sábado, 5 de novembro de 2011

SEJAMOS O QUE DIZEM DE NÓS: O MELHOR DE 1968 E UMA CORRENTE DE CENTENAS LIGADOS AOS TRABALHADORES E O POVO!


Por Leandro Ventura

Mantenhamos nossas bandeiras altas e ao vento: dizemos o indizível!

Em cada editorial de jornal, programa de rádio, e nas páginas das grandes revistas do país, os estudantes da USP em luta são atacados. Acusados de baderneiros, anti-democráticos, sem causa ou de obtusos que seriam contra o avanço “de uma das melhores coisas que aconteceu à humanidade” que foi “a criação da polícia” [1]. Os estudantes da USP, junto ao combativo SINTUSP e intelectuais verdadeiramente críticos resistem e mantém suas bandeiras ao vento e sua ocupação da reitoria da universidade.

O massacre da mídia tem razão de existir. Os estudantes da USP se mostram obtusos e audazes. Desafiam o que tornou-se senso comum. Desafiam a polícia, desafiam a necessidade de existir polícia não só na USP mas também nos morros e favelas. Isto fez Carlos Alberto Sardenberg, comentarista da rádio CBN da Rede Globo, gastar seus minutos em 3/11 a comentar a “confusão dos estudantes da USP” que são contrários tanto a polícia nas universidades como as UPPs no Rio de Janeiro. Sardenberg fala que a confusão dos estudantes é confundir “polícia política, aquela que reprime manifestações políticas, com aquela civil que existe para garantir liberdades, garantir o direito de ir e vir”.
Confusão é a que faz o senhor Sardenberg. Justamente esta liberdade política é que os trabalhadores, os pobres, os negros nas favelas com UPPs afirmam que não existe graças à polícia. Existe toque de recolher, impedimento a reuniões, manifestações e até churrascos. Toda polícia é política, nos morros e periferias ou na USP [2].

A Veja entre todos os meios de comunicação é o que coloca o desafio mais claro aos estudantes da USP. Ela os chama de “rebeldes sem causa” e que estariam “estacionados em 1968” [3]. É com todo o orgulho que devemos assumir a pecha. Os estudantes franceses diziam em 68, “sejamos realistas, peçamos o impossível”. Os jovens da Juventude às Ruas, composta por militantes da LER-QI e independentes, tem contribuído neste mesmo sentido, ao levantar ao vento as bandeiras de fora polícia das periferias e favelas. Estamos dizendo o que é indizível em nossos dias: somos contra a polícia. Exigimos o impossível, somos 68!

Um grande debate de estratégias: a VEJA está correta, trata-se exatamente disto

“Os manifestantes pareçam decididos a acreditar que continuam estacionados em 1968. Ao mesmo tempo em que o retrocesso pairava sobre a USP, a Universidade de Brasília (UnB) dava um exemplo de evolução. Nesta quinta-feira, a Aliança pela Liberdade, única chapa que não era composta por militantes profissionais, alimentados com recursos de partidos políticos, venceu a eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). As propostas da nova diretoria passam longe da reforma agrária, da destruição do capitalismo global ou da defesa de Fidel Castro. Suas bandeiras são o aumento da segurança, o incentivo a parcerias com fundações privadas e a melhoria na gestão da burocrática instituição de ensino.”, Veja, matéria já citada.

Para a Veja existem os que estão em 68 na USP, nós, com todo o orgulho e aqueles que são modernos, privatistas, defensores da polícia nas universidades e nos morros e favelas que ganharam o DCE da UnB. Não há meio termo. Tudo que está entre estas duas estratégias e estas duas perspectivas de classes é passageiro. Esta polarização de estratégias, de exércitos opostos tende a ser crescentemente a realidade em meio à crise econômica internacional e a necessidade imperiosa da burguesia em fazer de suas instituições de ensino e conhecimento se submeterem aos ditames da valorização do valor, ou, contrariamente tornarem-se barricadas na luta pela completa transformação da sociedade. Em cada país europeu, no Chile, na Colômbia, este embate toma as ruas e entra sala de aula adentro. Como diziam os franceses de 68 em outro slogan famoso “Do questionamento à universidade de classes ao questionamento da sociedade de classes”.

Tudo que não está nestes dois pólos tende a deixar de existir. O PT e PCdoB são implementadores do mesmo projeto dos “liberais” da UnB. Defendem regularizar as universidades privadas, não defendem sua estatização, não defendem a educação pública como um direito de todos através do fim do vestibular. Só discursam diferente. À esquerda do governismo no movimento estudantil temos a esquerda moderada representada sobretudo pelo PSOL e PSTU.

A esquerda moderada contribui ao fortalecimento da nossa antípoda, a direita racista, elitista, privatizadora e militarizadora das universidades e favelas. A esquerda moderada seja pela sua disputa de aparatos como DCEs e CAs como fins em si mesmos (UnB) abre caminho à direita, ou seja por sua atuação prática como fura-greves na USP onde faz o mesmo.

Existe uma estratégia de democratização radical da universidade através do fim do vestibular, um movimento estudantil que se veja como parte dos trabalhadores e do povo lutarem contra a burguesia e seu Estado e por isto se ergue contra a polícia nas universidades e favelas, e o outro que é funcional a burguesia e seu Estado e abre a universidade ao mesmo.

O centrismo do PSTU é um fenômeno transitório. A realidade sempre exige que se coloque num lugar ou outro, com os reformistas ou com os revolucionários. Furar-greve ou ser linha de frente em sua massificação, combatividade. Sua atuação na USP é inequívoca. Formou um bloco com a congregação da FFLCH e o PSOL contra o movimento. A congregação, para quem não conhece, é um órgão absolutamente anti-democrático, de diatadura dos professores, que deixaria Luís XVI e seu “Estados Gerais” parecerem uma coisa de jacobinos. O PSTU colocou seu maior intelectual, Ruy Braga, para ser interlocutor da proposta de desmonte da luta contra a polícia, feita pela congregação a pedido de “lideranças estudantis” como diz um documento da reitoria. Defenderam como vitória suprimir a luta pela retirada da polícia para colocar no lugar colocar uma comissão para “melhorar o convênio”. Querem reformar o irreformável. E querem como parceiros para reformar o irreformável o Núcleo de Estudos contra a Violência (NEV). O NEV é um parceiro-entusiasta das UPPs e porta-voz dos ataques aos que lutam pela democratização da universidade. Dois exemplos: em 2007 os professores da FFLCH deste NEV soltaram nota pública contra esta mesma congregação pela mesma defender (em meias palavras) a ocupação daquele ano e estiveram na linha de frente dos processos que levaram a inconstitucional demissão do dirigente sindical Claudionor Brandão.

O centrismo mostrou-se o agente do reformismo. O reformismo mostra-se como o que é: um agente da burguesia no movimento operário. O PSOL com sua entrega de estudantes a polícia como ocorreu na USP, mostra que sua escola não é a da Rosa Luxemburgo mas do Noske que dirigiu seu assassinato. Esta é sua escola, mas diferente do velho partido social-democrata alemão estes agentes da burguesia não querem sequer ser um partido do movimento operário, mas um partido da “opinião pública” que vota “em candidatos necessários” como corre seu slogan carioca “PSOL: um partido necessário”. Na USP concretizaram na luta de classes a política de reforma da polícia que defendem – política esta que exige na prática a defesa da polícia e sua ação consciente para garantir o império da lei.

Esta linha de defesa da polícia custa o avanço do movimento na USP mas também custará a vida de sua principal figura pública, Marcelo Freixo. A confiança na polícia o matará. Quem defende sua vida são policiais, que por omissão ou ação tirarão sua vida. As forças policiais são constituidoras das mílicias e infiltradas até a medula pelas mesmas. A morte de Freixo será uma derrota a todos que lutam por direitos humanos no Rio de Janeiro e no país (compartilhando ou não sua política de reforma da polícia e do Estado). Pairará o medo a todos que defendem os direitos humanos nos morros e favelas. Se um deputado, branco, escolarizado com seguranças armados for morto o que poderá ser feito com sem-terra no Pará? [4]

O PSOL com suas posições sobre a polícia e atuação na USP se constitui como uma burocracia. Uma burocracia, que terá inclusive seus mortos. Seus métodos e suas ligação de fura-greves com a reitoria exigem sua derrubada – não são reformáveis (não falo de um ou outro militante) devem ser derrubados. Eles estão mortos ou infelizmente contribuirão para que militantes – inclusive os deles morram – nós defendemos os vivos e vida!

A batalha das batalhas: construir um forte movimento da juventude universitária ligada aos trabalhadores e ao povo

Na UnB e na USP se mostra claramente quais são as necessidades para construir um movimento realmente radical da juventude universitária. As universidades públicas no país são completamente elitista. Com cotas raciais ou sociais ou não, uma ínfima parcela da juventude entra. Com Sisu ou vestibular temos um filtro social. Depois do filtro social um rito de passagem para a elite. Seus trotes obedecem todas as formas clássicas descritas pela antropologia para os ritos de passagem. Todo rito de passagem tem um momento de ruptura para depois ter um de união, onde aqueles que passam pelo mesmo emergem em um novo status. Primeiro são humilhados os brancos de classe média, para depois emergirem, limpos e doutos, não mais como jovens filhos da classe média e a burguesia, mas como doutores, donos da casa grande em meio à senzala geral.

Num sistema universitário como este ou reproduzimos seu elitismo ou somos porta-vozes de sua transformação radical, questionando esta universidade elitista e racista para questionar o capitalismo fora dela também. No caminho desta luta é preciso superar a esquerda moderada mas também estratégias pretensamente radicais mas que são contrárias a um movimento estudantil ligado aos trabalhadores e ao povo. Todos aqueles grupos que não combatem a esquerda moderada e tratam táticas (meios) como uma ocupação como um fim em si mesmo, ou um modo de vida alternativo, são, querendo ou não, funcionais a manter a universidade elitista. Levantar fora polícia da USP sem levantar fora polícia dos morros e favelas é manter os privilégios da elite, é preciso a partir do questionamento à universidade de elite combater todo o elitismo.

Nós precisamos e podemos ter um discurso muito claro para construir um movimento de centenas: “quer combater a polícia, a burguesia e a direita. Quer combater a esquerda moderada (PSOL, PSTU) que nos impede de combater a burguesia e seu Estado, vê que a ultra também impede a criar um movimento massivo de estudantes que se coloque na frente das reivindicações de todo o povo, construamos junto uma fortíssima juventude ombro a ombro.” Nossos objetivos e nossa moral são do melhor da história do movimento estudantil de nosso país. Como diz a Veja – somos 1968 – aspiramos a ser, e superá-lo estrategicamente.

Somos 1968!

Somos 1968 na combatividade da Rua Maria Antônia em São Paulo. Onde os estudantes junto a intelectuais combativos tomaram a universidade e mudaram de cabo a rabo seu funcionamento, aboliram as cátedras, mudaram os currículos e ergueram barricadas para se enfrentar com o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) que tinha seu bunker do outro lado da rua, no Mackenzie. Somos 1968 da Aliança Operária-Estudantil de Osasco e Contagem que expulsou os pelegos dos sindicatos e a partir daí, do movimento operário, teve a audácia de desafiar a ditadura.

Somos 1968 da juventude carioca que não aceitou mais um morto por protestar e buscou hegemonizar a classe média contra a burguesia, buscou as massas, como na Marcha dos Cem Mil no Rio. Somos e seremos mais que 1968. A história avançou. A polarização de estratégias em 1968 era entre o pacifismo de um PCB a procura de uma burguesia progressista, democrática, e diversos guerrilheirismos guevaristas ou maoístas, que queriam por sua vontade isolada fazer uma revolução, e que no caso do maoísmo levava com outros métodos ao mesmo objetivo de um PCB, uma revolução burguesa.

Junto da influência das distintas correntes stalinistas faltava uma política que buscasse as massas, mas fosse revolucionária. O movimento de hoje supera o machismo e a heternormatividade imperante naqueles tempos, onde tudo isto era vendido como “cultura proletária” por estas correntes stalinistas. As questões da sexualidade e do modo de vida estão na ponta da língua, no palpitar dos corpos e nos gritos na rua. A história também mudou com a restauração do capitalismo há muita desconfiança aos partidos e aos socialistas. Mas tampouco o capitalismo triunfou. Mesmo com mais de 1 bilhão de operários novos a ser explorados, o capitalismo entrou em uma crise histórica comparável somente a de 1929.

Somos e seremos mais que 68 pois a crise é outra em nossa época do que aquele que acontecia após o boom do capitalismo no pós-guerra. Nossos tempos nos exigem uma resposta muito superior! Somos e seremos mais porque reivindicamos uma estratégia que esteve ausente em 68 no Brasil como alternativa, o trotskismo. Uma estratégia para que o movimento de massas do proletariado se coloque de forma independente de todas correntes da burguesia e assim possa hegemonizar o conjunto dos oprimidos contra a burguesia e seu Estado.

O combate na ofensiva exige que a construção seja uma prioridade

Nós combatemos na ofensiva. A burguesia na defensiva. Ela quer manter seus postos conquistados. O proletariado, já afirmavam Marx e Engels no Manifesto Comunista, não tem nada a perder fora suas próprias correntes. Esta é forma geral da guerra, independentemente de tal batalha ser defensiva, tal ofensiva, defensiva tática, de campanha, etc.
A ofensiva, ensina o grande teórico prussiano da guerra, Clausewitz, é a forma de guerra de quem tem objetivos maiores – esmagar o capitalismo, libertar a humanidade para que os indivíduos possam se realizar – mas que também implica os maiores riscos. Na ofensiva nos afastamos dos postos de comando, das linhas de transmissão, alimentação. A fricção da máquina aumenta e com isto seus riscos.

A forma de combate na ofensiva do proletariado e da juventude revolucionária que quer ligar-se a ele na prática e na estratégia, deve recuperar o melhor das ofensivas dos exércitos burgueses em ofensiva.

Tocqueville, um nobre que elogiava os EUA por seu uma democracia aristocrática e criticava duramente a França Revolucionária, escrevia chocado como mesmo pilhando o mundo o exército napoleônico crescia e avançava (era uma revolução política que assumia formas de revolução religiosa em sua palavras em O Antigo Regime e a Revolução). Ele queria dizer que ele ganhava adeptos conforme avançava mesmo que tinha que se alimentar no caminho – se afastava de suas linhas de transmissão, etc.

A forma do proletariado e de uma juventude revolucionária que quer se ligar aos trabalhadores avançar neste mesmo sentido é colocando como eixo em sua atuação a construção! Nossos passos à frente não podem ser com as mesmas forças, mas com forças multiplicadas. Somar combatentes para entrar em maiores e novos combates!

À grandes batalha de construir um movimento de centenas de estudantes universitários ligados aos trabalhadores e o povo! Precisamos ser o que a VEJA nos quer. Sejamos 1968 e o superemos!



[1] Hélio Schwartsman “Polícia e civilização”, editorial da Folha de São Paulo de 2/11.
[2] Para mais sobre o cerceamento de direitos civis elementares nas favelas com UPPs veja entre outros artigos, este “Tal como nos morros e favelas a juventude não tem nada a ganhar com a presença da polícia nas universidades” - http://ler-qi.org/spip.php?article3183.
[3] Os tumultos causados pelos rebeldes sem causa da USP, 28/10/11, ver em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-tumultos-causados-pelos-rebeldes-sem-causa-da-usp
[4] Para mais sobre esta discussão ver “O Estado quer Marcelo Freixo e outros lutadores mortos! Por um campanha dos sindicatos, DCEs, movimentos populares! Disponível em: http://www.ler-qi.org/spip.php?article3184

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