modificar esse quadro. Há um mês atrás, o atual Reitor em exercício, Julio César Durigan junto do govenador Alckimin anunciaram a criação de mais um campus e outros 11 cursos na UNESP, todos de Engenharia (bioprocessos, química, agronômica, pesca, energia e recursos renováveis, etc), todos ligados aos interesses do agronegócio. Ao mesmo tempo a Reitoria precariza cada vez mais alguns campus, como Ourinhos, onde existe apenas o curso de Geografia, e que, por não servir aos interesses imediatos dos latifundiários da região, vem sendo sucateado para justificar um possível fechamento. A política de expansão de vagas da UNESP além de não ser para os negros é pensada em combate aos mesmos, favorecendo os filhos de seus algozes (burguesia branca de origem oligárquica), elitizando ainda mais a UNESP e permitindo que manifestações racistas como essa de Araraquara surjam e possam se reproduzir mais corriqueiramente. A maior responsável por esse ato de racismo é a política da Reitoria da UNESP e do governo do Estado!

Hoje em dia já é cada vez mais claro que o papel do vestibular é funcionar como um filtro social, que impede que o povo pobre e os filhos da classe trabalhadora possam sequer sonhar em prestar sua prova, que elimina desde antes do processo seletivo boa parte dos negros e serve para manter a elitização das Universidade Públicas (que, ou não possui, ou possui uma débilissima política de permanência estudantil) e empurrar o jovem trabalhador para a goela dos tubarões do ensino privado. Por essa razão a primeira luta de todos os setores organizados desde o movimento estudantil, social e de trabalhadores deve ser o fim do vestibular e a estatização das universidades particulares.

Vemos, porém, que a expressão desse racismo nas Universidades e em setores do movimento estudantil se localiza no ataque às tímidas políticas de cotas raciais. Tímidas por que o próprio governo, que representa os interesses da burguesia brasileira, mas tem que responder a alguns mínimos anseios de sua base eleitoral, não tem interesse em garantir uma política de cotas raciais séria que responda realmente a demanda do povo negro. Àqueles que dizem que as políticas de cotas seriam segregacionais, respondemos que as cotas já existem há anos, e são cotas de 98% para os brancos. A segregação racial no Brasil existe desde os tempos coloniais e ganha traços de classe a partir do desenvolvimento do capitalismo. Sem abrir mão da luta principal pelo fim do vestibular, que é o funil que nos leva a discutir hoje a necessidade de cotas raciais, uma política séria de cotas seria a garantia de uma porcentagem de vagas na Universidade Pública equivalente a porcentagem da população negra no Estado.

Por esas razões, não acreditamos que o Estado ou a Reitoria sejam capazes de garantir a apuração e julgamento desses atos (no plural, porque não são isolados), já que os mesmos são os maiores incentivadores desses atos de violência e opressão por meio das políticas e dos projetos elitistas que implementam nas Universidades Públicas e, particularmente, o governo do Estado, pela política de violência direta que aplica através da Polícia Militar na higienização da cidade com a expulsão, encarceramento e assassinato de moradorxs de rua (a maioria negrxs, já que a questão da terra está diretamente ligada à questão negra), criminalização da pobreza nas periferias, morros e favelas e com o extermínio do povo negro, que perfazem 75% das estatística dos inúmeros assassinados pela polícia militar. E, como se não bastasse, a Reitoria da UNESP, por via da Diretoria de Marília, pretende implementar um curso de pós-graduação em Ciências Policiais para aprofundar ainda mais a repressão ao povo negro e com isso incitar ainda mais ações de opressão e violência.
Nesse sentido, pautados nessas reflexões, é que enxergamos como tarefa central do movimento estudantil da UNESP, por via do Conselho das Entidades Estudantis da UNESP e da FATEC (CEEUF), que irá ocorrer em Marília nos dias 12 e 13 de maio, efetivar uma enorme campanha CONTRA O RACISMO. O movimento estudantil de Marília, hoje, se mantém em uma ocupação da Seção de Comunicações da Faculdade para repudiar a nova tentativa da Direção de contratar trabalhadorxs terceirizadxs para o Restaurante Universitário. Como apontamos, a terceirização do trabalho, como a forma mais precarizada, mais humilhante e mais divisionista da classe trabalhadora, se configura como uma semi-escravidão dos tempos neoliberais, atingindo, na ampla maioria, xs negrxs; também as recorrentes tentativas de sucateamento das mínimas políticas de permanências estudantil vão no mesmo sentido de eliminar xs poucos estudantes pobres (a maioria dxs negrxs que hoje estudam nas Universidades Públicas) da possibilidade de cursar o ensino superior. Sabendo que a Reitoria não é capaz e nem tem interesse em punir xs agressorxs e racistas, mas sim xs lutadorxs, nós, da Juventude Às Ruas, construiremos e participaremos desse CEEUF para garantirmos uma enorme campanha contra o racismo que abarque o combate à terceirização, a luta por políticas reais e efetivas de permanência e a democratização do acesso à universidade pública com o fim do vestibular!

0 comentários:

Postar um comentário