Por Izabel Gogone
São escandalosas as “eliminações” de 6
estudantes da USP que lutam por
permanência estudantil, justificadas pela Reitoria pela ocupação do
bloco G, onde ficava o Coseas (Coordenadoria de Assistência Social), em março
de 2010, hoje denominado “Moradia Retomada”. As declarações da USP e da mídia
em geral tendem a reverter a eliminação desses estudantes e transformá-la em
“cumprimento da lei”, numa justa punição sem fins políticos. Entretanto, essa punição é respaldada num
Estatuto da USP criado em 1972 em meio a Ditadura Militar, e que trata como
indicisplina grave passíveis de punição "promover manifestaçõesde caráter
político-partidário" e "apoiar ausências coletiva aos trabalhos
escolares" . Não se trata de fazer "cumprir a ordem" essas
e outras perseguições inserem-se num contexto de colocar a USP a serviço de ser cada vez
mais elitista e voltada para os interesses do mercado. Não só, também se
inserem no contexto de acirramento mundial da luta de classes (vide levantes na
Grécia, Tunísia, Egito, Espanha, Inglaterra, Estados Unidos, Chile dentre
outros, todos caracterizados pela massiva participação da juventude). Trata-se,
portanto, sim, de uma via de repressão política e a história recente da USP e
do CRUSP podem esclarecer com mais segurança esse fato. Vejamos.
O CRUSP
foi uma conquista estudantil histórica na qual o método de luta da ocupação
teve sempre importante papel. Construído na década de 60, sua função original
era abrigar atletas dos jogos Pan-Americanos e, prometia-se, posteriormente
tornar-se via da permanência estudantil. Como a promessa não foi cumprida, de
64 a 68 aconteceram sucessivas ocupações que o transformaram em moradia e num importante espaço de resistência política do
Movimento Estudantil contra a Ditadura Militar reunindo centenas de militantes
de esquerda. Alguns dias após o decreto do AI-5 – que marcou a fase mais
truculenta e assassina da ditadura militar brasileira – o CRUSP foi invadido
pelo Exército, expulsando e prendendo centenas de militantes muitos dos quais fazem parte da história dos
mortos do regime. Isso aconteceu em 17/12/1968, exatos 43 anos antes da
publicação das eliminações desses seis estudantes. Mais do que uma ironia
histórica, isso só demonstra o quanto as raízes do autoritarismo ainda estão
profundas no estado brasileiro e começam a brotar nos nichos de maior
contestação política.
A partir
de 1979, quando se inicia a abertura política do regime, reiniciaram-se as
ocupações que possibilitaram a utilização do CRUSP como moradia estudantil ATÉ
HOJE. Outras várias ocupações aconteceram (a história que a USP quer esquecer
pode ser consultada em sites como http://ocupauspcontrarepressao.blogspot.com/2011/10/moradia-retomada-usp-1-ano-de.html)
até que, em março de 2010, estudantes ocuparam o térreo do bloco G. Surgia a
Moradia Retomada. O objetivo da ocupação
era retomar este espaço conquistado com muita luta em meio a repressão militar,
que foi arbitrariamente invadido pela COSEAS, que cumpre um papel de
perseguição e vigilância contra os estudantes e para reivindicar mais
vagas para permanência estudantil e disponibilizar, imediatamente, o espaço
para essa finalidade. Um ano depois, residem na ocupação cerca de 40 pessoas
que resistem contra a pressão política e jurídica (reintegração de posse) que a
reitoria impõe.
Apesar de
ganhar o maior destaque da mídia, as “eliminações” fazem parte de uma histórica lista de perseguições da
Reitoria à ativistas e lutadores que vão desde a demissão do dirigente
do SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP), Claudionor Brandão, em
dezembro de 2008, até a polêmica assinatura do Convênio com a PM e a
reintegração cinematográfica da reitoria que culminou com a prisão de 73
estudantes e trabalhadores neste semestre, além
de vários processos administrativos contra os lutadores por conta de greves e
ocupações anteriores. Essas são táticas para calar o movimento
estudantil e de trabalhadores, impor o medo e o isolamento político dos que
lutam.
Há muito
mais para se falar: os critérios injustos de seleção de moradores do CRUSP, as
imposições para não se perder a vaga, os abusos machistas que são de
conhecimento do Coseas que nada faz, a espionagem de moradores, a punição de
professores e trabalhadores que denunciam irregularidades na universidade, o
embasamento legal das eliminações, que se pauta em normas da época da ditadura.
Hoje, os
estudantes da USP têm sobre os ombros o peso de uma universidade construída no
individualismo meritocrático de “excelência”, em que lutar significa, como disse
um dos “eliminados”: “O reitor, em uma decisão, acaba com a minha vida
acadêmica e profissional.” E, obviamente, essa decisão tem o intuito de “dar o
exemplo” dentro e fora da USP. Por isso mesmo temos um papel histórico de
reverter essa decisão, bem como as outras medidas de repressão aos que lutam,
como tática fundamental de fortalecer o movimento estudantil e de
trabalhadores. Permanecer inerte, neste momento, significa deitar por terra
todas as conquistas democráticas alcançadas por lutadores de antes e de hoje,
bem como assumir que a usp seja e continue a ser uma universidade elitista,
racista e excludente.
PELA REVOGAÇÃO IMEDIATA DAS 6 “ELIMINAÇÕES”!
PELA REVOGAÇÃO DE TODOS OS PROCESSOS, ADMINISTRATIVOS E CRIMINAIS, CONTRA OS 73 ESTUDANTES E TRABALHADORES PRESOS!
RETIRADA DE TODOS OS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS E CRIMINAIS CONTRA ESTUDANTES E TRABALHADORES!
FORA PM DA USP, DOS MORROS E FAVELAS!
PELO FIM DO VESTIBULAR E ESTATIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES PRIVADAS!
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