Juventude às Ruas!

Fim do massacre ao povo palestino! Fim dos ataques do Estado de Israel à Faixa de Gaza! Palestina LIVRE!!

quarta-feira, 28 de março de 2012

ELEIÇÕES DCE DA USP - Cartazes e Bandeiras da CHAPA 27 de OUTUBRO : Nem a direita aliada de Rodas, nem a miséria do possível!

Para "não se adaptar" é necessário lutar pelo fim da ditadura de ontem e hoje e por uma USP democratizada, por uma estatuinte livre e soberana, que coloque a USP, governada por trabalhadores, professores e a maioria estudantil, a serviço dos da maioria da população!!!

Nós da JUVENTUDE ÀS RUAS que construímos a Chapa 27 de OUTUBRO chamamos a todos os estudantes  a conhecer, apoiar, divulgar e votar na única chapa de união na luta contra a PM  e os processos, contra a Ditadura de ontem e hoje e por uma grande mobilização massiva dos estudantes.














Conheça nossa Carta-Programa completa: https://docs.google.com/file/d/0B4avzq0m7MBzeE5Uems4RV9RTUtVdkdPaW9COHExdw/edit 

DEBATE EM FRANCA: "48 ANOS DO GOLPE MILITAR NO BRASIL: DITADURA, CLASSE OPERÁRIA E TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA"

A Juventude Às Ruas de Franca convida tod@s estudantes, trabalhadores e professores, assim como toda a população da cidade pra participar do debate "48 anos de Golpe Militar no Brasil: Ditadura, classe operária e transição democrática", com a presença da professora Marisa Saenz Leme e a apresentação do documentário ABC da Greve, pra que a Juventude que se põe na luta contra a repressão de ontem e hoje possa debater e resgatar a luta da classe operária e do povo oprimido que não esquece a ditadura, seus assassinatos e torturas! 

Pelo direito à verdade, à memória e à justiça!
  
Nesta quarta- feira, 28/03, às 16:30, na sala do 3º ano de História na Unesp Franca.



terça-feira, 27 de março de 2012

APOIE E VOTE - 27 DE OUTUBRO


Hoje se completam 5 meses desde a detenção de três estudantes no campus Butantã da USP, estopim para o questionamento mais profundo da gestão Rodas (e da estrutura de poder na universidade, como um todo), permeado pela repressão aos estudantes, professores e trabalhadores, escancarada pela presença ostensiva da PM; esses 5 meses foram marcados por lutas, acertos, erros e balanços, em suma, pelo amadurecimento do movimento estudantil. 

Hoje, cinco meses depois, iniciam-se as eleições para o DCE-Livre da USP (de 27/3 a 29/3) e nós, da Chapa 27 de Outubro, nascida dessas mobilizações, propomos:

■ FORA PM: Pela revogação imediata do convênio entre a USP e a PM!
■ Anistia aos 73 presos políticos da reitoria e aos 12 da moradia retomada!
■ Pela reincorporação imediata dos 8 estudantes eliminados e do líder sindical Claudionor Brandão!
■ Fim dos processos criminais e administrativos contraestudantes e trabalhadores!
■ FORA RODAS! Pela dissolução do Conselho Universitário, pelo fim da atual estrutura de poder e por um regime radicalmente democrático!
■ Por uma verdadeira autonomia universitária!
■ Pelo fim do vestibular, ligado à estatização sem indenização das universidades particulares!
■ Politicas efetivas de permanência estudantil para todos! Moradia e bolsas sem contrapartida!
■ Fim do jubilamento e das políticas meritocráticas e elitistas da reitoria!
■ Pela autonomia dos espaços estudantis e de trabalha-dores!
■ Pela aliança operário-estudantil dentro e fora da USP contra os governos que se preparam para descarregar acrise sobre nossas costas! 

Conheça nossa Carta-Programa completa: https://docs.google.com/file/d/0B4avzq0m7MBzeE5Uems4RV9RTUtVdkdPaW9COHExdw/edit



http://27deoutubro.blogspot.com.br/ 

MANIFESTO DE FORMAÇÃO DA CHAPA “27 DE OUTUBRO”


UNIDADE NA LUTA  CONTRA A PM E OS PROCESSOS!

Essa chapa formou-se a partir do movimento de luta contra o convênio entre a USP e a PM e contra os processos a estudantes e trabalhadores. Há uma política repressora que tem avançado sobre aqueles que lutam contra a precarização e privatização da universidade. As ações da reitoria da USP para aprofundar o processo de mercantilização têm se intensificado – o que se produz dentro da universidade cumpre, cada vez mais, o propósito de atender aos interesses dos monopólios em detrimento dos interesses de toda a população.

Com o objetivo de implementar esse projeto de universidade, a reitoria vem tomando medidas para eliminar as forças de resistência na USP. Mais de 26 estudantes, além de vários trabalhadores, dentre eles diretores do SINTUSP, e professores, estão sendo atacados por se manifestarem politicamente, através de processos administrativos, sob pena de eliminação e demissão, e processos criminais que visam a prisão. 8 estudantes já foram eliminados. Nesta onda repressiva, a USP viveu ainda 3 processos de reintegração violentos: 73 ativistas foram presos na desocupação da reitoria por mais de 400 policiais fortemente armados, 12 na moradia retomada por um corpo policial de mais de 300 e um violentamente agredido no espaço do DCE, ameaçado com arma de fogo.

No dia 08/09/2011, o Reitor João Grandino Rodas, – indicado por Serra, e recém-declarado persona non grata pela congregação da Faculdade de Direito, de onde foi diretor –, sustentado institucionalmente por um Conselho Gestor antidemocrático (criado por ele mesmo), assinou um convênio com a Polícia Militar com o pretexto de garantir a segurança na USP. A reitoria da USP utilizou-se de maneira oportunista da morte do estudante da FEA, que ocorreu dentro do campus, criando um clima de medo para mascarar os reais propósitos do convênio Rodas-PM. O que foi omitido é que no dia do assassinato a PM já estava agindo na universidade – inclusive fazendo blitz próximo ao local. Como símbolo desse convênio, uma base móvel ronda o interior da universidade.

Outros casos, entretanto, não foram igualmente veiculados pela mídia e pela reitoria – e isso não foi por acaso. Um deles foi a morte do estudante Samuel de Souza, morador do Conjunto Residencial da USP (CRUSP). Negro, pobre e nordestino, estudava Filosofia. Samuel morreu dentro da USP por negligência da Guarda universitária e da reitoria. Também houve a morte de Cícera,, trabalhadora terceirizada da USP, assassinada na favela São Remo por uma “bala perdida” disparada pela Polícia. A hipocrisia do discurso da reitoria, que diz combater a violência, fica clara quando sua própria política de precarização foi responsável pela morte do trabalhador terceirizado de limpeza, José Ferreira, fruto de um acidente de trabalho. Para contrapor esse discurso, é preciso ver o que a própria polícia promove dentro e fora da USP, como o caso de estupro a uma estudante da USP Leste, onde o agressor seria um policial militar. No começo desse ano a mídia não conseguiu abafar o caso de Nicolas, estudante negro e pobre que, durante o fechamento arbitrário do espaço dos estudantes (DCE), além de brutalmente agredido teve uma arma de fogo apontada por um policial.

A POLÍCIA SÓ SERVE PARA REPRIMIR

A atuação da PM em nosso Campus no dia 27/10/2011 foi apenas mais um eṕisódio numa série de acontecimentos para acuar estudantes e trabalhadores da USP. Nesse dia, que culminou na ocupação da administração da FFLCH, professores e estudantes foram abordados e revistados em frente à biblioteca Florestan Fernandes. Nessa mesma faculdade, horas mais tarde, três alunos foram detidos por policiais da ROCAM. Ao tentarem impedir a detenção desses colegas, deliberadamente defendida pela diretora da FFLCH, Sandra Nitrini, centenas de estudantes foram atacados com bombas de efeito moral, gás lacrimogênio, spray de pimenta, cacetetes e balas de borracha. Vários estudantes ficaram feridos. Responderam como puderam – com paus e pedras.

Na semana que antecedeu esses acontecimentos, estudantes da Escola Politécnica foram abordados no espaço aberto de vivência, em frente ao Grêmio. Na Escola de Comunicação e Artes (ECA) um estudante foi revistado pela polícia com a justificativa de “olhar feio” aos policiais. Nos últimos meses, não foram poucas as abordagens ostensivas em todo o campus, incluindo os CA's. Isso, no entanto, não impediu um grande furto no Centro Acadêmico da ECA – o que nunca acontecera antes – curiosamente poucos dias após a revista da PM no local.

No dia 08 de novembro, a mando de Rodas e do governo do Estado, a USP teve a frágil autonomia universitária que lhe resta massacrada novamente, desta vez com uma operação de guerra que contava com mais de 400 policiais e que resultou na prisão de 73 estudantes e trabalhadores que apoiavam o movimento e garantiam a ocupação da reitoria. 

AUTONOMIA DOS ESPAÇOS

Além disso, a reitoria tenta extinguir os espaços políticos e culturais de organização dos estudantes e trabalhadores, como:

O Núcleo de Consciência Negra, fundado há 23 anos na USP, até o momento não foi reconhecido como espaço autônomo pela universidade, sofrendo com ameaças de demolição do espaço onde desenvolve suas atividades. No começo do ano de 2012, iniciou-se esse processo derrubando alguns dos barracões, mas o Núcleo permaneceu de pé devido à resistência do movimento;

O CANIL - Espaço Fluxus de Cultura, um dos poucos espaços culturais estudantis da USP-Butantã, sofreu uma tentativa de demolição, que foi barrada pelo conjunto de estudantes e de trabalhadores;

O SINTUSP, sede histórica da organização dos trabalhadores, tem seu espaço ameaçado pelo projeto da “nova eca”, imposto pela reitoria. Sofreu no começo deste ano um atentado. Pela manhã funcionários que chegavam ao trabalho encontraram os documentos da sede administrativa revirados e um forte cheiro de gás vindo da cozinha onde todas as bocas do fogão industrial encontravam-se abertas.

O espaço do DCE Ocupado, pertencente aos estudantes desde a década de 70, tem um histórico recente de ingerência. Em 2006 o espaço foi entregue à reitoria com uma promessa de ser devolvido reformado. 

Na verdade a burocracia universitária visava transformá-lo num “Centro de Vivência da Reitoria” loteado para empresas privadas, atacando a autonomia estudantil – o que foi impedido pelos estudantes, que retomaram seu espaço em 2009. Em 2012, a Guarda Universitária sob a ordem de Rodas, amparada pela PM, lacrou o espaço agredindo quem estava lá.

A Moradia Retomada foi ocupada no dia 18 de março de 2010 devido ao déficit de vagas no CRUSP e também pelo fim da ingerência da COSEAS (Superintendência de Assistência Social) e seu sistema de espionagem da vida política e privada dos moradores. Já no segundo dia de ocupação havia o mandato de reintegração de posse, cumprido arbitrariamente agora em 2012, sem a leitura dos autos, no domingo de carnaval. Para tal operação, a reitoria utilizou-se de um grande aparato da tropa de choque e PM. Doze estudantes foram presos, em celas cheias de fezes e sangue.

RODAS: REPRIMIR PARA PRIVATIZAR

A reitoria tenta silenciar todos os movimentos de resistência da Universidade com uma avalanche de processos. Os processos administrativos baseiam-se no Decreto 52.906, de 1972, Regime Disciplinar instituído sob a égide da Ditadura Militar, que vigora no estatuto da USP como “disposição transitória” há algumas décadas. Segundo este decreto, são considerados atos de “indisciplina” de estudantes, trabalhadores e professores, passíveis da punição, expressa no artigo 248, inciso IV, de “eliminação”, as seguintes práticas: artigo 250 inciso VIII - “promover manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, racial ou religioso, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares (greves)” ; inciso IV -“praticar ato atentatório à moral ou aos bons costumes”; inciso II “ (…) afixar cartazes fora dos locais a eles destinados”. As acusações que motivam a instauração dos processos tratam ações políticas legítimas como desvios de comportamento e são, ou questionáveis, ou deturpadas. Alguns dos processos foram abertos com base apenas em Boletins de Ocorrência que apresentam, como de praxe, uma versão unilateral dos fatos. Outros são baseados em um amplo sistema de arapongagem, denunciado pela Revista Fórum (Fev./2012), que comprova através de extensa documentação um sistema de vigilância sobre a atuação política de professores, trabalhadores e estudantes. Inclusive relatando reuniões do Sintusp e, por meio de preconceitos e da criminalização da pobreza, chega a acusar médicos e funcionários do Hospital Universitário de comprar e usar drogas na São Remo.

No caso dos processos criminais, coloca-se a ameaça de prisão de pessoas com base em acusações forjadas pela Consultoria Jurídica da reitoria para levar a cabo sua perseguição política. As testemunhas em favor da reitoria geralmente são membros das chefias, das guardas ou outros que, tendo vínculos empregatícios com o denunciante, têm seu testemunho enviesado. Essa é uma das maneiras de se produzir as provas falsas. Como as ditas “provas cabais” alardeadas pela burocracia com relação às eliminações de estudantes, que consistem em depoimentos de agentes de vigilância da COSEAS (a lista inicial apontava pessoas cujo álibi era estar em outro estado!). É no mínimo estranho que tenha sido criada uma delegacia especial para tratar da repressão às ações políticas dos trabalhadores. Lembrando que em 2008 um dos diretores do SINTUSP, Claudionor Brandrão, foi demitido por lutar contra a precarização e terceirização na universidade. A reitoria tenta hoje preparar terreno para avançar rapidamente com as punições contra estudantes, trabalhadores e professores.

Impõe-se um questionamento: a quem interessa, de fato, a presença policial na USP? O objetivo real da presença policial é garantir a execução de um projeto de universidade, ostensivamente defendido pelo Reitor João Grandino Rodas. Não à toa, a primeira ação ostensiva da PM na USP, após muitos anos, foi, em 2009, a mando de Rodas, para dissolver os piquetes da greve dos trabalhadores, culminando numa repressão brutal ao conjunto da comunidade, com bombas e balas de borracha cruzando os prédios e salas de aula. Esse projeto político busca submeter a Universidade aos interesses de empresas e fundações privadas, cujo único objetivo é a maximização de seus próprios lucros. É em virtude disso que as pesquisas sem viés mercadológico são cada vez mais raras na Universidade. É em nome desse projeto que se reduz a verba para o pagamento de trabalhadores efetivos e se aumenta a contratação de trabalhadores terceirizados, em condições sub-humanas que atingem principalmente as mulheres e os negros. Como parte desta política foram demitidos 270 trabalhadores efetivos em janeiro de 2011, durante as férias. No final de   2011 se institucionalizou o assédio moral e as perseguições e se preparou a demissão de milhares de trabalhadores através do PROADE (Programa de Acompanhamento e Desenvolvimento Funcional). Pelo projeto de privatização é que se reduz a contratação de professores; restringe-se a permanência estudantil – como as vagas no CRUSP que foram reduzidas quase à metade no mesmo período em que o número de alunos dobrou – tornando ainda mais excludente a universidade que já é fechada para a maioria da população. A estrutura que sustenta tal projeto é referendada apenas por um pequeno grupo de pessoas, imerso em relações políticas bastante duvidosas com grandes empresas, fundações e o próprio governo do estado de São Paulo,  sobretudo sob a administração de Rodas, levada a cabo com a mão repressora da Polícia Civil e Militar. É preciso lutar pela transformação radical do poder, pondo abaixo a estrutura arcaica e antidemocrática vigente; contra a restrição do acesso imposta pelo vestibular; pela efetivação de todos os terceirizados, sem necessidade de concurso público; por uma política efetiva de permanência estudantil.

FORA PM DA USP E DAS PERIFERIAS

Como temos visto nos últimos meses, para legitimar a violência ocorrida na USP sem explicitar seu caráter político, a reitoria utiliza de maneira oportunista o mote do “combate às drogas”. O mesmo é feito em todas as periferias brasileiras: usam falsos argumentos para atacar as liberdades elementares dos setores mais pobres da população. Como visto na forma truculenta da ação da PM na dita “Cracolândia” no centro de São Paulo. Com o avanço das perseguições a ativistas fica evidente que o real objetivo da polícia militar na USP não é o de inibir crimes, mas sim de inibir e combater manifestações políticas e cercear o direito de expressão livre de estudantes e trabalhadores. Além da repressão na USP um caso emblemático é o ocorrido no bairro do Pinheirinho em São José dos Campos, onde quase duas mil famílias perderam  tudo por meio de uma ação com mais de dois mil homens da Tropa de Choque da PM a revelia de decisão judicial, favorecendo os interesses do empresário criminoso Naji Nahas e da especulação  imobiliária sobre a região.  Na USP, a repressão se expressa através do “Programa de Ação Comunitária e Segurança” que rege a política policialesca da COSEAS, onde se produz relatórios sobre a vida dos estudantes moradores do CRUSP e suas atividades coletivas, além de servir de base para perseguições políticas.

O que a grande mídia não denuncia é que a polícia que enquadra estudantes na USP por porte de maconha é a mesma que age com o narcotráfico, recebendo o lucro das vendas com uma mão enquanto reprime com a outra. O que ela omite é que a polícia que invade casas na favela e atira em mulheres e crianças com a justificativa de prender traficantes é a mesma polícia que é sócia do tráfico. Isso revela a hipocrisia do discurso do combate ao narcotráfico nas universidades e nas favelas, pois os verdadeiros promotores e beneficiados desse mercado, um dos mais lucrativos do mundo, é a máfia das indústrias farmacêuticas, a polícia, as clínicas privadas e setores do Estado – justamente aqueles que demagogicamente defendem a criminalização das drogas.

O mais recente projeto do Rodas pretende, ainda de maneira obscura, sob o pretexto de reurbanização retirar uma população de 30 mil pessoas que há 50 anos ocupa terreno da universidade. Lembrando que a quase totalidade destas pessoas trabalhou na construção da universidade e muitos mantêm-se no quadro de trabalhadores efetivos e terceirizados. É preciso forjar uma aliança entre todos os setores que compõem a comunidade universitária contra mais este ataque que visa aprofundar a privatização da USP, criando mais uma fonte de exploração mercadológica.

Outras medidas que garantem a lucratividade à iniciativa privada em detrimento da qualidade dos serviços oferecidos são a criação do BUSP - que apesar de soar como uma concessão, retira da comunidade que frequenta a USP o direito de circular por ela livremente, sendo uma tática de elitização que amplia o fosso entre os estudantes e trabalhadores efetivos de um lado e  trabalhadores terceirizados e a comunidade externa de outro - e a criação do Plano de Saúde, que privatiza o Hospital Universitário, por um lado sucateando o atendimento à comunidade local e por outro, privatizando e terceirizando o serviço de saúde para os que tem o elitizante “vínculo USP”.

UMA NOVA ETAPA NA LUTA DE CLASSES

 Num contexto de crise do capitalismo, evidencia-se, em todo o mundo, o papel da polícia como aparelho armado de repressão aos movimentos sociais que resistem ao avanço da desigualdade, e à retirada de direitos históricos da população. Na Grécia, durante os protestos contra as políticas de austeridade, os manifestantes têm sido duramente reprimidos. Em Londres e em Madri a situação é muito semelhante. No Chile, um milhão de estudantes vão às ruas exigindo uma educação pública e gratuita, sendo também duramente reprimidos. No Brasil, os conflitos em 2009 em Paraisópolis, a repressão cotidiana das UPPs, a violência policial contra ambulantes em luta no centro de São Paulo, os massacres ocorridos nas manifestações contra o aumento da passagem em diversas capitais e a repressão ao Pinheirinho, indicam o mesmo sentido da atual militarização da USP: a repressão àqueles que lutam por seus direitos elementares. Foi assim também, ao longo do ano, com importantes greves de trabalhadores atravessando o país, sendo reprimidas pelo governo Dilma através dos cortes de ponto. Nesse cenário, é preciso um movimento estudantil aliado aos trabalhadores.

RETOMAR O DIRETÓRIO CENTRAL DE ESTUDANTES PARA A LUTA

O DCE, como entidade de estudantes, deve ser uma ferramenta de organização para a luta. Ao longo deste ano, no entanto, a gestão “Todas as vozes”, dirigida pelo PSOL, teve uma política  contra a mobilização de estudantes. Diante de todos os ataques de Rodas, nem ao menos convocou assembleias, uma medida elementar para um movimento estudantil democrático. Em oposição aos mecanismos de democracia direta, como as assembléias gerais, o PSOL leva as decisões para o CCA (Conselho de Centros Acadêmicos) onde baseado no controle burocrático dos CAs que dirige, lá impõe uma maioria artificial.

O PSOL deu um salto nessa política contra a mobilização no dia 27 de outubro, colocando-se contra mais de mil estudantes que enfrentaram a polícia. Além disso, fez um corredor humano contra o movimento para escoltar três estudantes para a delegacia! No mesmo dia, quando a assembleia votou a ocupação da administração da FFLCH em resposta à repressão policial, a gestão do DCE foi contrária, seguida de perto pelo PSTU, que está na gestão de alguns centros acadêmicos, e se negou a criticar o DCE – com quem agora compõe uma chapa - “Não vou me adaptar”.

Na assembleia em que armaram a desocupação da FFLCH, PSOL e PSTU se retiraram quando viram que perderiam a votação sobre a ocupação da reitoria, dividindo o movimento estudantil e despretigiando o fórum. Naquele momento fizeram coro com a grande imprensa, com o objetivo de deslegitimar o movimento, contribuindo mais ainda para a repressão aos estudantes e visando um enfraquecimento da luta contra a PM e os processos.  O DCE não se dispôs sequer a comparecer a uma audiência judicial para adiar a ordem de reintegração de posse da reitoria pela polícia. Em seguida, com a repressão efetivada através da reintegração da reitoria e a prisão de 73 ativistas, esse bloco oportunista se posicionou, mesmo diante de militantes presos e de uma assembléia com mais de três mil estudantes, contra declarar greve imediata para defender os presos e dar continuidade à moblização.

A mesma assembléia que votou pela greve criou uma forma direta de representação - o Comando de Greve - com delegados eleitos em assembléias de curso na proporção de 20 presentes para um delegado. A política da gestão “Todas as vozes”, apoiada pelo PSTU, demonstrou como encara os espaços de autorganização, boicotando o comando.

Nas assembléias de greve, que demonstravam a ampliação da participação estudantil e diante de ameaças de demissão de trabalhadores e eliminação de estudantes, esses setores mantinham-se em oposição a greve, falseavam ao não considerar que a mobilização crescia e que era possível fortalecer a greve e sua organização.

É preciso superar essa política que dificulta a organização dos estudantes e abre espaço para o fortalecimento dos setores de direita, como a chapa Reação que propaga o discurso da Reitoria, do governo do Estado, do PSDB ao qual muitos de seus membros são filiados, através de um programa antimovimento que visa destruir a organização dos estudantes e fortalecer as práticas repressoras promovidas por setores da direita.

Devemos construir um DCE que se mantenha ao lado dos estudantes em luta, a partir dos seus organismos de democracia direta.

Nós, da chapa “27 de outubro: unidade na luta contra a PM e os processos” defendemos a continuidade da greve e o fortalecimento dos organismos de democracia direta. Chamamos todos os estudantes, trabalhadores e professores para uma unidade na luta:

Pela autonomia dos espaços estudantis e de trabalhadores!
FIM DAS PERSEGUIÇÕES POLÍTICAS:
Anistia aos 73 presos políticos da reitoria e aos 12 da moradia retomada!
Pela reincorporação imediata dos 8 estudantes eliminados e do líder sindical  Claudionor Brandão!
Fim dos processos criminais e administrativos contra estudantes e trabalhadores!
FORA PM: Pela revogação imediata do convênio entra a USP e a PM!
FORA RODAS!




quinta-feira, 22 de março de 2012

NOTA DA JUVENTUDE ÀS RUAS - Sobre a posição da ANEL nas eleições para o DCE-Livre da USP


Ocorrerão entre os dias 27 e 29 de março as eleições para o DCE-Livre Alexandre Vanucchi Leme, da USP. As eleições ocorrem em meio a um processo de mobilização aberto em 27 de outubro do ano passado, com a primeira de duas ocupações, e que teve seu auge com uma grande greve, contra a PM na universidade, processos a estudantes e trabalhadores, a 'eliminação' política de oito estudantes, a prisão política de mais de 80 estudantes nas desocupações da reitoria e da 'moradia retomada', contra o reitor Rodas e por uma estatuinte livre e soberana. Esse processo continua aberto hoje, quando está colocada a tarefa de não somente retomar, mas aprofundar muito a mobilização e a greve do ano passado, para derrotar Rodas e sua política de repressão apoiada na estrutura de poder herdada da ditadura. Por isso, essas eleições ganham grande importância, como oportunidade para uma grande campanha militante contra a reitoria e para fortalecer a mobilização.

Nesse marco, não é a tôa, e sim em decorrência do processo concreto de luta, que a ANEL está dividida em duas chapas. Nós, da Juventude Às Ruas, que construímos o bloco ANEL Às Ruas, nos orgulhamos de, no dia 27 de Outubro, ter estado na linha de frente de um enfrentamento contra a polícia, junto a centenas de estudantes, e desde esse dia atuado para impulsionar a luta, defendendo as duas ocupações e a deflagração da greve, a constituição do Comando de Greve por delegados eleitos nos cursos, que representou um avanço histórico; defendendo uma estratégia de massificação do movimento, de aliança com os trabalhadores, o povo pobre - como os moradores da São Remo, atacados por Rodas - e os professores que apoiam o movimento e também estão sendo atacados; defendendo um programa para que o conflito avançasse para o questionamento do próprio caráter da universidade, ligada aos interesses dos grandes monopólios privados, não da juventude que está fora dela e dos trabalhadores, expresso pelo vestibular, pela falta de permanência estudantil, pela precarização do ensino e do trabalho, pelo controle das empresas sobre a pesquisa, pela estrutura de poder autoritária. Essa é a luta e o programa defendidos pela chapa "27 de Outubro - Unidade na luta contra a PM e os processos", que compomos juntos a outros setores de estudantes independentes e organizados que estiveram, também, na linha de frente desa luta.
Já a ala majoritária da direção nacional da ANEL, que nesse processo foi contra ambas as ocupações e a deflagração da greve, e interviu defendendo um programa por mais segurança e guarda na universidade, se adaptando ao discurso da segurança, ironicamente compõe a chapa "Não Vou me Adaptar". Tambem fazem parte dessa chapa os setores da Oposição de Esquerda da UNE que estavam na gestão do DCE no ano passado, e ficaram conhecidos naquele dia 27 de Outubro pelo "cordão humano" que fizeram para impedir que centenas de estudantes avançassem sobre a polícia, e por, posteriormente, terem sido amplamente citados pela grande imprensa quando declararam em nota oficial que a ocupação era um movimento "minoritário" e "antidemocrático", reproduzindo o discurso da direita, dividindo o movimento, e colaborando para a preparação política, na opinião pública, da ação militar que fez 73 presos políticos.

Frente a isso, tomamos conhecimento de pedido à ANEL, por parte de executivos da ala majoritária, de apoio à chapa "Não vou me adaptar", e de ofício à Conlutas solicitando apoio à "chapa da ANEL"! Seus argumentos centrais são que trata-se de uma chapa que "privilegia a unidade", que em seu programa "defende a universidade pública", e que seria "a favorita para vencer a direita" nas eleições, organizada pelo PP e PSDB na chapa "Reação". Nos parece absurdo que queiram que nossa entidade nacional apoie uma das chapas sem que ela tenha nenhum espaço para debater as diferenças entre ambas; tratam como se houvesse uma única "chapa da ANEL", ou seja, como se nós, que construímos a ANEL como ala minoritária, não fizéssemos parte da entidade. É uma concepção aparatística, em que a política da entidade está desvinculada do debate. Além disso, reivindicam "privilegiar a unidade"; mas com quem? Não com aqueles que, na luta, estiveram em unidade contra a reitoria e a repressão; não com aqueles que, em seu programa, levam adiante as bandeiras da luta e também da ANEL, e constróem essa ferramenta de reorganização do movimento estudantil nacional; e sim, como já se torna um hábito, com a esquerda da UNE, que esteve, como demonstramos, contra os estudantes radicalizados em momentos decisivos. Por fim, argumentam, com centralidade, que trata-se da chapa "favorita para vencer a direita" nas eleições; adotam, assim, o discurso do voto útil. Farão o mesmo em outubro, nas eleições municipais?! É um argumento absurdo: a direita só pode ser derrotada pelo fortalecimento da mobilização; a direita só pode ser derrotada por um programa para o movimento estudantil que aponte para a transformação radical da universidade, em aliança com os trabalhadores; o combate contra a direita não é decidido pelo resultado das urnas, mas pelas posições defendidas, nas eleições e na luta!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Um "contra-poder" inquilino do estado burguês, ou estratégia para vencer os capitalistas? Um debate de estratégias com o autonomismo

por João de Regina







Após três anos da crise não só as contradições econômicas se aprofundaram, como as políticas vêm adquirindo caráter cada vez mais determinante. O final de 2011 mostrou como governos e empresários dos principais países capitalistas não conseguem encontrar soluções duráveis para os problemas decorrentes da crise e como esses problemas evidenciam-se cada vez mais como encruzilhadas que só poderão ser resolvidas no terreno da política e da luta de classes. 
Politicamente 2011 se iniciou com a primavera árabe que colocou em cheque ditaduras como a da Tunísia e do Egito, e fizeram do mundo árabe um barril de pólvora onde as massas e a ação direta tiveram tanto protagonismo que a palavra revolução voltou a ser uma palavra chave em todo o mundo. Não por acaso a ocupação da praça Tahrir passou a ser uma referência da juventude que se levantava em todo o mundo. Em maio, as mobilizações na Espanha, que adquiriu o nome de “movimento dos indignados”, renomeava a praça do sol, agora ocupada, de Tahrir.
A juventude sem emprego e sem estudo da Espanha, atacada por um índice de desemprego de mais de 20%, não saiu às ruas sozinha. Foi acompanhada por jovens gregos que ocuparam a praça Syntagma e se aliaram com várias ações de trabalhadores que lutavam para que a crise não fosse paga por eles. Na Grécia não só a juventude estava nas ruas como os trabalhadores efetivaram inúmeras greves gerais e fortíssimas mobilizações nos serviços públicos, lutando contra os planos de austeridade. Em Outubro, essas mobilizações arriscaram iniciativas globais com o movimento 15-O. Em mais de 85 países ocorreram mobilizações ainda que as mais massivas tenha sido de fato nos países já afetados pela crise. Neste processo a ocupação de Wall Street teve importante destaque ainda que o pacifismo apresentado por ela contrastasse com os enfrentamentos de rua que aconteceram em Atenas e Milão.
Ainda que na América Latina possamos dizer que os efeitos da crise aparecem indiretamente, entendemos que as mobilizações estudantis no Chile e a luta dos povos originários na Bolívia são antecipações de conflitos ainda maiores.
Apostamos que essas mobilizações da juventude que combinam, ainda que de forma bem desigual, métodos radicais e aliança com os trabalhadores, são parte de um novo momento histórico onde as massas e métodos radicais de ação direta voltam a possuir protagonismos e o capitalismo, a burguesia e suas formas de representação política mostram-se cada vez mais ineficientes em dar soluções aos problemas derivados de seu próprio modo de produção. Assim, franqueia-se um período de enfrentamentos mais abertos entre as mobilizações de massa e o estado capitalista.



Autonomismo como parte de um espírito de época.

Entendemos que a nova etapa que se abre desmascarou características ideológicas de um período anterior. Este era marcado por idéias que partiam de grandes teorias sociais e iam até o senso comum, passando pelos debates dentro da própria esquerda. Do ponto de vista subjetivo, em todo o mundo e de forma massiva esta época, caracterizada pelo neo-liberalismo e o fim das experiências dos estados operários, significou um fortalecimento do individualismo, da vida privada, da fragmentação, objetiva e subjetiva, dos trabalhadores e do imediatismo sem precedentes (enfim, a recomposição das posições morais da burguesia nas distintas classes). Estes valores contribuíram para apagar do horizonte dos jovens e trabalhadores a idéia de revolução e de socialismo.
Do ponto de vista teórico, duas das ideias mais disseminadas eram a de que o “fim da história” havia chegado e de que a classe operária não existia mais. Essas ideologias, ainda que com diversos matizes, se apoiavam no fim dos estados socialistas, para afirmarem que havíamos chegado a um ponto onde as grandes rupturas históricas haviam ficado para trás e a democracia e o capitalismo se desenvolveriam de forma equilibrada rumo a superação de suas contradições.
  Na obra de Fukuyama, grande paladino da tese do fim da história e financiado pelo próprio imperialismo, o conteúdo ideológico dessas teses fica mais evidente, porém esse espírito de época teve expressões críticas que preponderam também na esquerda e nos movimentos de contestação. Apesar de possuírem um verniz anticapitalista as teses abaixo são para nós ideologias deste período que caracterizamos como restauração burguesa, ou seja, de restauração das posições da burguesia através da derrota física e moral do movimento operário organizado da época.
1. a forma estado nação havia sido superada pelo próprio capitalismo;
2. o capital se globalizou a ponto de deixar para trás conflitos inter-imperialistas clássicos do século XX.
3.Tanto a riqueza quanto a pobreza estariam sendo distribuídas por todo o globo, o que não mais permitiria falarmos sobre países imperialistas e países semi-coloniais.
4. Não seria mais classe operária o sujeito da transformação social, mas sim a ideia de uma “multidão”.
Essas teses eram defendidas por militantes e ativistas que apresentaram uma “nova” concepção de transformação social: de que não seria necessário um momento de transição para o comunismo; nem a construção de uma forma de poder transitória que pudesse por fim à resistência desesperada dos exploradores privados de seu poder, para a possibilidade do surgimento de um novo modo de produção; da negação da necessidade de um momento insurrecional e militar para a derrubada da burguesia e da construção de um novo poder revolucionário. A estratégia que estaria no lugar seria a da construção de experiências de “contra poder” ligadas a movimentos sem identificação de classe que explorariam as brechas dentro do capitalismo. Algumas vezes estas teses chegaram ao ponto de negar a possibilidade de colocar fim ao capitalismo e se contentaram em se transformar em estratégias de vivência dentro dele próprio.
Ao conjunto dessas teses e dessa negativa da necessidade de uma estratégia para derrubar o capitalismo chamamos de autonomismo. Evidentemente, este não se formou enquanto um movimento único e homogêneo, mas sim com distintas apropriações destas. Mesmo assim compreendemos que o autonomismo pode ser considerado como a recusa do enfrentamento com o estado e a proposição de alternativas para se viver à margem dele. Este ponto é importante, pois muitas vezes o autonomismo se emaranha nas concepções anarquistas. Ainda que estes dois compartilhem a recusa de um momento de transição para atingir o comunismo entendemos que o autonomismo volta às concepções do socialismo utópico uma vez que, diferentemente do anarquismo, se recusa à destruição do estado capitalista de forma insurrecional e propõem experiências paralelas. Não há frase melhor para resumir esse conjunto de ideias do que o titulo do livro de John Holloway, inspirador do movimento zapatista, “Mudar o mundo sem tomar o poder”.
Se pela direita o espírito da época dizia que o capitalismo, por si mesmo, havia chegado ao fim da história e enterrado a possibilidade de um mundo socialista, pela esquerda propunha que fechássemos os olhos para o poder do capital, nos esquivássemos da “tentação do poder do estado”, e nos contentássemos com experiências de contra-poder. Ora, com um verniz de novidade, acusando o socialismo de uma concepção presa ao século XIX, as ideias dos anos noventa esqueceram de dizer que também compartilhavam de fundamentos de tal século: os pró-capitalistas não falaram que suas promessas eram as mesmas do período do capitalismo de livre concorrência; e os “anti capitalistas” esconderam que compartilhavam do sonho dos primórdios da história do socialismo, a utopia de ter experiências livres do estado e do capital sem destruir o capitalismo.



A crise econômica e as teses autonomistas



Entendemos que o avançar da crise econômica vem demonstrando cada vez mais os erros das teses autonomistas. A crise da União Europeia evidenciou como o estado nacional ainda é fundamento da economia capitalista e que ela própria não era um exemplo de “divisão de riqueza e pobreza entre os países” mas uma tentativa de dominação das potências imperialistas que serviu como forma de descarregar sobre as nações de menos poder econômico os efeitos da crise capitalista. É impossível compreender as crises políticas como as que ocorrem na Grécia e na Itália por fora dos conflitos entre as nações e os interesses de recolonização de algumas nações da Europa. No mesmo sentido não temos no horizonte uma diminuição dos conflitos inter-imperialistas, mas muito provavelmente o contrário.
A dificuldade dos Estados Unidos em lidar com a primavera árabe, e a crescente insatisfação com a política sionista mostrou como de fato existe uma crise de hegemonia do imperialismo norte-americano, mas que de forma alguma isto significa diluição do imperialismo. Pelo contrário, o silêncio dos Estados Unidos frente à repressão da Junta militar no Egito evidencia os interesses imperialistas sobre a região (como a manutenção do acordo de paz de Camp David com Israel).
Porém, com certeza, o maior desmentido autonomista é a tese do fim da classe operária. As fortes mobilizações na França, as greves gerais na Grécia, a fundamental importância da greve geral para a queda de Mubarak são exemplos do posicionamento estratégico que possui a classe operária para a revolução e do fato de que ela é o sujeito revolucionário decisivo para as vitórias das mobilizações.



O autonomismo e as mobilizações atuais.



De fato uma analogia muito presente atualmente é a identificação dos movimentos de juventude de hoje com o movimento “no global” e com as jornadas de Seattle do final dos anos noventa. Essa analogia mostra que ainda existe uma forte influência das ideias autonomistas entre a juventude que se levanta frente à crise econômica. Não por acaso, pensadores de muita expressão no movimento no global como Antonio Negri e Naomi Klein rapidamente tentaram influenciar o movimento dos indignados.
As mobilizações anticapitalistas apresentaram importantes pontos progressivos, mas as concepções autonomistas foram os limites deste movimento. A ideia da falência do estado nação e de que o capitalismo precisava só de um “empurrãozinho” das multidôes para transformar seus avanços de força produtiva em coletivização - tese defendida por Negri - impossibilitou que a radicalização do movimento adquirisse forma de confronto direto contra o estado e debilitou experiências de organização que pudessem levar o movimento a desenvolver estratégias que pudessem colocar em xeque os governos e negócios capitalistas.
Essas ideias ainda possuem força entre os ativistas, os indignados. Porém podemos dizer que há duas concepções que podem influir sobre o horizonte deste movimento. Uma, a autonomista, insiste que os métodos e os fins são as mesmas coisas e se recusam a ir a fundo nas questões programáticas e organizativas que possam desenvolver o movimento. Nessa concepção os acampamentos, democracia direta e os atos são experiências mas não “métodos de guerra”. Nessa perspectiva ganham força posturas anti sindicais, pacifistas e alternativistas. Onde o objetivo não é o enfrentamento com o estado, governo e instituições repressoras mas a própria mobilização. É impossível não identificar essas concepções com antiga máxima reformista “o objetivo não é nada, o movimento é tudo”.
Por outro lado é inegável que a nova conjuntura imposta pela crise econômica impõe a experiência que mostra a necessidade de ter programas claros de combate ao capitalismo, à burguesia e a seus defensores. As mobilizações na Grécia possuíram exemplos de aliança da juventude com os trabalhadores, de enfrentamento encarniçado contra a polícia e de reivindicações que iam contra os planos de austeridade se enfrentando diretamente com o governo. E o Egito que serviu de exemplo para os movimento dos indignados segue o segundo ato de seu processo revolucionário se enfrentando contra o Exército e a junta militar com o aprendizado de “que não basta o movimento de acampamento; a greve geral foi fundamental para derrubar Mubarak e será para continuar a revolução.”



O Brasil no horizonte da crise econômica e das mobilizações de massas.



Apesar da crise econômica ter atingido o Brasil de forma indireta e o discurso do Brasil potência ainda ressoar, houve experiências no país que, podemos dizer, estavam contaminadas com os novos ares. Houve um verdadeiro espírito marchista em São Paulo que possuía referência nas mobilizações da juventude internacional, Marchas “da maconha”, “da liberdade”, slut walk, e o próprio 15-O, apesar de com menos peso, possuíram algum tipo de visibilidade.
Combinado a isso tivemos greves de trabalhadores precarizados e terceirizados em Jirau, na construção dos estádios para copa do mundo e na USP que mostra potencial para que nos grandes enfrentamento futuros o Brasil compartilhe das experiências mais avançadas das mobilizações internacionais, a radicalização de trabalhadores super-explorados. Essas mobilizações possuem um conteúdo político bem profundo uma vez que questionam um dos principais pilares do projeto de país do lulismo. Desmascara o nevoeiro e falatório do Brasil potência, esconde a precarização, a repressão policial e a super-exploração contra os trabalhadores.
Porém, essas mobilizações foram fenômenos bem separados e as marchas do estado de São Paulo possuíram muito mais um conteúdo autonomista do que um espírito de radicalização e pró-operário.
Hoje o país vive um debate nacional aberto pelas mobilizações dos estudantes da USP contra a polícia. Este, ainda que enfrente uma fervorosa batalha contra a grande mídia que apresenta o movimento como de minorias e elitista, vem mostrando características políticas que podem servir de lições para o desenvolvimento das lutas de juventude no Brasil.
Primeiramente o conflito abre um debate sobre o caráter da polícia militar, uma instituição do estado capitalista. A pressa da mídia em difamar o movimento como de “elitista” tem a ver, principalmente, com a necessidade de se ofuscar a potencialidade de um fenômeno de juventude e estudantil ter demandas em comum com os trabalhadores e o povo pobre. As mentiras de que os estudantes “só querem fumar maconha dentro da USP” visa esconder da população que os estudantes que lutam contra a polícia no campus são os mesmos que denunciam seu caráter repressivo, racista e machista nas favelas e nos bairros pobres; que são os mesmos estudantes que se solidarizam com as lutas dos professores da rede pública; que são os mesmos que questionam o elitismo das universidades públicas ao excluírem, pelo vestibular, os jovens trabalhadores; que fazem parte deste movimento os mesmos que denunciam as mortes de trabalhadores terceirizados da USP que morreram, ou pela violência da polícia na favela São Remo, ou pela insegurança imposta pela precarização do trabalho.
Ainda que as mobiliações da USP não possuam o caráter tão massivo como das mobilizações do Chile ou da Europa, a amplitude do debate que ela tem gerado abre a possibilidade de sacarmos lições estratégicas para um futuro próximo: a de que a juventude não possui interesses distintos dos trabalhadores e de que não há vitória sem estes, de que a luta contra o estado e seus aparelho de repressão é parte fundamental da luta da juventude, que não se contenta com experiências alternativas (buscando brechas dentro da miséria capitalista, com instinto individualista) mas que se movimenta pela vitória, pela subversão radical da sociedade de classes.

O retorno dos quadros burgueses à “Casa” e a invenção liliputiana de um Brasil Potência frente às “oportunidades” da crise

Por Daphnae Picoli e Flávia Ferreira

(* "Liliput" é uma das diversas nações remotas do mundo em que Gulliver aporta no livro do escritor irlandês Jonathan Swift, "As viagens de Gulliver". Os habitantes desta ilha, a primeira das quais recebe o protagonista desse romance satírico, eram extremamente pequenos, dotados de tremenda impertinência e entrando em conflitos por qualquer futilidade. Suas aspirações de grandiosidade são retratadas satiricamente por Swift)




"Na época do imperialismo, é impossível abordar o destino de um país de outra forma senão tendo como ponto de partida as tendências do desenvolvimento mundial como um todo, no qual este país, com todas as suas particularidades nacionais, está incluído e ao qual está subordinado" 
Leon Trotsky


A clareza do método de análise do revolucionário russo nos servirá como iluminação para desvendar as cavidades cerebrais obscuras das "personalidades da Casa" do IE. Nos dias 07 e 09 de março de 2012, o Instituto de Economia da Unicamp teve duas palestras de início de ano que foram o retorno à "Casa" de dois quadros da burguesia formados pela "Escola de Campinas": o Prof. Márcio Pochmann, presidente do IPEA, indicado pelo PT à candidato na prefeitura de Campinas e pesquisador do Centro de Estudos do Sindicalismo e Trabalho (CESIT); e o Prof. Otaviano Canuto, chefe do departamento de "Redução de pobreza e gestão econômica" do Banco Mundial, que em sua palestra contou com a presença de professores do Centro de Estudos de Conjuntura Econômica (CECON) André Biancarelli e do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT), Célio Hiratuka e de quadros como o ex-diretor do IE e agora chefe do departamento de assuntos estratégicos do governo federal, Mariano Laplane.
Partindo de uma análise da situação internacional "de acordo com as aberturas oportunas para o Brasil", como um momento do "surgimento de uma nova ordem mundial" ou da constatação sem grandes aprofundamentos de uma "grande transformação estrutural na economia global" (ambas as definições tão profundamente fundamentadas nas "provas de imunidade à crise" dadas pelo Brasil, na mente desses profundíssimos pensadores) as duas palestras "Perspectivas do desenvolvimento brasileiro" e "Os países emergentes no contexto da crise internacional" a despeito das diferenças na abordagem, tratavam com centralidade das possibilidades que estariam se abrindo frente a crise para o Brasil conseguir alçar, pelo enfrentamento dos seus desafios -no primeiro caso- ou pelo desenvolvimento de fatores autônomos de crescimento -no segundo-, uma nova posição de “potência” no cenário internacional.


 


            Para além de uma crise do sistema financeiro, a crise atual tem se mostrado uma crise do sistema capitalista, mais especificamente desse sistema numa fase específica, a fase do capitalismo dos monopólios, do imperialismo. Nessa época histórica do capitalismo os oligopólios mundiais junto ao capital bancário são como aves de rapina ao explorarem os mercados dos países semi-coloniais e de desenvolvimento capitalista atrasado, como o Brasil. Com os monopólios cumprindo mais de um século desde sua passagem para o primeiro plano da economia mundial, determinando o ritmo das pulsações do sistema capitalista; com toda a série de processos de revolução e contra-revolução do século XX, para além das duas Grandes Guerras Mundiais, responsáveis pelas sucessivas divisões do globo através da carnificina bélica, dotando as potências imperialistas centrais nos EUA e na Europa de vastas "esferas de influência", ou seja, de lucratividade pela rapina; estendendo a mão sobre todo tipo de territórios do planeta, conseguindo-se estabelecer os padrões de extração de recursos e riquezas de todo o mundo pelos grandes monopólios, inclusive no Brasil: com tudo isso, torna-se uma falácia descabida o discurso ideológico de professores do IE de que o país poderia alcançar os níveis de desenvolvimento dos países centrais, estando o equilíbrio econômico instável do país totalmente dependente das flutuações e caprichos da economia internacional (como mostraremos abaixo), ao qual "estamos subordinados, com o qual estamos conectados e do qual não podemos escapar", parafraseando Lênin.
            A análise desses especialistas ignora completamente o poder do capital financeiro e a relação de dependência que estas potências capitalistas imperialistas possuem com os países semi-coloniais, mesmo de tipo especial, como Brasil (a relação entre um punhado de países credores e uma infinidade de países devedores). De particular e fragmentada, completamente deformada, o Prof. Otaviano Canuto chega ao absurdo de em sua palestra apresentar o caso da descoberta de minas de diamantes e exploração destas  nos países africanos Botswana e Zimbábue apontando para a diferença de "governance" entre os dois, como se o governo desses países não fosse uma marionete impotente diante das transnacionais européias que retiram o mineral às custas da escravidão e da super-exploração dos africanos, como herança dos primeiros períodos da política colonial dos estados europeus.

 E o "Brasil potência" de Dilma e do PT diante de todo esse contexto?



 


            É fato que o Brasil se encontra em uma situação particular diante da crise que assola os países do centro capitalista, assim como outros "países emergentes" como China. Ao contrário do centro e por conta da política dos países centrais, o que vemos é uma enxurrada de fluxos de capitais para o país (incrementando o volume de crédito disponível para o consumo interno, mas também a contradição do endividamento para a sobrevivência do brasileiro) que, junto à ainda substancial demanda por matérias-primas por parte da China - que através de suas exportações aos EUA e Europa cumpria na primeira fase da crise um papel contra-tendencial - com elevação do preço das commodities, sustentam o crescimento logrado desde 2004 -interrompido em 2008, com o estouro da bolha crise, mas sem recessões. A burguesia nacional tenta encontrar nesse momento singular os pilares para conseguir fazer do Brasil um país "modelo" e uma potência regional com a ideologia do "novo desenvolvimentismo", vinda desde o governo Lula e que tem como base o pensamento da Escola de Campinas a respeito do país: apontando para o "adensamento das cadeias" de agroindústria e a geração de tecnologia ligada a estes setores e o desenvolvimento de multinacionais e grandes oligopólios brasileiros.
            O fato é que além desse crescimento estar apoiado em "pés de barro" e numa conjuntura internacional favorável (os grandes investidores se entrincheiram na periferia do capitalismo como nichos de acumulação provisórios, enquanto os centros capitalistas entram numa espécie de "recessão sincronizada"), esses grandes analistas da "Casa" ignoram o caráter dependente do Brasil diante do cenário mundial, de que as empresas multinacionais tão idolatradas como Petrobrás e as multinacionais da construção civil estão preenchidas. Dilma Rousseff e o governo petista, enquanto cortam R$55 bilhões de reais do orçamento público, continuam cedendo porções de nichos de exploração para o capital estrangeiro não abandonar o país "à sua própria sorte", como a privatização dos três principais aeroportos do país, e inundar o país de investimentos lucrativos para a patronal brasileira e estrangeira, sem os quais o "Brasil potência" ruiria como um castelo de cartas, descobrindo seus "fatores autônomos" de desacoplamento da crise se desmanchando no ar. Os petistas - tendo entre seus quadros Márcio Pochmann - que tanto se gabaram de políticas anti-privatistas, escancaram as veias já abertas do país para os parasitas internacionais, sendo responsáveis, mesmo numa conjuntura econômica nacional destoante da européia, pelo mesmo remédio de austeridades aos gastos públicos.
            Uma das facetas dessa nova fase do Brasil é o imperativo mundial dos capitalistas do aumento da produtividade, para a geração de mais-valia. No Brasil, a necessidade do aumento de produtividade e de competitividade da indústria está diariamente nos jornais burgueses, e se traduz mais concretamente na aprovação, no último período, de uma Lei de Regulamentação da Terceirização que permite a terceirização não apenas de atividades meios, mas também àquelas centrais para as empresas, regulamentando a precarização e a superexploração dos trabalhadores.
            Os adeptos desse novo desenvolvimentismo e a propensão do IE/Unicamp de admirar os regimes de grande intervenção estatal esquecendo do seu caráter fortemente autoritário e anti-democrático, tem na China o grande exemplo de desenvolvimento, país que estaria agora rumando para um crescimento deslocado para a demanda interna. Contudo, a estrutura produtiva chinesa foi montada, pelas transnacionais estrangeiras e de potencias imperialistas como os EUA, para fazer desse país uma plataforma mundial de exportação de produtos manufaturados tendo como base para a competitividade de seus produtos o trabalho semi-escravo, terceirizado, da população chinesa e a grande desigualdade de renda do país, que oferece para uma camada de burocratas e novos "self made men" a ideologia da ascensão social e deixa a grande massa da população morrer nas indústrias, suicidando-se inclusive (como nos diversos casos da empresa Foxconn, produtora dos aparelhos da Apple) e no atraso do campo. A China não apenas é o exemplo de que o chamado trabalho imaterial advogado pelo Prof. Márcio Pochmann não se tornou a base de todo capitalismo mas sim a expressão nítida de como o capital financeiro internacional montou nas costas dos povos oprimidos e da classe trabalhadora dos ex-estados operários burocratizados para poder escapar duradouramente de suas contradições mais penosas. Essa produção predatória e dos grandes lucros das multinacionais é que são tão elogiadas pelo Instituto. 
            Nós, da Juventude às Ruas, partimos de um ponto radicalmente oposto. A dominação do capital financeiro acentua as desigualdades e as contradições da economia mundial, e dá ao papel da burguesia um caráter reacionário em toda a linha. O lugar histórico que o imperialismo ocupa relativamente ao capitalismo em geral é decisivo para qualquer análise séria e fundamentada cientificamente, e os "intelectuais da Casa" enumerados acima provaram que a realidade superior da economia mundial sobre suas distintas partes precisa ser um segredo ocultado convenientemente por aqueles que querem intactas as bases da economia capitalista em decadência. A Unicamp, na voz desses cavalheiros – muitos são donos de empresas terceirizadas, de cursos pagos dentro da universidade, ligados a fundações e ao próprio governo federal – fala em nome da exploração dos trabalhadores. O papel estratégico dos professores enquanto intelectuais que possam ajudar a armar a juventude contra este discurso reacionário do petismo patrocinado pelas grandes corporações,  é vital, e dentro e fora da universidade, precisa revelar o seu potencial de choque contra o estado burguês e seus intelectuais orgânicos.
            Nesse sentido, o novo desenvolvimentismo do IE cumpre um papel ideológico de amortecimento da luta de classes, ocultamento das reais condições de exploração e opressão no país e de sua ligação indissociável com as potências imperialistas. A partir dos processos da Primavera Árabe e da crise internacional, se evidencia a incapacidade da burguesia e do capitalismo de cumprirem qualquer papel progressista no mundo. Mesmo tendo se tornado a sexta economia do mundo o Brasil segue sendo o país da precarização, da perseguição aos lutadores, da violência contra as mulheres, da criminalização da pobreza e de uma das polícias mais assassinas do mundo. Nossa aposta vai no sentido inverso da desses intelectuais orgânicos da burguesia: apostamos na aliança da juventude com os trabalhadores - como os professores da rede pública em greve em todos os estados do país - para terminar de vez com as bases econômicas dos monopólios e do capital financeiro, com meios estratégicos que nos possibilitem vencer e derrubar este sistema de miséria e opressão defendido pelos quadros da Escola de Campinas!

terça-feira, 20 de março de 2012

BOLETIM DA JUVENTUDE ÀS RUAS EM MG



O FIM DO MITO DO “FIM DA HISTÓRIA”

POR BERNARDO ANDRADE, MILITANTE DA LER-QI, ESTUDANTE DE FILOSOFIA 

No último ano estudantes, jovens, trabalhadores e o povo pobre de diversas partes do mundo protagonizaram grandes movimentos. Esses processos não ocorrem por acaso. Em  diferentes níveis, mostram a enorme insatisfação da população frente os planos dos bancos centrais e dos governos da Alemanha, França, Grécia, Espanha, Portugal, e um longo etc. Esses planos implicam na retirada brutal de direitos conquistados anteriormente através de lutas para supostamente recuperar a economia combalida pelas profundas contradições do modo de produção no qual vivemos, o capitalismo.

Não por acaso esses processos há mais de um ano seguem mostrando a completa falência do discurso ideológico que, durante os anos noventa, falsamente afirmou o “fim da história”. Diziam acabados os anos de revoluções, que qualquer saída socialista estava esgotado, que só o que nos restava seria nos resignar e aceitar a vida sem perspectivas, baseada no individualismo – que, eles dizem, seria a única maneira de “se dar bem”. No entanto, a história não acabou e segue queimando esses sonhos antigos (dos burgueses e burocratas que acordados estão dormindo, vivos estão mortos...). As provas do quão anacrônico e parcial é o discurso dos capitalistas e seus governos são justamente as lutas que a juventude e os trabalhadores hoje protagonizam ao redor do mundo.

A atual crise do capitalismo que vivemos escancara a essência contraditória das relações sociais as quais nos permeiam. Relações que são determinadas pelo modo de produção que concentra e subordina todas as relações humanas em função das necessidades de reprodução do lucro de um punhado de bancos e monopólios e, portanto, é incapaz de garantir sequer as condições mais elementares para a sobrevivência do povo e da cada vez maior classe trabalhadora no mundo – muito menos suprir as necessidades, que permanentemente nos são negadas, em ter acesso à cultura, arte, saúde, educação, diversão, livre expressão, saúde e educação sexual e uma série de condições fundamentais para vivermos segundo nossas necessidades humanas, principalmente para a juventude!

A palavra Revolução se re-significa e, a seu modo, devora pseudociências que tentam fazer das relações de produção e de propriedade, que na verdade são relações históricas transitórias no curso da produção, leis eternas da natureza e da razão. É isso que está em jogo e a história - ao contrário de seus pretensos algozes que dizem que felicidade, esperteza e maturidade é aceitar as regras do jogo impostas - nos chama a participar, a decidir e a ser sujeito histórico ao lado dos que precisam e podem transformar radicalmente essa sociedade, a classe trabalhadora, a juventude e o povo explorado e oprimido.

A CRISE CAPITALISTA: QUEREM DESCARREGAR SOBRE OS TRABALHADORES E O POVO A CRISE ESTRUTURAL DO CAPITALISMO

Durante os anos noventa principalmente os capitalistas propagaram o ideal do neoliberalismo. Diziam que a queda do muro de Berlim significava o fim das revoluções e que por isso cabia uma doutrina que libertava a “livre iniciativa” das garras dos estatistas.

A doutrina econômica do neoliberalismo nunca foi o determinante nos últimos vinte ou trinta anos. Esta foi só uma forma econômica decorrente de um profundo processo político e social. Nesses anos na verdade tiveram como características essenciais a retirada brutal de direitos dos trabalhadores por via da precarização intensa das relações de trabalho. É por isso que podemos ver hoje nos corredores de nossa universidade muitos trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas que possuem salários duas vezes menores que dos trabalhadores efetivos. Hoje praticamente inexiste final de semana livre e todos trabalham pelo menos um dia. A privatização da saúde, a privatização das universidades públicas, o alto crescimento das universidades privadas e do ensino médio privado, a favelização brutal, a sobrevivência em base ao endividamento... esses são fenômenos mundiais e todos tem seus ápices nos anos 80, 90 ou 2000.

A verdade é que a tal “livre iniciativa” significa a liberdade estritamente dos mesmos grandes monopólios financeiros de antes. Os governos os deixavam cada vez mais livres para transformar em mercadorias - além de super-explorar os trabalhadores por via das terceirizações e precarização como citamos acima - alguns direitos que antes eram tidos como básicos. Só assim puderam sair de crises e contradições econômicas que se aprofundavam na década de setenta e oitenta em todo o mundo e aumentar seus lucros.
  
Mas como fizeram isso? A primeira coisa é que a própria precarização e terceirização levam à fragmentação da classe trabalhadora. Divididos os trabalhadores não conseguem se unificar e barrar os ataques a suas condições de vida. Segundo, isso só podia ocorrer por causa das burocracias sindicais, ou seja, representantes dos patrões dentro dos sindicatos de trabalhadores. As péssimas condições de trabalho e a alta rotatividade sempre favorecem a manutenção desses burocratas.

Em terceiro lugar, a repressão brutal do Estado, contra os trabalhadores precarizados, agrupados em favelas, mas não só, repressão por via da violência e da guerra da polícia – que defende os mesmos interesses dos governos e monopólios financeiros – contra os trabalhadores empobrecidos, contra a juventude e principalmente contra o povo negro. Não precisamos nem reafirmar o racismo cada vez mais evidente da polícia, mas é preciso dizer que esta serve à potencialização dessas condições precárias de vida acima citadas, assim como ao machismo, à homofobia e a criminalização das ditas drogas.

E por último a reconquista de mercados no leste Europeu e a reinserção de 1 bilhão de trabalhadores chineses ao mercado capitalista mundial.

Tudo isso fundamenta o processo social e político que, como vimos acima, só significa condições de vida cada vez piores em todo o mundo. Livre iniciativa para os monopólios burgueses explorarem e oprimirem. Pros trabalhadores e o povo significa ficar sem sindicatos, demitidos aos primeiros sinais de revolta e vivendo endividados para sobreviver. Estudando cinco anos e pagando quinze, como acontece no Chile – e por isso a juventude e os trabalhadores pararam o país no último ano em defesa de educação pública e gratuita para todos.

Porém, acontece que esses monopólios seguiram lucrando com essa situação até o momento que, como é tendência inerente ao capitalismo, esgotaram novamente sua capacidade de lucrar e, portanto acumular capital. Essa é a situação que vemos hoje no mundo. E o que propõem esses mesmos monopólios e governos que os servem? Descarregar sobre os trabalhadores a crise deles. Em números, só na Grécia, hoje isso significa “a supressão de 3,3 bilhões de euros do orçamento público, privatizações dos setores chave da economia, corte de 22% no salário mínimo, aumento de impostos e a demissão/suspensão de mais de 150.000 funcionários públicos (um quinto dos trabalhadores estatais gregos), com a extinção desses cargos, sob condições de desemprego que atingem 21% da população.”¹

NO BRASIL NÃO É DIFERENTE

No Brasil podemos ver como todos os elementos acima se expressam de maneira acentuada, como em poucos outros lugares do mundo.

“Mas o Brasil está estável politica e economicamente, não sofremos do mesmo mal!”. Diz o governo de Dilma em coro com os tucanos e tudo que há de mais reacionário no país.

No Brasil há alto índice de precarização do trabalho, de rotatividade no trabalho, de precarização da vida, com condições de moradia absurdas, com favelas cada vez maiores, com centenas de mortes todos os anos devido às más condições de moradia, com uma das policias que mais mata no mundo, como o país onde mais se morre por acidentes de trabalho no mundo.

Logo, não poderia ser diferente. A estabilidade se justifica porque aqui a exploração e opressão seguem se aprofundando! Se pode ser constatado um aumento no consumo, isso só se dá a custo do alto índice de endividamento e da precarização de todas as condições mais elementares de vida. A nova classe média que diz o governo assiste em LCD com esgoto a céu aberto. Nada mais é do que um lugar onde os capitalistas em crise ainda podem lucrar.

E isso não poderia acontecer sem o governo do PT, que se diz um governo de trabalhadores - baseado na autoridade de Lula - mas na verdade é um governo que hoje representa esses mesmos monopólios internacionais que, como o mesmo Lula sempre enchia a boca para dizer, nunca lucraram tanto no Brasil!

Além disso, a burocracia petista nos sindicatos cumpre o papel de reprodutores dos interesses dos capitalistas, como se fossem trabalhadores. E não para por aí. O PT, e seu aliado PCdoB, dominam a UNE, recebem milhões de reais do governo e dessa maneira agem no seio do movimento estudantil, segundo os interesses do governo e dos monopólios da educação superior no Brasil, auxiliados pelo PROUNI que transfere dinheiro público para as universidades privadas. Sem superar essas burocracias privilegiadas pelas relações com o governo não há como unificar a juventude, estudantes e trabalhadores para que possam se organizar conjuntamente e expressar suas necessidades reais.

Em Minas Gerais as forças do governo federal andam de mãos dadas com o mesmo PSDB que usou da polícia militar como uma força privada, em uma ação violenta e ilegal contra os moradores do Pinheirinho em São José dos Campos, e contra os estudantes da USP. A famigerada aliança “dilmasia” entre tucanos e petista na prefeitura de BH mostra como nos ataques aos trabalhadores e jovens o governo federal e estadual andam de mãos dadas dentro e fora das universidades. Esses objetivos em comum junto a setores da burguesia se expressam no despejo de moradores em função dos lucros estrondosos visados para a Copa do mundo, na repressão aos professores da rede estadual na greve do ano passado e a contínua precarização da educação.

O MARXISMO COMO CIENCIA E ARTE PARA TRANSFORMAR O MUNDO.

Esse conjunto de relações sociais concretas não são auto-explicativas nem triviais. Ainda mais, há uma série de pseudoteorias com o objetivo de naturalizar essas relações de opressão. Assim como a filosofia medieval tomou muitas das questões fundamentais da filosofia grega e as subordinou à necessidade social de justificar uma sociedade onde a Igreja cumpria um papel fundamental no poder estatal, ainda hoje também nos deparamos com uma série de filosofias e concepções de mundo que tentam naturalizar a propriedade privada e as relações de produção atuais como leis da natureza, eternas. 

Na verdade cada vez mais o ensino, a pesquisa e todas as atividades na universidade estão subordinadas às necessidades do mercado. A livre expressão, a livre troca de conhecimento, a liberdade de organização, de manifestação é constantemente estranguladas pelas tesouras do governo que destinam as verbas voltadas aos cursos que tem interesse de mercado ou, o que se constitui como uma regra nas universidades brasileiras, pelas mãos dos diretores de faculdades, professores e reitores que, apoiados no poder quase ilimitado que possuem pelas estruturas de poder completamente autoritárias das universidades, mantém relações muitas vezes estreitas com fundações e empresas privadas que atuam dentro da universidade, com centros de pesquisa privadas, e uma série de relações que se estabelecem, principalmente, pois representam o controle do governo diretamente sobre a universidade, ferindo a autonomia universitária – na maioria das universidades públicas brasileiras quem escolhe os reitores é o presidente do país ou os governadores dos estados.
               
Além disso, as universidades públicas são completamente elitistas. Sua função social não é produzir conhecimento livre e em interesse de toda a humanidade, senão que produzir conhecimento em função dos lucros de uma minoria, além de fornecer mão-de-obra qualificada para ser explorada, sem as implicações de um possível avanço na consciência crítica dos que porque ali passam. São assim desde que começaram a existir e todo ano, enquanto alguns pouquíssimos comemoram a aprovação no vestibular, milhões de jovens, principalmente negros, minorias como os índios, e trabalhadores, ficam de fora, esquecidos, filtrados por um cruel mecanismo chamado vestibular, que não por acaso aprova na maioria das vezes os que podem pagar cursinhos caros e não precisam trabalhar, com poucas exceções. Por isso achamos fundamental colocar nosso conhecimento a serviço de combater esse caráter de classe dentro da universidade. Para combater os meios pelos quais se subordina o conhecimento à necessidade de se justificar uma ordem social tão opressora – e de fornecer-lhe instrumentos científicos para aprofundar a exploração –, e coloca-la a serviço dos interesses da humanidade.

Mas isso também não é o bastante. Como mostramos acima neste texto, vivemos em um momento de crise do capitalismo. Os 700 monopólios que hoje dominam o mundo querem superar essa crise rebaixando as condições de vida da juventude e dos trabalhadores em um patamar inferior muitas vezes ao das necessidades da mera sobrevivência. Portanto, só podemos colocar o conhecimento realmente a serviço dos interesses gerais da humanidade se transformamos antes as próprias relações de produção em função das necessidades humanas e não do lucro. Isso só pode ocorrer pela expropriação desses monopólios e de sua produção pelos trabalhadores e pelo povo. Por isso achamos fundamental o resgate do marxismo, livre do academicismo e do pedantismo teoricista, por conseguinte, próximo dos trabalhadores, como ciência e arte para transformar o mundo. 

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A UNIVERSIDADE QUE A BURGUESIA QUER EM TEMPOS DE CRISE

POR RODRIGO SILVA (Filosofia)

Para não tomarmos o que acontece ao nosso redor como causa e consequência de si mesmos, uma abordagem mais ampla pode nos ajudar a entender os rumos que a universidade pública tem tomado nos últimos anos no Brasil. Primeiro é importante ressaltar que o ensino superior brasileiro tem como tônica de sua história o elitismo. As universidades públicas brasileiras todas, em maior ou menor medida, foram pensadas para formar as elites intelectuais burguesas nacionais. Por isso nunca satisfizeram, minimamente sequer, a demanda da juventude pobre, principalmente negra, em ter acesso a ensino superior público, gratuito e de qualidade. Por outro lado em um momento como o que vivemos, em que o próprio capitalismo se convulsiona em crises estruturais, e a burguesia precisa avançar cada vez mais para abarcar no mercado e não só retirar direitos trabalhistas para melhor explorar a classe trabalhadora, mas também transformar em mercadorias o que antes eram direitos fundamentais, a educação superior tem sido por todo o mundo atacada e desfigurada por este processo. As universidades, que durante boa parte do séc. XX eram na sua maioria instituições estatais – e que, em alguns casos, como nas universidades privadas americanas do começo do século, mesmo quando privadas, dificilmente visavam de alguma forma o lucro –, vêm passando por um processo de privatização, que se dá em vários níveis. Um grande pensador anticapitalista, Immanuel Wallerstein, em seu mais recente artigo, aborda a questão da seguinte forma: “O que a privatização começou a significar por todo o mundo foram várias coisas: um, começaram a haver instituições de ensino superior que se estabeleceram como negócios, com fins lucrativos; dois, as instituições públicas começaram a buscar e a obter dinheiro de doadores corporativos, que começaram a intrometer-se nas decisões internas das universidades; e três, as universidades começaram a buscar patentes para os trabalhos em que os investigadores da universidade tenham descoberto ou inventado algo, e como tal começaram a ser operadores da economia, ou seja, se tornaram parte do negócio.”¹

Processos como o acima citado têm acontecido por todo o mundo, da Espanha a Grécia, passando pela América Latina, com processos de luta se abrindo em diversos países, organizados por estudantes e professores que se contrapõe a este projeto, como na Colômbia, onde a mobilização massiva fez o governo retroceder, e no emblemático processo chileno, onde o alcance gigantesco das mobilizações pode levar os estudantes a questionar não apenas o regime universitário, como também o próprio regime político do país. Mais recentemente, na Espanha, dezenas de milhares de estudantes se puseram em greve no dia 29 de fevereiro contra medidas que visam precarizar e privatizar o ensino superior, mobilizando mais de 20 cidades, e inclusive se aliando à classe trabalhadora na luta contra as reformas trabalhistas do governo². No Brasil, com o processo aberto na USP, estudantes também se levantam contra a repressão que é necessária para que estas medidas sejam executadas. Para quem não está informado de que tipo de medidas são estas, citaremos algumas: “(...) Rodas começou, no ano passado a aplicar o Plano Diretor, uma espécie de reforma universitária que serviria para reestruturar currículos e cursos de acordo com as demandas de mercado, fechando os cursos de baixo impacto econômico e incentivando financeiramente os que se adequarem ao projeto. Isso justamente com o objetivo de fazer a USP avançar nos rankings internacionais, se adequando aos critérios produtivistas que “medem” a qualidade das universidades, e dando projeção para a universidade a partir daí. Além disso o reitor afirma claramente que os cursos que conseguirem buscar a iniciativa privada para seu financiamento serão bem vistos, se coloca como um defensor do mecenato, quando na verdade defende a privatização do ensino e do conhecimento produzidos na universidade.”³ Mas a USP não é exceção. Em todo o Brasil tem sido tomadas medidas que avançam na privatização da universidade, inclusive com processos de luta sendo abertos em diversos estados, como em Rondônia. Na UFMG, a proposta de implantação do EBSERH, que privatiza o Hospital das Clínicas da UFMG, e a inserção no capital privado nas faculdades, a valorização do conceito de “universidade de excelência”, que visa se adequar em termos de produção acadêmica para melhor se posicionar nos rankings internacionais, e atrair mais capital privado, em detrimento de aspectos fundamentais da vivência universitária, além de medidas repressoras que visam calar os estudantes e impedir que estes se levantem e se organizem para rejeitar tal ataque, são mostras de que por aqui passamos pelo mesmo processo. Já citamos acima outras implicações que tais medidas têm no regime e na vivência universitária.

Do outro lado da privatização do ensino superior, temos o avanço das instituições privadas, que hoje atendem a cerca de 75% de todos os estudantes de ensino superior no Brasil. Essas instituições em diversos casos são “conglomerados educacionais, grandes empresas, de capital aberto e com forte participação de grupos estrangeiros em seu quadro de acionistas”. Neste caso, essas empresas se aproveitam de um lado, do abandono do Estado, que não oferta vagas no ensino público na mesma proporção da demanda, e mesmo quando oferta, o faz sem a estrutura adequada, o que gera precarização no ensino, e de outro lado, das chamadas parcerias público-privadas, que na verdade engendram um processo de transferência de recursos públicos para a iniciativa privada. ProUni e Fies são medidas neste sentido implementadas pelos governos Lula e Dilma, além de benefícios fiscais. Além de precarizar o trabalho dos próprios docentes, que se veem impedidos de continuar suas pesquisas, sem estabilidade no emprego, e forçados a recorrer a jornadas de trabalho extenuantes para se sustentar, o ensino superior privado é extremamente danoso ao próprio conceito de formação universitária, pois sua função, além de obter lucros, é formar mão-de-obra qualificada sem o devido senso crítico, o que é chamado por Andrea Harada Souza de “certificação vazia”. 

Segue uma citação da autora: “A forte presença do controle corporativo em um setor essencial como a educação provoca sérias fissuras na malha social, na medida em que os desdobramentos da transferência tácita da responsabilidade do Estado para a iniciativa privada têm autorizado o funcionamento de fábricas de diplomas com certificação vazia, para uma população que, embriagada pela democratização do acesso, ainda não se sabe enganada.”

Portanto os objetivos dos governos são claros e as consequências inevitáveis. Ou seja, passamos por um processo de precarização dos cursos que não tem apelo mercadológico, ou de aprofundamento do caráter de formação de mão de obra em cursos de humanas, o que precariza principalmente os cursos de licenciatura. Por outro lado há um aprofundamento do elitismo nos cursos de excelência que abrem menos vagas ao mesmo tempo que recebem altas verbas advindas e direcionadas à iniciativa privada. Ou seja, não há democratização. Há um direcionamento ainda maior do ensino superior aos lucros e não às necessidades da grande maioria dos jovens que seguem distantes da universidade publica.

Tanto é que simultaneamente acompanhamos um alto índice de precarização das relações de trabalho dentro da universidade. Pelos corredores praticamente os únicos negros que vemos são trabalhadoras mulheres, terceirizadas que recebem muito menos que um funcionário efetivo, trabalham mais e não possuem quaisquer direitos elementares, como sindicalização.

Nesse marco, é importante perguntar; como esse processo mundial chega dentro da universidade, ao nosso cotidiano? Através dos diretores das faculdades, professores que se associam à privatização na universidade – muitos possuem vínculos ou são donos de fundações privadas ou empresas terceirizadas que estão dentro da universidade devido ao posto destes professores – e do reitor. O reitor é escolhido pelo presidente da república, os diretores das faculdades são escolhidos pelo reitor, ou seja, todos, em primeira e última instancia, são ligados diretamente ao governo. Assim se desmente a fábula do abismo entre os planos do governo e a autonomia universitária. Por isso, a estrutura de poder da universidade é tão autoritária e repressora, para que esses burocratas acadêmicos possam livremente aplicar esse plano de privatização dentro da universidade.

Enfim, esse processo de privatização só se mantém porque no Brasil existe um filtro chamado vestibular. Por não passarem no vestibular, a maioria das pessoas atribuem à suposta falta de mérito não terem acesso à universidade publica. É evidente que o vestibular só serve para que essas pessoas não percebam que o principal problema é a falta de vagas. Assim, o vestibular se constitui como um filtro de classe, que deixa os jovens pobres e grande parte da juventude negra fora da universidade.

É por esses elementos que expomos acima que afirmamos que a universidade não é uma bolha. O destino da universidade está ligado com as questões políticas externas à universidade. Portanto, para nós é importante se ligar aos que hoje estão fora das universidades públicas, lutar pelo fim do vestibular (em países como Argentina, França, Bolívia etc não existe vestibular, todos que se formam entram na universidade), pela estatização dessas universidades privadas e a serviço dos trabalhadores e do povo para, dessa maneira, identificar nossa luta por melhores condições de estudo com as demanda da juventude pobre e trabalhadora. Transformar a universidade para transformar o país. Assim como no Chile, podemos e devemos nos juntar à juventude e trabalhadores que estão fora para transformar o que hoje são lutas isoladas, em diferentes universidades, em um questionamento nacional de toda a juventude por educação pública, laica, gratuita e de qualidade para todos. 

2 – “De Valencia a Barcelona los estudiantes toman las calles con huelga estudantil”, em http://www.ft-ci.org/article.php3?id_article=5229?lang=es
3 – “Defender o movimento e avançar na luta pela democratização da universidade”, em http://www.ler-qi.org/spip.php?article3411
4 - “Da educação mercadoria à certificação vazia”, Andrea Harada Souza, Le Monde Diplomatique.

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O QUE É JUVENTUDE ÀS RUAS?

Frente aos tempos que se abrem, marcados pela crise capitalista e o desenvolvimento da luta de classes internacionalmente, coloca-se o desafio de forjar uma alternativa revolucionária que prepare a juventude para essa etapa histórica que se desenvolve. Em aliança com os trabalhadores contra a precarização do trabalho, repressão do Estado e sua polícia contra o povo negro e todos que se colocam em luta, a opressão às mulheres e homossexuais, e contra a manutenção de uma universidade para atender aos interesses dos monopólios e grandes capitalistas, surge a Juventude às Ruas!, um grupo de jovens com aspiração revolucionária composto por militantes da Liga Estratégia Revolucionária (LER-QI) e por independentes.
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JUVENTUDE ÀS RUAS EM MOVIMENTO NA LUTA DOS ESTUDANTES DA USP   O COMANDO DE GREVE COM DELEGADOS REVOGÁVEIS: FUNDAMENTAL PARA UMA DIREÇÃO DEMOCRÁTICA  DOS RUMOS DA GREVE

A luta do ano passado na USP - que tinha como eixo central a luta pelo Fora PM da USP e pelo fim do convênio USP-Polícia Militar - deixou conquistas muito importantes. Fizemos duas ocupações e construímos uma greve que, apesar de não terem sido fortes o suficiente para vencer, geraram um movimento de milhares e milhares de estudantes, que se organizaram num comando de greve com delegados eleitos nos cursos, que junto aos trabalhadores da USP e seu combativo sindicato, o Sintusp,e de um setor de professores e intelectuais, foram capazes de desgastar Rodas e a burocracia acadêmica, e de gerar um repúdio de massas na USP à PM, ao convênio e a Rodas. A luta em defesa da universidade pública e contra o projeto privatista de universidade, que ocorre há anos, está em momentos decisivos e teve no ano passado mais uma batalha muito importante.  Após a ocupação da Reitoria que ocorreu ano passado, ao contrário do que esperava a reitoria e a grande mídia, o movimento se expandiu, e numa assembleia com milhares de estudantes foi votada a greve e, por proposta da Juventude Às Ruas a construção de um comando de greve com delegados eleitos nos cursos, uma votação histórica no movimento estudantil do país, seguindo o exemplo do que há de mais avançado no movimento estudantil internacionalmente. Foram eleitos mais de 120 delegados a partir das assembleias de curso, sendo 1 para cada 20 estudantes em assembleia, mandatados democraticamente e revogáveis. Assim, os estudantes assumiram em suas mãos a greve de forma anti-burocrática, capaz de unificar todos os setores em luta para que nada senão as suas posições devidamente representadas dirijam os rumos da greve, combatendo por um lado as correntes que em momentos de ampla mobilização nos cursos tentam subordinar os espaços democráticos de decisão de amplos setores dos estudantes (as assembleias) às decisões das entidades estudantis e seus conselhos de CAs (no caso da USP PSOL e PSTU); por outro as correntes que defendem políticas vanguardistas que tendem a desconsiderar as posições dos estudantes nos cursos (no caso da USP PCO, MNN e “autonomistas”).