quarta-feira, 4 de abril de 2012

Formação da Juventude às Ruas-Franca

Uma Juventude que não esquece e não se cala frente a repressão de ontem e de hoje!

Com a presença de aproximadamente 40 estudantes da UNESP/Franca se iniciou, nesta quarta-feira, dia 28/03, a segunda atividade de fomação da Juventude às Ruas.

De início retomamos que essa atividade tinha o caráter de continuidade do que havia sido a primeira reunião, em que assistimos um vídeo que tratava da mudança de época a qual estamos entrando desde a crise econômica mundial de 2008 e mostrava os inúmeros processos de luta que vêm se desevolvendo desde o fim de 2010 ao redor do mundo (Grécia, França, Primavera Árabe, Espanha, Chile, etc...). Discutimos como esses processos, relacionados à crise econômica mundial, jogavam por terra as teses de “fim da história” e colocavam novamente no horizonte da juventude a perspectiva de revolução. Buscamos compreender o quanto o engodo da “vitória do capitalismo” que nos foi ensinado trouxe consigo uma bagagem ideológica e moral extremamente conservadora, fazendo da nossa geração, uma geração com valores retrógrados e que esses exemplos demonstravam que era necessário subvertermos a própria moral sobre a qual fomos educados.

Trouxemos a discussão para o Brasil e avaliamos como, ainda que pese o conformismo, consumismo e o individualismo, frutos da ofensiva neoliberal da década de 90 amaciada por programas assistenciais e crédito fácil no governo Lula, começam a surgir alguns processos de resistência, seja da juventude nas marchas pelo passe-livre e pela liberdade, seja na classe trabalhadora, como em Jirau e Santo Antônio e com as terceirizadas da USP. Assistimos um video sobre o processo de luta das trabalhadoras teceirizadas da USP de 2011, onde a Juventude Às Ruas, desde o movimento estudantil, interviu ativamente junto das trabalhadoras e conseguimos arrancar uma vitória com o pagamento dos salários na luta estratégica da efetivação sem concurso das trabalhadoras terceirizadas.

Nesta quarta-feira, semana em que se completam 48 anos do Golpe Militar brasileiro, no sentido de dar continuidade aos debates, buscamos retomar o processo da ditadura militar no Brasil. De início fizemos uma saudação aos trabalhadores espanhóis que dia 29 de março realizam uma greve geral contra a Reforma Trabalhista do governo Rajoy e colocamos a atividade em memória dxs três companheirxs do MLST que, dia 23/03, foram assassinados em uma emboscada, fruto da concentração de terras no Brasil e da impunidade, resquício da ditadura. Assistimos, então, ao documentário “ABC da greve”, tanto para demonstrar a existência e potencialidade da classe trabalhadora, quase sempre apagada da história pela academia, quanto para resgatar o papel fundamental que os trabalhadores tiveram na resistência à ditadura militar e sobre sua queda.

Logo após, a Profª Marisa tomou a palavra para jogar questões importantes a serem refletidas. Partiu de lembrar que vivemos em uma ditadura do capital sobre o trabalho, que assume formas distintas de realizá-la, naquela época, a forma era o regime ditatorial, que tinha como ônus colocar amplos setores ao seu combate, hoje, a forma é o regime democrático, que afeta a subjetividade das pessoas acerca de como combater o inimigo. Marisa problematizou também o período entre o fim do Estado Novo e o início da ditadura militar, questionando se poderíamos considerá-lo como democrático, afinal, por exemplo, as organizações e partidos de esquerda eram mantidos na ilegalidade. E, por fim, apontou a farsa da justificativa do Golpe ter sido para “barrar o perigo do comunismo”, quando na verdade, o mesmo representou os anseios dos setores latifundiários mais conservadores que, temerosos com as revoltas camponesas que estouravam no campo, com as greves operárias que eclodiam semanalmente nas fábricas, com a insubordinação de setores do exército e a possível unificação popular desses movimentos, viram nas reformas de base de João Goulart no meio desse processo (reformas populares na esfera democrático-burguesa) uma ameaça concreta aos seus interesses, o que motivou o golpe de 64.

Em seguida, Rafael Borges, estudante de direito e militante da LER-QI, resgatou a radicalidade que se expressava nas ligas camponesas na década de 60, que tinham como consígnia “reforma agrária Já! Na lei ou na marra” e os chamados dos marinheiros revoltosos à unificação com a classe trabalhadora como propulsores do Golpe, que no Brasil, diferente do Chile e da Argentina, pode ser caracterizado como um golpe preventivo, já que visava barrar essa potencial unificação e não pôr fim a um processo já em curso. O Golpe Militar veio para acabar com as organizações da classe trabalhadora. Sobre o documentário, comentou a radicalidade expressa nos trabalhadores, a vontade de seguir em luta não apenas pelo aumento salarial mas contra os ataques do regime ditatorial (como o documentário deixa claro), apontou, porém, a traição e os limites aos quais a direção do movimento, com a figura central de Lula, levou o conjunto da classe, selando acordo com a patronal e conduzindo o movimento ao retorno às fábricas.

As intervenções foram bastante dinâmicas, algumas dialogaram com os resquícios ditatoriais que ainda persistem nas instituições atuais, especialmente a polícia militar, e apontaram, ainda que de maneira equilibrada pelas brechas que o regime democrático nos permite, o quanto a ditadura ainda se faz presente. A impunidade dos crimes da ditadura servem hoje como carta branca para a repessão assassina aos movimentos de trabalhadores e camponeses, a repressão ao movimento estudatil e as práticas corriqueiras de sequestro, tortura e homicídio da polícia nas favelas e periferias contra o povo pobre e negro. Outras falas dialogaram com a atuação da academia na formação do indivíduo, como na História os professores buscam esconder o papel da classe trabalhadora como sujeito, como no Serviço Social se expressa uma tendência de formação de um profissional mediador do conflito capital-trabalho, que muitas vezes subestima a força da classe trabalhadora, como o próprio Direito, quando de suas partes progressistas, é impossível de ser aplicado. Por fim, questionou-se a possibilidade do governo garantir uma Comissão da Verdade, e mais ainda, que garanta a Justiça, levou-se em conta o papel que os sindicalistas autênticos – com Lula a frente – cumpriram na transição pactuada com a ditadura e como que o atual governo, do PT, compromissado com um amplo setor da burguesia, dos latifundiários e dos próprios militares, não pode, nem pretende, levar ao fim tal feito, e que é necesário que os estudantes, as organizações de direitos humanos, os sindicatos, os trabalhadores e os camponeses tomem a tarefa de garantir uma Comissão da Memória, Verdade e Justiça, independente do governo e dos militares.

Uma última reflexão que fechou a atividade foi acerca da possibilidade do movimento grevista do ABC ter continuado para além dos limites impostos pela direção. Alguns apontamentos destacaram que poderia ter havido um esvaziamento, outras falas apontaram a importância de uma estratégia que levasse o movimento a crescer e avançar, que a estratégia da direção do sindicato era somente garantir o movimento, quando o correto seria uma estratégia que tivesse como método a análise correta da correlação de forças para a finalidade de derrubar a ditadura com a força da classe operária. Também levantou-se a bola para nossa próxima reunião, questionando o papel que o movimento estudantil poderia ter cumprido nesse processo, inclusive pendendo a correlação de forças para o lado da classe trabalhadora.

Com esse questionamento daremos continuidade à formação da Juventude Às Ruas-Franca no dia 11/04, quarta-feira, às 16:30, na sala do 4ºano de História. Teremos como leitura básica o texto “Reflexões sobre a crise da Universidade e o movimento estudantil. Estudantes e trabalhadores: uma aliança estratégica” de Ricardo Festi e Marcelo Torres, publicado em 2008 na Revista Iskra. Desde já, fica o convite a todxs para que compareçam, conheçam a Juventude às Ruas, debatamos nossas concepções e construamos juntxs uma juventude internacionalista, questionadora dos valores, da moral e da ordem, que não esquece e não se cala diante dos crimes do passado e do presente da ditadura, e que atua na construção de um movimento estudantil combativo, democrático e aliado com a classe trabalhadora.

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